Por José Inácio Werneck
“Bristol (EUA) - Eles não se emendam. Enquanto o governo Barack Obama faz o possível para por um fim definitivo aos envolvimentos militares no Afeganistão e no Iraque e tenta, também, uma solução que acabe com a ilegalidade das detenções ilimitadas em Guantánamo, os falcões da direita querem, a todo custo, enredar o país na Síria.
À frente deles, o ‘neo-com’ Paul Wolfowitz, o teórico da invasão do Iraque sob a alegação de que Saddam Hussein estava de posse de armas de destruição em massa, inclusive atômicas. Como coadjuvante principal, o senador John McCain, ex-prisioneiro no Vietnã, que parece querer se vingar de sua trágica experiência pessoal em guerras intermináveis contra qualquer país e qualquer regime que ele considere “antiamericano”.
Na verdade, é impossível dizer, no conflito na Síria, que lado se alinharia mais com os interesses dos Estados Unidos. Os falcões republicanos querem forçar a mão de Obama, lembrando-lhe a frase por ele dita há algum tempo de que o uso de armas químicas por parte do regime de Assad seria uma “linha vermelha” que os Estados Unidos não tolerariam.
Foi uma frase imprudente que, evidentemente, levou os rebeldes sírios a alegarem que Assad (foto acima), efetivamente, estava usando armas químicas. Três questões, porém, ficaram no ar, permitindo a Obama uma, ao menos temporária, retirada estratégica. Que provas existem de que as armas químicas foram usadas? Se foram usadas, quem tem certeza de quem realmente as usou? Por último, e talvez mais importante: quem são os rebeldes sírios?
A terceira pergunta é de resposta impossível, pois a oposição síria não tem líderes incontestes nem ideologia definida, já para não dizer que, no campo religioso, ela tampouco mostra unidade. Como muitos outros países árabes anteriormente dominados por europeus, a Síria é uma grande mistura de etnias e facções espirituais muitas vezes inconciliáveis e prisioneiras de fronteiras arbitrariamente traçadas.
A família Assad representa a facção alauíta, um ramo dos shias, representada também no Líbano e na Turquia. Na Síria propriamente dita, há etnias e seitas que vão desde os drusos aos cristãos, curdos, armênios, turcos, os antigos assírios, com uma civilização que remonta a 10.000 anos A.C., e os sunis. Estes últimos, inimigos mortais dos shias e dos alauítas, são, não obstante, a maioria da população.
Diante de tal miscelânea, não é de surpreender que tanto Hafez al-Assad quanto seu filho Bashar tenham recorrido à mão de ferro para controlar o país. A família Assad cairá agora? É provável, mas não garantido.
Mas, e depois dela, quem virá? As forças de oposição se dividem entre o “Exército Livre da Síria”, a “Frente Al-Nusra” e a “Coalizão Nacional Síria”, que de coalizão pouco ou nada tem. A experiência da “primavera árabe” em outros países no Oriente Médio não primou, até agora, nem por clareza de rumos, nem por boa governança.
Ao fundo, paira o Irã, já para não falar da presença do Hezbollah no Líbano e do permanente impasse entre a Palestina e Israel. O Paquistão e outros países também fervilham com insurreições muçulmanas.
Com um mínimo de bom senso, Barack Obama pensará não apenas uma, mas duas, três, mil vezes antes de meter a mão nessa cumbuca.”
FONTE: escrito por José Inácio Werneck, de Bristol, EUA. O autor é jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut. Trabalha na ESPN e na Gazeta Esportiva. Artigo publicado no site “Direto da Redação” (http://www.diretodaredacao.com/noticia/os-suspeitos-habituais). [Título modificado por este blog ‘democracia&política’].
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