O CELIBATO SACERDOTAL

"PECADOS MORTAIS

Bristol (EUA) – Não é de hoje que padres chafurdam em práticas sexuais ilegítimas, por ignorarem o velho conselho de São Paulo de que “é melhor casar do que abrasar”. O que estamos vendo é apenas, nesta idade da globalização e da internet, o irresistível desvendamento de abusos que há séculos solapam a Igreja por dentro mas que papas, cardeais, bispos, padres, diáconos e uma imprensa cúmplice em muitos países – como no Brasil - até hoje vinham conseguindo abafar ao menos em parte.

Encastelado no Vaticano, acobertado por alguns cardeais cínicos e outros meramente iludidos pela crença de que é preciso defender, a todo custo, a “dignidade” da Igreja, Bento XVI resolveu colocar-se como vítima de um complô, enquanto seu “pregador doméstico” lançava a absurda tese de que seu “sofrimento” equipara-se ao dos judeus no holocausto.

O celibato sacerdotal não é dogma da Igreja, mesmo porque a “rocha” sobre a qual ela foi fundada – e seu primeiro Papa, Pedro – era casado. Foi o segundo Concílio Lateranense, em 1139, seguindo a orientação do primeiro (1123), que mais explicítamente condenou o casamento e o concubinato para padres, diáconos, subdiáconos, monges e freiras. A orientação foi reafirmada no Concílio de Trento, de 1545 a 1563, e permanece até hoje, embora nada exista que proiba sua revogação.

Os concílios não falavam em abusos sexuais de menores, mesmo porque provavelmente os fiéis nem sequer acreditassem que uma monstruosidade de tal ordem fosse possível por parte de quem decidia adotar uma “vida piedosa”. Mas, como na frase de Cervantes, “you no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.

Os escândalos que a Igreja Católica não mais consegue ocultar mostram agora que padres não apenas há longo tempo têm amásias (O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, é bem conhecido na literatura portuguesa) como dedicam-se à pederastia (palavra grega que significa “amante de meninos”), ao homossexualismo e, se tiverem oportunidade, ao abuso de menores de idade do sexo feminino. É o caso, por exemplo, do sacerdote indiano Joseph Palanivel Jeyapaul, que obrigou duas adolescentes a nele fazerem sexo oral, nos Estados Unidos.

Em vez de ser preso, ele foi remetido de volta a seu país, ainda de batina e ainda rezando missas, depois de “um ano de orações em um monastério”.

Será isto mais uma perseguição que lembra o antissemitismo?

A Igreja tem, é claro, padres honestos e dedicados. Mas a cultura do celibato acabou atraindo para seus quadros pessoas totalmente despreparadas para o sacerdócio. Por que não abrir portas e janelas, deixar entrar o ar puro e praticar uma sexualidade sadia, em vez de um celibato doentio?"

FONTE: escrito pelo jornalista Mário Augusto Jakobskind e postado no site "Direto da Redação".