segunda-feira, 25 de abril de 2011

ELES DEVEM, NÓS PAGAMOS COM INFLAÇÃO


Por Brizola Neto

“Em 2007, antes da crise econômica global, a dívida dos países ricos era de US$ 26 trilhões e correspondia a 47% do PIB global. Apenas três anos depois, EUA, Europa e Japão passaram a dever US$ 42 trilhões, 61% do PIB mundial.

Os dados estão numa matéria publicada ontem no “Estadão” e reafirmam a evidência de que é a economia do chamado mundo desenvolvido a responsável pela ameaça inflacionária, que não é brasileira, mas mundial.

Aliás, vamos colocar o nome certo no boi: é a economia norte-americana, que responde por quase 40% do total dessa dívida. A relação entre a dívida dos EUA e seu PIB era de 62% do PIB em 2007, vai a 99,5% em 2011 e chegará a 112% em 2016.

E porque acontece isso? Porque a política seguida pelos bancos centrais dos principais países desenvolvidos vem sendo a de adotar uma maneira ultra-agressiva para tentar reativar a economia e diminuir o desemprego: expandem a circulação de suas moedas –que têm liquidez em todo o mundo. Essa liquidez está gerando grandes fluxos de capital e aumentando o preço das ‘commodities’ mundo afora.

E, claro, esses aumentos de preço se refletem na expansão do crédito e nos preços das mercadorias que guardam relação com aquelas matérias-primas ou insumos: ferro, aço, petróleo, açúcar etc…

Como você pode ver no gráfico acima, somente ao final da 2ª Guerra o endividamento americano expandiu-se da forma que ocorre hoje. Mas as rezões e circunstâncias eram outras, totalmente diferentes. O plano Marshall reconstruía a Europa em bases modernas –com elevação dos níveis tecnológicos e de bem-estar social– e economicamente vinculadas à hegemonia americana; o fluxo mundial de capitais era muito mais industrial que financeiro, o dólar era entesourado fisicamente como reserva de valor, enfim, os efeitos inflacionários eram muitíssimo menores.

Os EUA continuam tendo o privilégio de emitir moeda mundial, mas com muito menos liberdade. Certo que não se vislumbra nenhum efeito de fuga de capitais, até porque –paradoxalmente– uma ruptura na capacidade americana de financiar sua dívida criaria reflexo tão negativo no mundo que o próprio dólar se elevaria, pelo poder que representa.

A hegemonia econômica americana é um sistema, como eu disse aqui, autofágico. Como acontece com os impérios em seu declínio, é seu o veneno produzido por seu próprio gigantismo que acaba por derrubá-los, não os seus adversários.”

FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/eles-devem-nos-pagamos-com-inflacao/).

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