"Ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella defende que a presidenta Dilma Rousseff deve vetar o projeto que altera as regras de participação da petroleira na área do pré-sal. Em entrevista a "O Estado de S.Paulo", o geólogo avalia que remover a obrigatoriedade da estatal como operadora dos futuros campos de exploração seria "o fim da picada".
“Desistir do conteúdo nacional é o fim da picada. Temos uma riqueza, descoberta em território nacional por empresa nacional. Chega na hora de gerar empregos, você vai levar para fora?”, diz Estrella, que comandou a equipe responsável por descobrir as reservas do pré-sal.
De acordo com ele, a Petrobras cumpriu com a missão no processo de transformar o Brasil em um país independente, com autonomia em energia, fertilizantes e petroquímicos. "Fizemos um grande trabalho”, afirma.
Questionado sobre os impactos da "Operação Lava Jato" nas conquistas da empresa, ele afirmou: "Se afetou, foi do ponto de vista emocional. O pré-sal é uma realidade concreta. Não há como dizer: não temos mais o pré-sal por conta da corrupção. A empresa continua tendo sustentação de longo prazo. E tem uma coisa que só a Petrobras tem: a hegemonia do mercado brasileiro".
O geólogo lembra ainda que todos os méritos são da petroleira brasileira. “Foi a Petrobras que investiu. Vai no Alto Amazonas. Não tem a Shell lá, tem a BR. Essas empresas só vêm para o filé mignon", disse. Segundo ele, “uma empresa privada não faria o que a Petrobras fez".
Ao detalhar todo o processo que levou à descoberta do petróleo em águas profundas, Estrella opina a importância do caráter público da companhia. “Uma empresa privada não faria o que a Petrobras fez".
Segundo ele, há uma pressão constante sobre os trabalhos da estatal, sobretudo desde a descoberta do pré-sal. "O cônsul geral norte-americano no Rio parabenizou o trabalho, mas, falando em nome de empresas estrangeiras, questionou a operação única, fazendo o trabalho dele de forma absolutamente legítima. A descoberta mais importante dos últimos 50 anos na indústria petrolífera mundial e os caras ficarem de fora?”, diz o ex-diretor.
Ele também condenou a abertura de novas licitações de modo apressado em um momento no qual há queda vertiginosa do preço dos barris de petróleo no mundo. "Temos que gerenciar o pré-sal a longo prazo. Não interessa, com o barril de petróleo a US$ 30, exportar 1 milhão de barris. Para que abrir licitações agora? O país tem uma situação confortabilíssima de soberania energética. Isso não pode ser medido monetariamente. É um valor de sustentação do país", opina.
Ele negou que os preços internacionais baixos inviabilizem o pré-sal. Segundo ele, com um custo de produção baixo, a Petrobras ainda tem uma vantagem competitiva no mercado internacional.
Em uma de suas respostas, Estrella deixa claro que é preciso separar o joio do trigo, em meio às denúncias de corrupção. "As empresas têm de ser preservadas. Nas empresas, estão nossos engenheiros, o conhecimento, a tecnologia. Os Estados Unidos, em 2008, não destruíram suas empresas".
Para o geólogo, a estratégia adotada pela Petrobras para enfrentar a crise – pautada pela venda de ativos – é precipitada. Ao invés disso, ele defende o alongamento do perfil da dívida e os avanços nas operações com a China. "Dinheiro existe. A solução é mais política. Nossa base de sustentação está no mercado interno. Partir para a venda de ativos onde somos hegemônicos é precipitado. Não dá para decidir muita coisa em cima de uma crise", complementou.
A crítica à venda de ativos e a defesa da estratégia de alongar a dívida também têm sido feitas pelos petroleiros. Em entrevista ao portal "Vermelho", o diretor de Administração e Finanças da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Aldemir Cetano, sugeriu ainda renegociar a dívida, convertê-la para reais e capitalizar a empresa – inclusive com recursos dos bancos dos BRICS e da China".
FONTE: do Portal Vermelho, com "O Estado de S.Paulo" (http://www.vermelho.org.br/noticia/277045-2)
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