domingo, 16 de setembro de 2012

CHINA-EUA: A LUTA PELA SUPREMACIA MUNDIAL

Por Manuel Cambeses Júnior, no “Monitor Mercantil”

“Recentemente, foi amplamente divulgado no site da conceituada publicação científica ‘Next Big Future’  (www.nextbigfuture.com) instigante e aprofundado estudo realizado pelo prestigioso ‘Georgia Institute of Technology’ que enfatiza, de forma magistral, a luta renhida que vem sendo protagonizada pelas monopólicas superpotências, Estados Unidos e República Popular da China, no sentido de conquistar e manter a liderança mundial na economia e, também, no que concerne ao desenvolvimento científico-tecnológico.

O referido estudo vaticina que, em 2030, o portentoso país asiático irá superar a economia norte-americana, fruto das medidas que vêm sendo colocadas em prática no sentido de desenvolver, de forma ativa e fecunda, destacados setores da ciência e da tecnologia, e converter esses desenvolvimentos em produtos e serviços para serem lançados, de modo impactante, no mercado mundial.

De maneira análoga, interessante artigo publicado na “Harvard Business Review”, edição de dezembro de 2010, assinala que "de maneira quase despercebida para o mundo, durante os últimos quatro anos a China tem se movido para nova fase de crescimento, passando de economia manufatureira de baixo e médio desenvolvimento tecnológico, para uma outra, mais sofisticada, empregando alta tecnologia".

O que ocorreu para que fosse implementada mudança tão radical em curto espaço de tempo? Certamente, a resposta está na consistência estratégica do governo chinês. Se bem que o firme propósito de converter o país em potência tecnológica de primeiro nível tenha ficado plasmado, como alta prioridade, na 17ª Conferência do Partido, realizada em outubro de 2007, é importante destacar que esse ambicionado objetivo precede o referido evento.

A materialização dessas metas progressistas estão calcadas no estabelecimento de rotas distintas, porém convergentes:

Primeiramente, selecionaram dezessete áreas e um grupo de empresas-chave, em cujo entorno, de modo sinérgico e participativo, concentraram esforços e efetuaram amplas inversões.

Em segundo lugar, por via de inversão direta em pesquisa e desenvolvimento. Faz-se mister destacar que essa vem crescendo 21% ao ano durante os últimos dez anos e, em 2016, com certeza alcançará o patamar onde se encontram os Estados Unidos.

Em terceiro lugar, através da massiva transferência de tecnologia proveniente das empresas estrangeiras que estão presentes no território chinês. Isso é conseguido por maneiras diversas, desde o estabelecimento de incentivos fiscais até à obrigatoriedade de associarem-se com companhias chinesas, passando pela possibilidade de exclusão de contratos sociais às empresas que não cedam aos requerimentos de conteúdo tecnológico.

Em quarto lugar, comprando companhias com alta tecnologia útil no exterior.

Em quinto lugar, oferecendo generosos incentivos para o retorno ao país de talentos chineses residindo no exterior.

E, finalmente [em sexto lugar], investindo copiosamente em educação e na formação de quadros tecnológicos e de mão-de-obra altamente qualificada.

Observamos, na atualidade, que, paradoxalmente, os Estados Unidos transitam exatamente pela via inversa. O financiamento oficial para ciência e tecnologia não tem aumentado em termos reais desde 1995. Ou seja, o país carece de ampla visão estratégica e responde a programas de curta duração e baixa interconexão.

As corporações norte-americanas, que costumam albergar o grosso da inovação tecnológica, vêm sistematicamente cedendo tecnologia, em profusão, para acesso imediato do mercado produtor. Ocorre que, de uma forma indireta, acaba carreando imensos benefícios para os produtores chineses, ávidos por importar novidades tecnológicas que lhes possam trazer benesses industriais com baixo custo em pesquisa.

Desde a conhecida crise da denominada "nova economia", ocorrida a partir do início deste milênio, os Estados Unidos têm deixado escapar parte fundamental de seu plantel tecnológico formado por massa crítica de origem indo-chinesa.

Simultaneamente, as restrições impostas - após os atentados perpetrados em 11 de setembro de 2001 nos EUA - para a obtenção do “H1B Work Visa” a profissionais altamente qualificados, têm negado ingresso no país de cérebros privilegiados oriundos de vários rincões do planeta. Embora a boa qualidade de suas universidades tenha se preservado, o nível médio educacional vem perdendo, sistematicamente, competitividade em nível internacional.

A atitude laxa que vem sendo sistematicamente adotada pelo Governo dos Estados Unidos contrasta com a férrea consistência dos objetivos colimados pelos próceres chineses. Se os norte-americanos não adotarem atitude mais proativa, como o fizeram nos anos 60 do século passado, por ocasião da disputadíssima corrida espacial com os soviéticos, inexoravelmente perderão a sua hegemonia mundial.”

FONTE: escrito por Manuel Cambeses Júnior, Coronel-aviador reformado; membro emérito do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e conferencista especial da Escola Superior de Guerra. Artigo publicado no “Monitor Mercantil”   (http://www.monitormercantil.com.br/index.php?pagina=Noticias&Noticia=119480&Categoria=OPINI%C3%83O). [Imagem obtida no google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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