quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
AMORIM LUTANDO ATÉ O ÚLTIMO DIA
EM WASHINGTON, AMORIM DIZ QUE EUA TÊM DE ACEITAR DIVIDIR SUA LIDERANÇA
AMORIM DISSE QUE DOCUMENTOS VAZADOS PELO WIKILEAKS SÃO IRRELEVANTES
"O Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse terça-feira, em Washington, que os Estados Unidos precisam entender que o mundo está diferente e que esta nação tem de aceitar dividir sua liderança.
“Não é mais possível que os Estados Unidos continuem a impor sua vontade. Os EUA e a Europa têm de ter a humildade de ver o que podem aprender conosco”, disse o chanceler, que estava na capital americana para um debate com Thomas Friedman, colunista do jornal ‘New York Times’, organizado pela ‘Carnegie Endowment for International Peace’.
Durante o debate “The New Geopolitics: Emerging Powers and the Challenges of a Multipolar World” (A Nova Geopolítica: Potências Emergentes e os Desafios de um Mundo Multipolarizado”, em tradução livre), o ministro mostrou constante descontentamento com a posição americana em relação ao Irã.
Quando Friedman afirmou que os EUA sempre defenderam, independentemente de quem está na Casa Branca, valores como a intolerância à violação aos direitos humanos, Amorim rebateu: “Também temos valores e temos problemas com muitos países, incluindo os Estados Unidos”, afirmou o chanceler.
O colunista [do 'chapa-branca' "The New York Times"] afirmou que “a imagem de Lula erguendo os braços ao lado de um líder [Mahamoud Ahmadinejad] de um país que matou centenas de pessoas não pegou bem.”
HIPOCRISIA
Mas o ministro brasileiro disse que a ideia de que o Brasil segue uma linha de oposição à política dos Estados Unidos com respeito ao Irã é uma errônea. De acordo com ele, o presidente americano, Barack Obama, havia inclusive afirmado que achava bom que o presidente brasileiro tivesse um relacionamento amigável com Mahmoud Ahmadinejad, pois isso poderia ajudar nas negociações com o país asiático.
Quanto às sanções promovidas pelos Estados Unidos e impostas pela ONU sobre o Irã, o chanceler disse que as considera contraprodutivas e afirmou que os países em geral se valem de hipocrisia ao formularem suas políticas externas.
“A hipocrisia tem seu mérito, é um sinal de civilidade, de alguma maneira. Mas acreditamos que todos os países devem estar sujeitos a escrutínio. O mesmo tratamento deve ser dado ao Brasil, aos EUA, ao Irã e a Cuba. Não é certo julgar alguns países e não outros. Temos que ter um mínimo de igualdade”, disse o chanceler.
Durante uma entrevista coletiva concedida à imprensa um pouco antes do debate, Amorim afirmou: “Me preocupa que o Irã, os Estados Unidos ou qualquer outro país tenham um programa nuclear e o use [para fins bélicos].”
‘COMPLEXO DE CULPA’
Sobre a recusa do governo brasileiro de condenar publicamente o Irã ao se abster em uma votação da ONU sobre práticas de violações contra os direitos humanos - como a punição por apedrejamento para mulheres adúlteras - o ministro afirmou que o Itamaraty agiu corretamente.
“O Brasil não tem complexo de culpa”, afirmou o chanceler, acrescentando que outros países que votam a favor o fazem para “ter um diploma de bonzinho na parede”.
Segundo Amorim, muitos países teriam votado contra tais práticas para se redimirem pelas violações aos direitos humanos que já haviam cometido. Além disso, ele disse que os países têm de usar outras maneiras, que não sanções e guerras, para conseguir a cooperação de outras nações.
“Não adianta querer bombardear um país para que se torne democrático.”
WIKILEAKS
Com respeito ao vazamento de centenas de milhares de comunicações entre diplomatas envolvendo questões de alta sensibilidade, o ministro brasileiro disse, durante a entrevista coletiva, não ter ficado surpreso.
“Tudo que li no ‘WikiLeaks’ eu já sabia ou é irrelevante”, afirmou.
De acordo com o que foi divulgado, os diplomatas americanos, nas suas comunicações, mencionaram que o Brasil teria um certo temor de que o presidente venezuelano, Hugo Chavez, pudesse ser um elemento desestabilizador na região. Amorim negou isso.
“O presidente Hugo Chavez é nosso amigo e temos uma relação de intensa cooperação. Queremos fortalecer a América do Sul.”
As mensagens vazadas também implicavam que o governo brasileiro parecia relutar em reconhecer a ocorrência de atividades terroristas no País. Para o chanceler, isso também não é verdade e não passa de “percepções de diplomatas”.
“O Brasil combate o terrorismo, mas temos uma visão diferente. Não relacionamos qualquer tipo de crime com terrorismo”, afirmou.
Durante a estada na capital americana, Amorim foi homenageado pela revista ‘Foreign Policy’ como um dos 100 Principais Pensadores Globais. Outros homenageados foram Warren Buffet, Bill Gates, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, e o senador democrata americano, John Kerry.
O chanceler brasileiro também participou na noite de terça-feira de um painel com o Davotoglu e Kerry sobre relações internacionais promovido pela ‘Foreign Policy’.”
FONTE: reportagem de Lígia Hougland, de Washington, para a agência britânica de notícias BBC (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/12/101201_amorim_washington_lh_mdb.shtml). Transcrita no blog de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/amorim-lutando-ate-o-ultimo-dia#more)[trecho entre colchetes colocado por este blog].
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