CARLOS ZARATTINI
A implantação do trem de alta velocidade entre RJ e SP permitirá que as cidades com paradas intermediárias recebam mais investimentos
A decisão do governo Lula de incluir entre as obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) o projeto de implantação do trem de alta velocidade (TAV) é decisiva para entrarmos em uma nova fase no transporte e no desenvolvimento brasileiro.
O atual TAV teve seus estudos de demanda e projetos realizados nos últimos quatro anos por um consórcio de empresas de consultoria, liderada pela inglesa Halcrow.
Será uma concessão à iniciativa privada, com financiamento parcial do BNDES, na qual os concessionários deverão assumir riscos da obra e de demanda dentro de determinada faixa de variação. A tarifa a ser cobrada será determinada na licitação e, quando em operação, o trem estará participando de um mercado competitivo, com os aviões, ônibus e automóveis.
Não é apenas uma obra, mas a introdução de um novo modal, que servirá de opção para os deslocamentos no eixo Rio-São Paulo-Campinas.
O TAV vai reintroduzir no Brasil o transporte ferroviário de passageiros, eliminado quando da privatização das ferrovias no governo FHC. Vai dar aos usuários uma opção moderna, rápida, segura e confortável.
Bem ao contrário do que assistimos hoje nas estradas, onde o constante aumento do tráfego colabora para a degradação da infraestrutura e para o encarecimento das viagens, com os pedágios. Ou do que podemos observar no tráfego aéreo, que cresce até 15% ao ano, sobrecarregando os aeroportos e controles. Ambos são extremamente poluentes.
A ligação de alta velocidade entre Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas representa a dinamização da macrometrópole do Sudeste, onde concentram-se 20% da população, 33% do PIB nacional e o que existe de mais evoluído tecnologicamente na capacidade produtiva brasileira.
É exatamente onde ganhos de eficiência podem impactar a produtividade nacional. Para isso, as pessoas precisam circular com maior rapidez, transformando o conceito de distância em conceito de tempo, ou seja, deixando de medir as distâncias em quilômetros e passando a entendê-las como tempo.
Vai significar também a recuperação dos corações das cidades, dando a elas novas perspectivas urbanas. A revalorização de áreas centrais, que poderão novamente atrair empresas dinâmicas e empreendimentos imobiliários sensíveis à possibilidade de ligação rápida na grande metrópole, será importante para o desenvolvimento da indústria da construção civil.
Podemos também falar no desenvolvimento das cidades das paradas intermediárias. São cidades médias, com qualidade de vida bastante alta e espaços vazios perto das áreas centrais. Nelas, é possível a construção de empreendimentos associados ao projeto ferroviário, que colaborem para a sua engenharia financeira, reduzindo o valor das tarifas e a necessidade de aportes governamentais.
Cidades como São José dos Campos, Jacareí, Taubaté, Resende, Volta Redonda e Jundiaí comportam novos bairros no entorno das estações.
Neles, poderão ser instaladas, além de empresas, moradias para trabalhadores de outras cidades. Talvez o centro de São Paulo fique mais próximo para um morador de São José dos Campos do que para um morador da zona sul da cidade.
O TAV também será a solução para que possamos adiar a necessidade de construir um terceiro aeroporto na região de São Paulo. Com ele, Viracopos poderá absorver mais voos e melhorar a operação tanto de Congonhas quanto de Guarulhos.
Um dos aspectos mais importantes desse projeto é a transferência de tecnologia. No processo licitatório, será exigida do contratado a transferência para o Brasil da tecnologia envolvida no TAV, possibilitando ao país as condições para criar rede capaz de encurtar suas distâncias continentais.
Ousar colocar em marcha essa obra, de 511 km de extensão, a um custo estimado de R$ 34,6 bilhões, só é possível quando se tem uma economia estabilizada, com amplas perspectivas de crescimento e um processo de distribuição de renda que amplia nosso mercado consumidor. Essa é a realidade do Brasil hoje.
Em São Paulo, governos tucanos paralisaram o metrô por quase dez anos e hoje a cidade paga o alto custo de uma rede insuficiente. Postergar o projeto do trem de alta velocidade significa estrangular a circulação no Sudeste brasileiro. Chegou a hora de colocarmos de pé obras que ultrapassam os períodos de um governo e que são estratégicas para o país.
FONTE: escrito por CARLOS ZARATTINI, economista, deputado federal (PT-SP) e membro da Comissão de Viação e Transportes da Câmara. Foi secretário de Transportes do município de São Paulo (gestão Marta Suplicy). Publicado hoje (21/05) na Folha de São Paulo.
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