Por
Marcelo Gleiser, na “Folha”
“Descoberta
de duas estrelas "gêmeas" do Sol é como um olho no nosso passado e
outro no nosso futuro
Você gostaria de se ver mais velho?
Se houvesse um espelho mágico capaz de mostrar sua imagem em uma, duas ou mais
décadas, você olharia?
Imagino que a opinião seria
dividida, uns tantos sim, outros tantos não. Afinal, ver o futuro teria
repercussão sobre como viveríamos no presente, o que criaria uma série de
paradoxos estranhos.
Se no futuro eu me visse gordo e
resolvesse fazer uma dieta, emagreceria? Se emagrecesse, não estaria mudando o
futuro? E será que isso é possível? Afinal, o espelho me mostrou gordo... Ou,
quem sabe, o futuro não seja um apenas, mas feito de múltiplas opções, como no
conto de Jorge Luis Borges "O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam".
Deixando essas preocupações um tanto
humanas de lado (voltaremos a elas em outro dia), o fato é que em astronomia,
ao menos, ver o futuro e o passado é extremamente útil.
Tanto assim que um time
internacional de astrônomos, liderados pelo brasileiro Jorge Meléndez, da USP,
vem buscando estrelas semelhantes ao Sol, mais velhas e mais novas, para que
possamos aprender sobre a evolução da nossa estrela-mãe. Para tal, o grupo usa
o gigantesco telescópio em Paranal no Chile conhecido como VLT (do inglês Very
Large Telescope, "Telescópio Muito Grande"), do ESO (Observatório
Europeu do Hemisfério Sul), um consórcio de 15 países com vários instrumentos
de grande alcance e precisão. O Brasil deve ratificar sua presença como membro
oficial do ESO ainda este ano.
Em artigo de abril publicado no
prestigioso "Astrophysical Journal Letters", com TalaWanda Monroe,
também da USP, como primeira autora, o grupo revela dados de duas estrelas
"gêmeas" do Sol, uma bem mais nova, a 18 Scorpii, e outra bem mais
velha, a HIP 102152. Ou seja, um olho no nosso passado e outro no nosso futuro
ou, ao menos, no futuro do Sol.
HIP 102152, com 8,2 bilhões de anos,
é bem mais velha do que o Sol, que tem 4,6 bilhões de anos. A questão de maior
importância para o público é se o Sol é uma estrela típica ou atípica. É bom
sabermos, pois nossa sobrevivência na Terra depende do Sol e da sua
estabilidade.
Caso seja uma estrela normal, dentro
de sua classificação (estrelas aparecem em classes diferentes, dependendo da
sua massa, temperatura etc.), o Sol continuará a gerar luz por muitos bilhões
de anos, em torno do dobro da sua idade. Caso não seja normal, as coisas podem
complicar. E, se complicarem, a vida na Terra poderá estar em apuros mais cedo
do que gostaríamos.
Estudando 21 elementos químicos
presentes nas três estrelas, o grupo mostrou que o Sol é uma estrela normal. Em
particular, que o elemento lítio, que é bem mais raro no Sol do que em estrelas
gêmeas mais novas, é destruído com o envelhecer da estrela: HIP 102152 tem
aproximadamente a metade do lítio que temos aqui.
O grupo mostrou também que a HIP
102152 não tem planetas gigantes como o nosso Júpiter ou Saturno na região mais
próxima dela, onde podem existir planetas rochosos como a Terra. Ou seja, da
imagem do Sol idoso, aprendemos que o nosso Sol não foge à regra; o que
possibilita que outros como ele tenham planetas como a Terra que, quem sabe,
abriguem também formas de vida.”
FONTE: escrito por Marcelo Gleiser, na “Folha de São Paulo”. O autor é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita" (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saudeciencia/126837-sol-novo-sol-velho.shtml). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
FONTE: escrito por Marcelo Gleiser, na “Folha de São Paulo”. O autor é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita" (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saudeciencia/126837-sol-novo-sol-velho.shtml). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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