Kandir
ajudou as multis
PETRÓLEO PARA
AS TRANSNACIONAIS
Por Adriano
Benayon
Adriano
Benayon
LEILÕES
1. A promulgação da lei 9.478, de 1997, foi um dos
mais execráveis atos antinacionais praticados por FHC, na linha das
meganegociatas da privatização.
2. Ela permite leiloar o petróleo para as empresas
estrangeiras, dando-lhes o direito de dispor dele para exportá-lo.
3. Ademais, instituiu a “Agência Nacional de
Petróleo”, a qual, desde sua criação, favorece as transnacionais, inclusive
licitando mais depósitos de petróleo do que a Petrobrás, que os descobriu, tem
interesse em explorar a curto e médio prazo. Esta já foi também impedida de
adquirir blocos licitados.
4. A ANP promoveu, sob governos petistas, maior
número de rodadas que sob os do PSDB. Agora, está chegando à 11ª rodada, na
qual, abriu, nos leilões, quantidade enorme de áreas para exploração, como
sempre, arbitrariamente e sem controle da sociedade.
5. Esse é mais um desmentido dos fatos quanto à
pretensa natureza democrática do regime político, em que as eleições são
movidas a dinheiro e influenciadas por TVs e outras mídias que sempre
propugnaram a entrega do mercado e dos recursos naturais do País a empresas
estrangeiras, até com dados falsos e argumentos distorcidos.
6. Como apontam competentes técnicos, inclusive o
ex-diretor de energia e gás da Petrobrás, Eng. Ildo Sauer, o governo joga uma
cortina de fumaça para a população, pondo os royalties no foco das discussões,
quando a grande questão é licitar 289 blocos de exploração, sem sequer saber o
valor deles.
7. Diz Sauer: “Os royalties não
passam de 15% do
valor total gerado pelo petróleo nacional, e as entidades representativas da
sociedade devem defender a estatização e o controle público
do pré-sal e toda a cadeia petroleira do Brasil.”
8. Os royalties foram o tema dominante durante a
tramitação no Congresso da lei nº 12.351/2010, que regula o pré-sal. E, na
realidade, essa lei dá tais “compensações” às petroleiras mundiais, que o que
fica no Brasil é bem inferior a 15%.
9. O foco nos royalties, além de insensato, acirra
disputas entre Estados, provocando rachaduras no pacto federativo. Governadores
e parlamentares brigam por migalhas, em vez de buscarem a revogação da “Lei
Kandir”, a qual isenta as exportações do ICMS.
10. Aos que ignoram ser o Brasil um país ocupado – ou, no mínimo, que o governo se comporta
como se fosse – vale lembrar que, nos anos 50 do Século XX, o Xá do Irã,
considerado fantoche do império, fez acordo com as grandes petroleiras
anglo-americanas, passando a receber 50% das
receitas da exploração.
11. O Eng. Paulo Metri mencionou declarações da
Diretora-Geral da ANP em que esta declara esperar a descoberta 19,1 bilhões de
barris de petróleo nos 289 blocos. Ele lembra que esse petróleo será exportado
e pergunta: “quem definiu que a exportação, seguindo a lei 9.478, é a melhor opção
para a sociedade brasileira?”
12. Metri: “o porquê de tanta agressividade autoritária e
decisão antissocial está relacionado com o fato de que a desinformação do povo
é imensa, os governantes não esperam nenhuma reação, e os
brasileiros serão respeitados somente quando mostrarem estar informados e
revoltados com as decisões antissociais.”
13. Ele aponta que a ANP só convida para suas
audiências, realizadas em locais fechados e guardados, os representantes das
empresas interessadas. Nada de povo, nem de gente que o represente.
14. Sauer: “É uma grande irresponsabilidade o Governo
organizar outra rodada dessa mesma maneira, considerando ainda o momento de
valorização do óleo existente nos blocos.”
15. E: “Tenho informações seguras, do Consulado americano,
de que Dilma sempre defendeu os interesses do capital financeiro. Quando
secretária no Rio Grande do Sul, seu nome sempre esteve ligado às
privatizações. Inclusive, o Governo vem criando empresas extremamente
lucrativas financiadas pelo endividamento público, coordenadas pelo BNDES.”
16. A prioridade do Brasil é
reindustrializar-se e renacionalizar sua indústria, com ênfase nos setores de maior
valor agregado e intensidade tecnológica, fazendo que empresas nacionais, em competição, se capacitem para
absorver tecnologias desenvolvidas no exterior e para desenvolver suas
próprias. Claro que isso só é possível com política industrial bem diversa da
atual.
17. Apostar na exportação de produtos primários, a
errada trilha que o Brasil está seguindo (com
o agronegócio e minérios brutos ou em baixo grau de processamento),
tornando-se também grande exportador de petróleo, é entrar no caminho da
Venezuela no Século XX, quando se formou ali a estrutura econômica menos
diversificada e mais dependente da América do Sul, até para alimentos.
18. Não tem base real a propalada falta de recursos
da Petrobrás para investir no abastecimento interno, nem carece ela de
tecnologia para explorar em águas profundas.
19. Nem há necessidade de exportar petróleo, até
porque este — como outros minerais que o
Brasil permite exportar — deveria ser preservado para épocas mais próximas
a 2050, a partir de quando se projeta, em âmbito mundial, escassez da oferta em
relação à procura.
BIOMASSA
20. Importante seria reformular a produção de
combustíveis de origem vegetal. Se o fizesse a sério, o Brasil teria ganhos
fantásticos em todos estes campos: 1) econômico-financeiro; 2) social; 3)
tecnológico: 4) ecológico; 5) estratégico.
21. Essa produção, ao contrário de prejudicar a de
alimentos, deve ser associada a esta. De fato, o cultivo associado de plantas
alimentares e de criação de animais propicia excelente sinergia com a do álcool
e a do óleo vegetal, porquanto os subprodutos das plantas necessárias aos
combustíveis são insumos na produção de alimentos, e vice-versa.
22. As usinas de álcool e as processadoras de óleo
devem ser de pequeno e de médio porte, sendo o combustível usado local e
regionalmente: poupa-se a viagem da cana, em caminhões, gastando mais energia,
por grandes distâncias, até as destilarias, e outro tanto do etanol, na volta.
23. Com descentralização e desconcentração,
emprega-se mais mão de obra e eleva-se a produtividade desta e seus rendimentos,
trazendo benefícios sociais junto com os econômicos. Também, segurança no
abastecimento de energia e no de alimentos.
24. Esse modelo afasta as distorções das atuais plantations de
cana-de-açúcar e das grandes usinas. Em relação aos óleos – cuja produção é hoje intencionalmente mal
planejada e dá resultados pífios – ele permitirá aproveitar as plantas de
alta produtividade.
25. Entre essas, o dendê na Amazônia e no trópico
úmido, em geral. Macaúba, copaíba e pinhão manso na maior parte do Leste e do
Centro-Oeste. Até no semi-árido do Nordeste, há plantas excelentes para a
produção de óleos. Com dendê produz-se mais de 6 mil litros/hectare/ano,
enquanto com soja, não mais de 400 litros.
26. Esse potencial precisa, para ser bem aproveitado,
de investimentos muito mais modestos que os destinados ao petróleo, e
possibilita ao Brasil tornar-se, num período de cinco a dez anos, maior
produtor de combustíveis líquidos que a Arábia Saudita, como dizia o Prof.
Bautista Vidal.
27. Não há problema algum em dispensar ou adaptar os
motores de veículos que usam o diesel de petróleo. É viável e econômico
fabricar, em série, motores para os óleos vegetais, mesmo porque o “biodiesel”
envolve a desesterificação dos óleos, ou seja, a extração da glicerina, a qual,
queimada pelos motores apropriados, eleva o teor da energia aproveitada.
28. O programa de biomassa gera, portanto, benefícios
tecnológicos na fabricação de máquinas para o cultivo e
processamento das plantas e para a associada produção de alimentos, na melhoria
das espécies vegetais e na indústria de motores, em que o Brasil ganharia
escala, ficando imbatível em preços e qualidade.
29. Há, ainda, ganhos notáveis do ponto de vista
ecológico. É falaciosa a campanha de que o desmatamento de áreas na Amazônia e
outras causaria danos ao ambiente.
30. A área necessária para a produção da biomassa, em
grande escala, é modesta fração da desperdiçada em pastagens para exportar gado
e exportar carne barata. É menor que a empregada na soja (esta usa 50% das terras usadas pela agricultura), para exportar
farelo destinado a gado, porcos e galinhas no exterior.
31. Tudo isso traz muito mais danos ambientais e
menos ganhos dos que os que adviriam da produção de energia da biomassa. Não
têm base científica as estórias das fundações financiadas por grandes
petroleiras mundiais – as maiores
poluidoras do Planeta –, porquanto as plantas só retiram óxido de carbono
da atmosfera quando estão crescendo, pois é isso que elas comem.
32. Florestas já formadas em nada contribuem para a
melhora do ambiente. O grande produtor de oxigênio não são as florestas
existentes, mas, sim, os oceanos, na realidade, agredidos pela poluente
indústria do petróleo:
terríveis vazamentos de óleo negro nas embocaduras de grandes rios, nos mares
na exploração costeira e das plataformas continentais, ademais dos naufrágios
de gigantescos petroleiros.
33. E que tal a imensa massa de plásticos não
biodegradáveis, provenientes do petróleo, acumulada sobre os mares e oceanos?
34. Por fim, atente-se para a segurança
nacional. Um país
que não tem como defender suas águas territoriais, não deveria engajar-se no
petróleo antes de aparelhar a Marinha e a aviação militares. Para tanto, tem
de, antes, desenvolver a indústria nacional, pois ela nem sequer fabrica os
chips para os mísseis e demais equipamentos.”
FONTE: escrito por Adriano
Benayon e transcrito no portal “Viomundo”. O autor é consultor
em finanças e em biomassa. Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo,
Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.
Diplomado no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty.
Diplomata de carreira, postos na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados
Unidos e México. Delegado do Brasil em reuniões multilaterais nas áreas
econômica tecnológica. Depois, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e
do Senado Federal na área de economia. Professor da Universidade de Brasília
(Empresas Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e
Desenvolvimento no Brasil). Autor de "Globalização versus Desenvolvimento", 2ª
ed. Editora Escrituras, São Paulo. (http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/adriano-benayon-em-vez-de-disputar-migalhas-revogar-a-lei-kandir.html).
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