sábado, 7 de fevereiro de 2009

NACIONALISMOS E PROTECIONISMOS

Esta semana (5), o jornal Folha de São Paulo publicou o seguinte artigo de Vinicius Torres Freire:

Onda protecionista no mundo rico é improvável, mas tudo depende da gravidade da crise e do nível de tumulto político

“A União Europeia piscou. Piscou para a revolta de trabalhadores britânicos contra a contratação de italianos e portugueses para trabalhar na obra de uma refinaria francesa na Inglaterra. A UE pode permitir novas "interpretações" nacionais da lei que permite o livre trânsito de trabalhadores no bloco europeu. Ameaça vetar aqueles pacotes de ajuda a empresas que tenham cunho protecionista, mas quer que o auxílio oficial proteja "empregos europeus". Uma no cravo, outra na ferradura. A UE não quer deflagrar uma guerra protecionista e, ao mesmo tempo, joga migalhas para os sindicatos, a fim de evitar mais tumultos nas ruas.

Nos EUA, Barack Obama demorou a criticar a cláusula "Buy American" que o Congresso enfiou em seu pacote -só o fez após protestos globais. Países da Europa ocidental são acusados de "persuadir" suas empresas a fechar fábricas e postos de trabalho no exterior antes de o fazerem em casa, além de estimularem campanhas pelo produto nacional.

Mas hoje parece improvável que os países ricos cavem novas trincheiras nacionalistas. Primeiro, porque as grandes empresas do mundo são transnacionais -seus interesses não têm fronteiras. Segundo, o "establishment" mundial, político, intelectual e empresarial é todo "globalizante". Terceiro, está fresca a lição do desastre político e econômico causado pelo nacionalismo dos anos 1930. Quarto, uma onda protecionista é um perigo político: ameaçaria os pactos econômicos (OMC, União Europeia etc), os quais, embora precários, colocam certa ordem nas disputas internacionais.

Por outro lado, tais argumentos são demasiadamente racionais, o que não é bem o caso da política real. De resto, não levam em conta o risco de uma desgraça econômica ainda mais profunda que a já prevista. Isto é, desconsidera que a sobrevivência das empresas venha a depender ainda mais de governos, o que poderia levá-las a abrir mão do seu "globalismo".

Enfim, o desemprego pode provocar distúrbios sociais com consequências políticas importantes -alguém pode querer abafar as ruas com placebos protecionistas.

Sinais desses problemas pipocam ali e aqui. Dependentes de governos, grandes bancos já direcionam seu escasso capital para seus países de origem, em parte pressionados pelos novos patronos. As pequenas manifestações de trabalhadores no Reino Unido, de funcionários públicos na França e na Alemanha e de agricultores no Leste Europeu e na Grécia já levaram governos a dar uma colher de chá ao menos verbal para o nacionalismo trabalhista.

A estratégia empresarial europeia de baixar os custos por meio da contratação de empregados de países mais pobres ganhara mais força desde que o Leste Europeu entrara na UE. A imigração ilegal e a onda de trabalhadores baratos importados provocavam surtos de xenofobia, mais ou menos contidos, com exceção maior da Itália, onde o ódio é estimulado por Silvio Berlusconi. A crise, decerto, deu mais pano para a manga nacionalista. As tensões vão crescer. A direção dos conflitos não depende só de EUA, Europa e Japão. A pressão baixista sobre os salários e a competição entre empresas será determinada ainda pela atitude de países como China e Índia”.

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