terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O QUE FAZER COM OS BLACK BLOCS?




Por Eduardo Guimarães, no "Cidadania"

“Black bloc não é grupo ou movimento, é tática”;

“Um grupo pequeno de vândalos infiltrou-se em uma manifestação pacífica”;

“Há que entender os black blocs”;

“Black blocs são um movimento social”…


Escolha uma das frases acima e pense: quantos dos que agora estão criticando os black blocs (por ter se tornado impossível não criticá-los) não disse uma ou mais de uma das frases acima, só que na época em que ser contra protestos era “suicídio de imagem”?

Agora é fácil criticar os black blocs; eles estão aí, não é mesmo? Mostraram que são EXATAMENTE aquilo que esta página disse que eram ao tempo em que esses lunáticos surgiram em nosso país – época em que, coincidência das coincidências, surgiram as tais “jornadas de junho”.

Mas veja só: Josias de Souza, Juca Kfouri, Ricardo Boechat e outros menos ou mais conhecidos dizem agora que detestam os black blocs; há pouco mais do que meia dúzia de meses incentivavam protestos.

Aliás, algum deles disse, com todas as letras, que apoiava “quebra-quebras”, paulada, pedrada, o que fosse. Detalhe: é um dos principais apresentadores de telejornal de uma das maiores empresas de comunicação do país.

De certa forma, portanto, respeito aqueles que, apesar do equívoco que cometeram – e que continuam cometendo – ao apoiar os black blocs, pelo menos não convergem para a maioria por conveniência, como tantos por aí.

Estranho, também, que muitos estejam preocupados com a execução penal de um suspeito do assassinato do cinegrafista Santiago Andrade – ora sob prisão temporária – mesmo não tendo existido, até agora, a menor notícia de maus tratos a ele.

Os preocupados em oferecer advogados e exigir soltura imediata para um dos autores do assassinato do cinegrafista da TV Bandeirantes demoraram muito a falar à família da vítima daqueles que apoiam. E acabaram nem falando.

Coube, então, aos black blocs – o braço armado dessa corrente opinativa que infesta a internet – dizer que estão “chateados” com o resultado das próprias ações – e, sim, eles têm um monte de porta-vozes nas redes sociais.

Mas que bom que ficaram chateados, não é mesmo? Tive medo de que se dissessem alegres. Afinal, Santiago morreu devido a ações que os black blocs praticaram em grupo. De forma pensada, planejada, decidida e eficiente.

Mas o pior é que também disseram que a morte de Santiago foi uma “infelicidade”. Algo como um “efeito colateral”…

Manja, leitor?

Mas, enfim, já que essa praga está aí, o que fazer para erradicá-la?

Já me disseram que prisão inafiançável não daria porque pode ser usada para criminalizar movimentos sociais legítimos como o MST, por exemplo. Ok, é verdade. Qualquer pretexto serve para exigir a degola do MST, porque também faria manifestação violenta ao promover ocupações.

Não vejo assim. O MST tem uma causa. É um legítimo movimento social. Seus integrantes têm nome, sobrenome, RG e CPF – ou, na falta dos documentos, quase sempre certidão de nascimento.
Mas, enfim, todos os membros do MST têm rosto e nome. Podem ser identificados, pois não se mascaram. Enfrentam pistoleiros equipados com armas de alto calibre de cara limpa, peito aberto e a esperança nos olhos.

Os sem-terra praticam aquilo que se diz crime famélico, ou seja, invadem por absoluta e extrema situação de penúria social. Andam com suas mulheres, suas crianças, seus velhos, seus animais de estimação.

Ninguém são os trataria como a filhotes de papi malcriados que tocam fogo em coisas e pessoas alegando que estão “mudando o país”. E não farão nada com eles a mais do que fazem hoje, pois para eles nunca valeu nenhum atenuante social.

Mas uma lei que estabelecesse que gente de rosto coberto que praticasse violência sem o menor atenuante social e humanista e sob motivo torpe (por diversão ou para exercer pressão política ilegítima) seria apenada pela Justiça de forma mais dura, talvez fosse a solução.

Não posso negar, porém, o potencial da Justiça brasileira de distorcer as leis. E sobretudo quando os alvos da distorção não forem filhinhos de papai e seus “teachers”, os quais sempre encontrarão montes de advogados nas portas das delegacias a que forem levados quando destruirem tudo em volta.

Surge, então, a questão: o que fazer com os black blocs?

Para melhor refletir sobre o assunto conversei com o jornalista Breno Altman, do site Opera Mundi. Antes, já havia conversado superficialmente com amigos – pessoas que respeito – que não gostaram da ideia de prisão inafiançável para protestos violentos.

Muitos amigos, claro, concordam em gênero, número e grau. Alguns, inclusive, acham que prisão inafiançável é pouco.

O Breno me pareceu o mais ponderado. Consegue opor bons argumentos que exigem ser analisados. Ele julga que a ação política pode ser eficiente. Ou seja: que a crítica consistente aos black blocs irá isolá-los cada vez mais politicamente e que ficarão sozinhos nas ruas.

Respondi que dez black blocs destruidores, cheios de músculos e vitalidade juvenil e dopados por muita, muita raiva se farão parecer mil pessoas a cada vez que forem à rua brincar do que gostam.

Não obtive uma resposta à questão sobre o que fazer com os black blocs que não seja simplesmente deixá-los continuar a fazer o que estão fazendo. Nada de lei e nada de repressão policial. Eles estariam se suicidando, do ponto de vista imagético.

Lembrei que se a polícia não tivesse chegado os black blocs teriam esfolado vivo o prefeito de São Paulo, ano passado. E que quase conseguiram trucidar o prefeito porque a polícia usou essa tática de se omitir.

Temos todos que pensar no seguinte: e se a próxima vítima dos black blocs for você? E se for um filho, uma filha, uma esposa, um esposo, um pai, uma mãe, um amigo querido? Quem topa pagar para ver?

Não sei, não… Até porque, mesmo com a morte de Santiago ainda tem gente muito barulhenta que quer mais black blocs fazendo exatamente o mesmo.

E, como se não bastasse, em uma dessas redes sociais em que os “meninos e meninas” escrevem disseram que vão, sim, fazer novos protestos. E reafirmaram que “Não vai ter Copa” e que prefeito nenhum irá reajustar passagens de ônibus.

Sinceramente, vejo isso como um deboche. A morte de Santiago, dizem uma “infelicidade”, um efeito colateral. Só que esse efeito pode acontecer de novo porque eles prometem continuar a fazer o que fizeram na semana passada.

E aí, ninguém faz nada? Ficaremos sentados, esperando? E se mais Santiagos forem vitimados pelos black blocs, vamos todos bradar, em coro e de mãos dadas com os mascarados, que foi uma “infelicidade”? É isso o que faremos?

Eu não concordo. E você?"

FONTE: escrito por Eduardo Guimarães, no seu blog "Cidadania"

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