quinta-feira, 4 de março de 2010
RETOMADA DO PROJETO DO VEÍCULO LANÇADOR DE SATÉLITES - VLS
As sucessivas, progressivas e fortes restrições orçamentárias e a drástica perda de pessoal com proibição de novas admissões, conduzidas nos muito estranhos anos 90, no governo FHC/PSDB/PFL-DEM, levaram o projeto à quase morte por estrangulamento em 1999. A teimosia patriótica dos cientistas brasileiros não deixou desaparecer todo o conhecimento antes duramente acumulado e, mesmo com efetivo reduzido à decima parte, severas dificuldades e riscos, está conseguindo fazer renascer o projeto.
"O Veículo Lançador de Satélite (VLS-1) começou a ser desenvolvido em 1984 e já realizou dois testes em voo, mas sem sucesso, em 1997 e 1999. Em agosto de 2003, uma explosão com o terceiro protótipo do foguete, na plataforma de lançamento localizada em alcântara, no Maranhão, provocou a morte de 21 engenheiros e técnicos que trabalhavam no projeto.
Ao longo do desenvolvimento, o projeto do VLS-1 sofreu diversos atrasos, por conta de sucessivas restrições orçamentárias, perda de pessoal qualificado e embargo internacional. Desde o começo, o programa enfrentou as pressões dos países que dominam a tecnologia espacial e, por este motivo, o Brasil decidiu investir no desenvolvimento de tecnologias restritas, como a de propulsão e combustível sólido, plataforma inercial e estrutura em aço especial. O receio [ou melhor, a desculpa não crível] desses países [que não querem novos concorrentes] era que o Brasil utilizasse o foguete para desenvolver mísseis de longo alcance...
O VLS-1 é uma evolução natural do programa de desenvolvimento de foguetes de sondagem, iniciado no país na década de 60. Com quatro estágios de voo, o VLS-1 é um lançador convencional, que usa combustível sólido e foi projetado para lançar satélites de 100 a 350 quilos, em altitudes de 200 a 1000 km. O veículo tem 19 metros de comprimento e 50 toneladas de peso na decolagem. O foguete VLS-1, apesar de ainda não ter sido qualificado em voo, ajudou no desenvolvimento de tecnologia de ponta no país. Durante a sua construção, o programa envolveu mais de cem empresas, que se capacitaram para fornecer equipamentos e componentes com qualificação espacial. Hoje, segundo o IAE, 14 empresas participam da construção do quarto protótipo do VLS-1.
País retoma desenvolvimento de nova família de foguetes
O desenvolvimento de nova geração de lançadores de satélites no Brasil será retomado em breve. O Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), órgão do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), aguarda para os próximos dois meses o recebimento dos relatórios técnicos (anteprojeto) do foguete VLS Alfa, o primeiro veículo da nova família de lançadores do Programa Cruzeiro do Sul.
O documento, que inclui a análise da configuração do novo veículo, simulação de desempenho e proposta de propulsor, foi elaborado pelo Centro Estatal de Foguetes Acadêmico V.P. Makeyev, da Rússia. O Cruzeiro do Sul prevê investimentos de US$ 750 milhões (valores de 2004) para a construção de 5 foguetes em 17 anos, com o objetivo de atender às demandas brasileiras na área de transporte espacial.
"Em dezembro do ano passado, o governo brasileiro enviou para a Rússia o certificado de usuário final dos relatórios e agora espera a conclusão da licença de exportação do documento que, pelo conteúdo, é classificado como item sensível", explicou o coordenador do Programa Cruzeiro do Sul no IAE, Paulo Moraes Júnior. A elaboração do anteprojeto do foguete VLS Alfa, segundo Moraes, também precisou ser ratificada por um acordo de salvaguarda tecnológica, assinado, em 2009, pelos governos do Brasil e da Rússia.
A Rússia já é parceira de longa data do programa brasileiro de lançadores. Além do fornecimento de componentes para os quatro protótipos do VLS (Veículo Lançador de Satélites), os russos foram contratados para fazer uma revisão técnica do quarto protótipo do VLS-1, que tem lançamento previsto para 2012. O trabalho também foi desenvolvido pela russa Makeyev.
A revisão técnica do projeto do foguete VLS-1 , segundo o pesquisador, incluiu modificações nas redes elétricas, rede pirotécnica (dispositivos utilizados para ignição de motores e separação de estágios), proteções térmicas, entre outras alterações, feitas com o objetivo de se aumentar a confiabilidade e a segurança do veículo.
O VLS-1, segundo o diretor do IAE, coronel Francisco Carlos Melo Pantoja, conta com um orçamento de R$ 30 milhões a R$ 35 milhões em 2010. A torre de lançamento do foguete, que está sendo construída em Alcântara, pelo consórcio Jaraguá-Lavitta, deve ficar pronta no fim deste ano. O investimento previsto no projeto é de R$ 43 milhões.
O programa brasileiro de lançadores enfrenta embargos com relação aos sistemas que permitem o desenvolvimento de artefatos militares (tecnologias sensíveis). A compra do computador de bordo do VLS-1, por exemplo, tem enfrentado dificuldades, mas está em fase de finalização do contrato. A fornecedora do sistema é a GE Intelligent Platformes. Os computadores de bordo, que equiparam os outros protótipos do VLS, foram comprados da Rússia.
Por esse motivo, alguns itens do foguete estão sendo nacionalizados para que o Brasil tenha mais autonomia no desenvolvimento do seu programa de lançadores. Um exemplo é o sistema de navegação inercial, utilizado na orientação da trajetória do foguete no espaço e na estabilização de satélites em órbita. O projeto, batizado de SIA, referente a Sistemas de Navegação Inercial para Aplicação Aeroespacial, tem um custo estimado de R$ 40 milhões e está sendo financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
"O objetivo do programa é nacionalizar outros itens dos veículos lançadores, mas vários componentes continuam sendo fornecidos por empresas internacionais pois, em alguns casos, o custo e o tempo gastos no desenvolvimento da tecnologia não compensam", comenta o gerente do VLS-1. Além do sistema de navegação, o Brasil hoje tem o domínio completo do sistema de propulsão do foguete e também da parte de materiais usados em sua estrutura.
O governo brasileiro decidiu investir no domínio da tecnologia de produção de propelente para ter mais autonomia no desenvolvimento do seu programa espacial, tendo em vista as dificuldades enfrentadas no mercado externo para a compra de matérias-primas usadas na composição dos propelentes para foguetes. Para os novos veículos do Programa Cruzeiro do Sul, que serão equipados com motores de maior porte, existe a necessidade de aperfeiçoar a tecnologia de propulsão. O segundo veículo da nova família, o VLS Beta, por exemplo, terá motor com capacidade para 40 toneladas de propelente sólido.
Os motores que equipam o foguete atual, o VLS-1, carregam até sete toneladas de propelente cada um. O foguete Beta também será feito em material composto e a empresa brasileira Cenic tem larga experiência nessa área, com a fabricação dos motores do quarto estágio do VLS-1 e do acelerador do foguete de sondagem VSB-30.
O primeiro veículo do Programa Cruzeiro do Sul, o Alfa, também irá introduzir o uso da tecnologia de propulsão líquida, que o Brasil está se preparando para dominar. O IAE montou um laboratório de Propulsão líquida, que é uma referência na América do Sul e o DCTA tem formado de 15 a 20 especialistas nessa tecnologia por ano, em parceria com a instituição russa Moscow Aviation Institute."
FONTE: reportagem de Virgínia Silveira, publicada hoje (04/03) no jornal Valor Econômico [título, imagem, 1º parágrafo e trecho entre colchetes adicionados por este blog].
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Um comentário:
Projetos da usina de energia solar espacial a ser colocada em órbita geoestacionária (36 mil quilômetros da terra) até 2030 poderão salvar o clima na terra.
No solo a energia solar exige grandes extensões de terra.
1 km2 de uma hidrelétrica corresponde a 6 km2 da fotovoltaica, 41 km2 da eólica e 208 km2 da biomassa.
Le monde Diplomatique ed 59
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