terça-feira, 26 de julho de 2011

SOLUÇÃO DA CRISE PELOS EUA: ADOTARÃO NOVA GUERRA MUNDIAL?


[OBS deste blog ‘democracia&política’:

Ao ler o artigo a seguir transcrito, vieram-me preocupações. O medo de a crise dos EUA perdurar é ver ressurgir o vício que os norte-americanos já há muito se impregnaram.

Por conta de bem sucedidos exemplos passados, em que o engajamento em guerras, por eles provocadas ou não, serviu como principal estímulo à expansão do seu complexo industrial-militar cada vez mais gigantesco, da sua tecnologia que agregou valor a todos os seus produtos civis, e ao crescimento de sua economia em geral e do seu poder no mundo, há risco de, em futuro próximo, ser provocada nova grande guerra mundial. É dedução extremada, precipitada. Eu sei. Porém, o passado dos EUA dá respaldo a esse prognóstico sombrio.

Por exemplo, a crise de 1929 foi se arrastando, com altos e baixos e somente foi suplantada pelos Estados Unidos pelo impulso da 2ª Guerra Mundial a partir de 1939. Outras guerras posteriores, como a do Iraque e Afeganistão, foram criadas e conduzidas levando em conta explícitos e estranhos pretextos muito duvidosos (como o 11 de setembro) e a mesma motivação econômica e geopolítica oculta
].

Paul Krugman: "PODEMOS ESTAR PERTO DE REVIVER A CRISE DE 1930"

O artigo é de Paul Krugman, no “SinPermiso”

“Esta é uma época interessante, e digo isso no pior sentido da palavra. Agora mesmo, estamos vivendo, não uma, mas duas crises iminentes, cada uma delas capaz de provocar um desastre mundial.

Nos EUA, os fanáticos de direita do Congresso podem bloquear um necessário aumento do teto da dívida, o que, possivelmente, provocaria estragos nos mercados financeiros mundiais. Enquanto isso, se o plano que os chefes de Estado europeus acabam de pactuar não conseguir acalmar os mercados, poderemos ter efeito dominó por todo o sul da Europa, o que também provocaria estragos nos mercados financeiros mundiais.

Somente podemos esperar que os políticos em Washington e Bruxelas consigam driblar essas ameaças. Mas há um problema: ainda que consigamos evitar catástrofe imediata, os acordos que vêm sendo firmados dos dois lados do Atlântico vão piorar a crise econômica com quase toda certeza.

De fato, os responsáveis políticos parecem decididos a perpetuar o que está sendo chamado de “Depressão Menor”, o prolongado período de desemprego elevado que começou com a 'Grande Recessão de 2007-2009' e que continua até o dia de hoje, mais de dois anos depois de que a recessão, supostamente, chegou ao fim.

Falemos um momento sobre por que nossas economias estão (ainda) tão deprimidas. A grande bolha imobiliária da década passada, que foi um fenômeno tanto estadunidense quanto europeu, esteve acompanhada por enorme aumento da dívida familiar. Quando a bolha estourou, a construção de residências desabou, assim como o gasto dos consumidores, na medida em que as famílias sobrecarregadas de dívidas faziam cortes.

Ainda assim, tudo poderia ter ido bem se outros importantes atores econômicos tivessem aumentado seu gasto e preenchido o buraco deixado pela crise imobiliária e pelo retrocesso no consumo. Mas ninguém fez isso. As empresas que dispõem de capital não viram motivos para investi-lo em momento no qual a demanda dos consumidores estava em queda.

Os governos tampouco fizeram muito para ajudar. Alguns deles –os dos países mais débeis da Europa e os governos estaduais e locais dos EUA– viram-se obrigados a cortar drasticamente os gastos diante da queda da receita. E os comedidos esforços dos governos mais fortes –incluindo aí o plano de estímulo de Obama– apenas conseguiram, no melhor dos casos, compensar essa austeridade forçada.

De modo que temos, hoje, economias deprimidas. O que propõem fazer a respeito os responsáveis políticos? Menos que nada. A desaparição do ‘desemprego’ da retórica política da elite e sua substituição pelo ‘pânico do déficit’ tem verdadeiramente chamado a atenção. Não é uma resposta à ‘opinião pública’. Em uma sondagem recente da ‘CBS News/The New York Times’, 53% dos cidadãos mencionava a ‘economia’ e o ‘emprego’ como os problemas mais importantes que enfrentamos, enquanto que somente 7% mencionava o ‘déficit’. Tampouco é uma resposta à pressão do mercado. As taxas de juro da dívida dos EUA seguem perto de seus mínimos históricos.

Mas as conversações em Washington e Bruxelas só tratam de ‘corte de gastos públicos’ (e talvez de ‘alta de impostos’, ou seja, ‘revisões’). Isso é claramente certo no caso das diversas propostas que estão sendo cogitadas para resolver a crise do teto da dívida nos EUA. Mas é basicamente igual ao que ocorre na Europa.

Na quinta-feira, os “chefes de Estado e de Governo da zona euro e as instituições da UE” –essa expressão, por si só, dá uma ideia da confusão que se tornou o sistema de governo europeu– publicaram sua grande declaração. Não era tranquilizadora. Para começar, é difícil acreditar que a complexa engenharia financeira que a declaração propõe possa realmente resolver a crise grega, para não falar da crise europeia em geral.

Mas, mesmo que pudesse, o que ocorreria depois? A declaração pede 'drásticas reduções do déficit ' “em todos os países salvo naqueles com um programa” que deve entrar em vigor “antes de 2013 o mais tardar”. Dado que esses países “com um programa” se veem obrigados a observar uma 'estrita austeridade fiscal', isso equivale a um plano para que toda a Europa reduza drasticamente o gasto ao mesmo tempo. E não há nada nos dados europeus que indique que o setor privado esteja disposto a carregar o piano em menos de dois anos.

Para aqueles que conhecem a história da década de 1930, isso é muito familiar. Se alguma das atuais negociações sobre a dívida fracassar, poderemos estar perto de reviver 1931, a bancarrota bancária mundial que tornou grande a ‘Grande Depressão’. Mas se as negociações tiverem êxito, estaremos prontos para repetir o grande erro de 1937: a volta prematura à ‘contração fiscal’ que terminou com a recuperação econômica e garantiu que a depressão se prolongasse até que a II Guerra Mundial finalmente proporcionasse o impulso que a economia precisava.

Mencionei que o Banco Central Europeu –ainda que, felizmente, não a Federal Reserve– parece decidido a piorar ainda mais as coisas aumentando as taxas de juros?

Há uma antiga expressão, atribuída a diferentes pessoas, que sempre me vem à mente quando observo a política pública: “Você não sabe, meu filho, com que pouca sabedoria se governa o mundo”. Agora, essa falta de sabedoria se apresenta plenamente, quando as elites políticas de ambos os lados do Atlântico arruínam a resposta ao trauma econômico fechando os olhos para as lições da história. E a ‘Depressão Menor’ continua.”

FONTE: escrito por Paul Krugman, professor de Economía em Princeton e Prêmio Nobel 2008. Publicado no “SinPermiso”, revista em espanhol com núcleo em Barcelona, Buenos Aires e Cidade do México. Transcrito no site “Carta Maior” com tradução de Katarina Peixoto   (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18112) [imagem do Google adicionada por este blog].

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