"Não há dúvida. O Presidente Obama está enfrentando uma dura campanha dos setores mais conservadores da sociedade norte-americana que o acusam de querer implantar o socialismo nos EUA. Tudo porque seu projeto de reforma do sistema de saúde prevê a entrada do poder público na delicada área do atendimento médico, hoje nas mãos de poderosos grupos empresariais.
O projeto do presidente prevê a criação de um seguro público, patrocinado pelo Estado, que atenderá aos 46 milhões de americanos que não têm como pagar por um seguro privado e não dispõem de nenhum tipo de cobertura médica. Ao mesmo tempo, ofereceria aos empregadores um seguro saúde muito mais barato que os seguros privados.
Isso mexe com gente rica e poderosa. Gente que tem poder de conquistar formadores de opinião e políticos. A partir daí, a campanha contra o projeto cresceu e ganhou as ruas. Nos debates sobre o plano o que mais se vê são aposentados inocentes, mal informados, servindo de bucha de canhão para os espertalhões que querem derrubar o projeto presidencial. As manifestações deixaram a reforma em segundo plano e viraram ataques pessoais ao presidente. Faixas e cartazes em tom agressivo, caracterizam Obama ora como Hitler, ora como comunista (?).
Essa situação chegou ao extremo na quarta-feira, quando Obama compareceu ao Capitólio para uma sessão conjunta das duas casas legislativas para explicar detalhadamente seu projeto de reforma.
A presença do presidente nessas ocasiões obedece a certas formalidades que, embora não escritas, fazem parte da tradição democrática do país. Atrás dele, mostrados pelas câmeras todo tempo, se sentam o vice-presidente, de um lado, e o presidente da Câmara dos Deputados, do outro. Não são permitidos apartes ao discurso presidencial e a discordância da oposição deve se limitar a permancer sentada e não aplaudir.
Na quarta-feira, entretanto, um deputado republicano, Joe Wilson, em seu quinto mandato, agrediu o presidente ao gritar “você mente”. Obama parou por um instante, olhou fixo para o lado onde estavam os republicanos e seguiu seu discurso aplaudido pelos democratas. Na mesma noite, Wilson recebeu um telefonema de assessores da Casa Branca e em seguida distribuiu uma nota em que pedia desculpas ao presidente por seu comportamento “inadequado e impensado”.
No dia seguinte, pouco se falou do conteúdo do discurso do Obama que, diga-se de passagem, cresceu nas pesquisas depois da fala no Congresso. O que repercutiu efetivamente foi o ato desrespeitoso de Joe Wilson, condenado pelos mais representativos membros do Partido Republicano, como John McCain.
Mas a direita raivosa pegou carona no gesto tresloucado de Joe Wilson e o transformou de desconhecido deputado da Carolina do Sul em estrela e símbolo da luta contra Obama.
O presidente aceitou o desafio e a partir do sábado iniciou algo como uma nova campanha eleitoral. Vai percorrer o país em busca de apoio para seu projeto de reforma da saúde e, ao mesmo tempo, levantar o ânimo de seus eleitores que andam assustados com as demonstrações de ódio dos adversários republicanos.
De qualquer maneira, é uma parada indigesta para Obama. Ele sabe que esse projeto é uma cartada decisiva para seu desempenho no governo. O fato de ser negro é um complicador, pois a extrema direita branca e conservadora jamais se conformou com sua presença na Casa Branca e vai usar todas as armas a seu alcance para vê-lo na rua da amargura."
FONTE: artigo do jornalista Eliakim Araujo publicado em 13/09/2009 em seu blog "Direto da Redação".
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