quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

TUCANOS TERÃO QUE ESVAZIAR A LAVA-JATO




Tucanos terão de desinflar a Operação Lava Jato?


Por Luiz Carlos Azenha

"O enterro eleitoral do PT, como escrevi anteriormente, aconteceu no dia 25 de novembro. Foi quando se materializou, nos telejornais, o áudio de Delcídio Amaral. Até então, as denúncias contra o partido eram baseadas em delações premiadas — fica sempre a dúvida se o dito é verdadeiro ou [o que] serve a propósito político.

Por mais que se diga que Delcídio era um petista emplumado, tratava-se do líder do governo Dilma no Senado. Envolvido numa trama capaz de capturar a imaginação de qualquer um: o poderoso petista armando para tirar uma testemunha importante do País.

Desde aquele dia, estava claro que o processo de impeachment contra Dilma Rousseff iria avançar, mais cedo ou mais tarde. Aparentemente, o PT decidiu antecipá-lo com o objetivo de escapar do pior da crise econômica, previsto para o primeiro semestre de 2016.

A oposição, que namorou Eduardo Cunha desde que o peemedebista se elegeu presidente da Câmara e rompeu com o PT, primeiro afastou-se dele, para retomar o namoro em seguida.

Em breve, saberemos qual foi o acordo de bastidores.

Meu palpite: com a possibilidade no horizonte de um governo Temer, não será aberto processo contra Cunha no Conselho de Ética. Duvido que os tucanos votem para preservá-lo, mas vão trabalhar no convencimento de outros integrantes do Conselho para fazê-lo em nome deles.

Em seguida, Cunha renuncia à presidência da Câmara, mas mantém o mandato e a imunidade parlamentar.

Assim, fica preservado o processo de impeachment dissociado de um sujeito sob suspeita de ter cometido chantagem, obstrução de Justiça, de ter vendido emendas parlamentares a um banqueiro e esconder dinheiro na Suiça.

O impeachment de Dilma com os votos do PSDB significa que os tucanos seriam co-responsáveis pelo governo Temer — e, portanto, teriam de participar de alguma forma da tal “união nacional”.

Trata-se, por trás das palavras bonitas, de preservar os interesses do mercado num quadro de crise econômica internacional.

Em todos os outros países do mundo onde as políticas neoliberais foram acionadas, depois da crise de 2008, houve transferência de renda de baixo para cima para cobrir o rombo aberto pelos banqueiros e sua pirâmide de derivativos.

No Brasil, isso foi de alguma forma mitigado — durante os governos Lula e Dilma — pelos programas sociais, pelos aumentos do salário mínimo e pelo investimento público via BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica.

Para adotar "Uma Ponte para o Futuro", o programa econômico de Moreira Franco elogiadíssimo pelos jornais, dilapidando direitos garantidos pela Constituição de 1988, peemedebistas precisam já de algo que os une umbilicamente aos tucanos: entregar o pré-sal.

Não é por acaso que Delcídio Amaral estava com eles no Senado!

Privataria 2, o Retorno


O "regime de concessão", ao qual eles pretendem voltar, significa que a União receberá injeções de dinheiro das transnacionais de petróleo sempre que houver um leilão!

Vai ter liquidação de pré-sal, independentemente dos interesses de longo prazo dos donos do patrimônio público.

O futuro será liquidado agora em nome da sobrevivência política.

Os lucros de longo prazo do pré-sal serão todos transferidos às transnacionais, que finalmente terão acesso a novas reservas — hoje, em todo o mundo, elas são defendidas com unhas-e-dentes pelas estatais, a não ser nos países com a soberania enfraquecida, como o México.

Recursos naturais representam sempre uma considerável injeção de capital num sistema financeiro falido, mantido solvente graças ao FED e ao Bundesbank.

Essa é a mesma lógica que guia o avanço sobre o petróleo pesado da faixa do Orinoco, na Venezuela, com o apoio dos inocentes úteis de sempre e dos países consumidores, que precisam de combustível barato para manter a paz social e suas economias competitivas — Estados Unidos, China, Japão e europeus.


ESVAZIAR A "LAVA-JATO"

Além de unidade sob "Uma Ponte para o Futuro", que inclui a entrega do pré-sal, tucanos e peemedebistas convergem noutro ponto: precisam da estabilidade política que Aécio Neves e sua turma negaram a Dilma desde a derrota de 2014.
Para isso, é preciso frear, bloquear ou pelo menos tirar os holofotes da Operação Lava Jato. É aí que entra Gilmar Mendes e uma maioria constrangida a votar com ele no Supremo Tribunal Federal.

Minha previsão é de que, em breve, teremos de volta denúncias contra o Estado policial. Moro será reduzido ao papel de apenas mais um juiz federal. A República de Curitiba será desmontada.

Sim, é constrangedor saber que quem corre o risco de sofrer impeachment é a fiadora da Operação Lava Jato, que reconduziu ao cargo o procurador Rodrigo Janot e deixou a Polícia Federal agir à vontade.

O problema é que, de todas as delações ainda não extraídas, as mais perigosas para uma eventual coalizão PMDB/PSDB seriam as do empreiteiro Marcelo Odebrecht, do banqueiro André Esteves e do senador Delcídio do Amaral.

Como se viu na gravação de Delcídio, ele era um homem “pluripartidário”, tendo se relacionado com os delatores Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa quando os três trabalhavam na Petrobrás ainda no governo PSDB de Fernando Henrique Cardoso. Delcídio não é apenas o homem-bomba do PT, mas do compadrio que desconhece fronteiras nos bastidores das maracutaias.

No mundo dos empreiteiros e no das finanças, ninguém sabe mais que Odebrecht e Esteves.

Quando fala em “pacificação nacional”, Temer está tratando justamente disso, embora jamais vá admití-lo em público: a Lava Jato é fonte de tensão permanente, especialmente com o “japonês bonzinho” vendendo informações às revistas.

A fonte precisa secar, já que o próprio vice-presidente [Temer] foi citado nas delação de Júlio Camargo como beneficiário do esquema na Petrobrás, além de Eduardo Cunha e do presidente do Senado, Renan Calheiros, todos do PMDB.

É condição obrigatória para o mandato-tampão de Temer, se vier a acontecer, ter tranquilidade no front político e fazer as reformas econômicas prometidas aos banqueiros. Tranquilidade incompatível com o hiperativismo do juiz Moro e dos procuradores de Janot.

Se Dilma for derrubada — o que, em si, é um grande SE –, eles já terão prestado os serviços desejados: afastar o PT do poder.

Janot cumprirá o que resta de seu mandato de dois anos e será substituído por um novo engavetador-geral. Moro poderá, enfim, pendurar as capas de revistas em seu escritório e desfrutar do título de homem que “reformou” o Brasil — com Temer na presidência, Renan no Senado e Cunha respondendo a um interminável processo na linha daqueles do “mensalão tucano”.

Resta acompanhar, ao longo do processo de impeachment, o comportamento dos tucanos que pretendem disputar o Planalto em 2018.

Geraldo Alckmin, favorito se Dilma permanecer no poder, vai ter de duelar com Aécio Neves para se posicionar da melhor forma possível junto a Temer.

José Serra, correndo por fora, poderia ser o candidato a “arrumar” a Economia sob o PMDB, usando em proveito próprio o dinheiro do pré-sal, numa tentativa de imitar o efeito-Real que Fernando Henrique Cardoso surrupiou de Itamar Franco.

A mídia, agora ocupada em vender o impeachment, suspendeu toda a especulação sobre o cenário futuro num eventual governo Temer. Não interessa a ela introduzir a interrogação gigantesca que existe. E se…? Por isso, é preciso fazê-lo.

José Serra, por exemplo, disse à "Folha" que não vê diferença significativa entre o pós-Collor e um eventual pós-Dilma.

A direita faz de conta que o Brasil não se transformou, que não houve junho de 2013, que milhões de brasileiros não se acostumaram a um novo padrão de consumo e que será impossível cortar em Saúde e Educação eternamente para pagar juros aos bancos.

Certamente, contam com o poder da "Globo" e da nova lei antiterror, apresentada pelo governo Dilma, apoiada pelo Delcídio e modificada para se tornar ainda mais assustadora, pelo tucano Aloysio Nunes.

Mas, como atestou a repórter da Globo que aparece no vídeo abaixo, surpresas sempre podem acontecer…




FONTE: escrito pelo jornalista Luiz Carlos Azenha no seu site "Viomundo"  (http://www.viomundo.com.br/politica/tucanos-2.html).

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