quinta-feira, 17 de julho de 2008

EMIR SADER: UM DIA COMO OUTRO QUALQUER

Li hoje no site “Carta Maior” um muito bom texto de Emir Sader. Para aqueles que ainda não conhecem o autor, repito a seguinte pequena biografia:

“Emir Sader nasceu em São Paulo, no ano de 1943. Formou-se em Filosofia na Universidade de São Paulo. Fez Mestrado em Filosofia Política e Doutorado em Ciência Política, ambos na Universidade de São Paulo. Na mesma universidade, trabalhou como professor, primeiro de filosofia, depois de ciência política. Foi, ainda, pesquisador do Centro de Estudos Sócio Econômicos da Universidade do Chile, professor de Política na UNICAMP e coordenador do Curso de Especialização em Políticas Sociais na Faculdade de Serviço Social da UERJ. Atualmente dirige o Laboratório de Políticas Públicas na UERJ, onde é professor de sociologia.”

Vejamos o artigo de Emir Sader:

UM DIA COMO OUTRO QUALQUER

Daniel Dantas teria fracassado (tomara), porque ficou tentando adular a governantes para ganhar favores. Enquanto que a Ambev teria tido sucesso, porque adula aos acionistas, isto é, ao mercado.

O governo dos Kirchner é condenado, porque aumentou impostos à exportação do campo, que acumula fortunas descomunais com o boom da demanda externa. E intervêm para resgatar empresas em quebra – como Aerolineas Argentinas. Não recordam que quem quebrou a empresa argentina foi a Iberia, empresa privada espanhola, que já havia quebrado a empresa venezuelana Viasa, deixando o país sem empresa aérea internacional. Não recordam que Kirhcner resgatou a Argentina quebrada, depois do prolongado porre privatista de Menem, que terminou com todas as empresas estatais, incluído a YPF, que dava auto-suficiência de petróleo ao país e hoje o deixa com problemas energéticos sério, em meio ao predomínio da empresa privada espanhola Repsol.

Do porre da paridade menemista entre dólar e peso, bomba de tempo que levou o país à maior retração de um país, no começo desta década, da mesma forma que a Rússia havia sofrido na década passada, na sua privatização mafiosa.

Silêncio constrangido sobre Daniel Dantas, Nahas, Pitta, desagrado de ver ricos algemados – pela primeira vez o tema, chega, porque até aqui eram pobres os algemados. E sobre a chegada do Cacciola – este não dá para ligar ao governo Lula, as orelhas de FHC e de tantos outros, fervendo -, cobertura como se se tratasse de tema anódino, sem nenhum esclarecimento dos antecedentes das acusações, do governo envolvido no escândalo Cacciola.

O tema da nova onda de quebras de bancos nos EUA, tratado como uma gripe passageira, um acidente natural. Os bancos, todos privados, o socorro, estatal, como sempre: privatização dos lucros e socialização dos prejuízos, como até o Paul Krugman reconhece. Para as empresas privadas, os ganhos, para o Estado, o pagamento pelos pratos despedaçados pelos banquetes empresariais.

Aumento de salário dos funcionários públicos é parte do caderno de economia, porque é computado como maiores gastos do Estado. Não é abordado como maior remuneração para trabalhadores dos setores de educação e saúde – professores, enfermeiros -, que são a grande maioria dos trabalhadores estatais.

O governo Lula incomoda quando fortalece o Estado, é discretamente aplaudido quando favorece o grande empresariado, como no caso dos agronegócios de exportação, com transgênicos.

É preciso, todas as manhãs, constatar o país e o mundo pintados pela mídia mercantil e depois reconstruir o país e o mundo reais, contrapondo um ao outro.“

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