terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A DESNACIONALIZAÇÃO DO ENSINO NO BRASIL



A DESNACIONALIZAÇÃO DO ENSINO NO BRASIL

Por Altamiro Borges

"Está em curso um acelerado processo de desnacionalização do ensino no Brasil. Faculdades e até escolas básicas estão sendo vendidas a grupos estrangeiros, que não têm qualquer compromisso com a educação brasileira e objetivam apenas o lucro. Na semana passada, o “Apollo Group”, maior empresa de ensino dos EUA, anunciou a compra de 75% da participação da "Sociedade Técnica Educacional Lapa" (FAEL), por cerca de R$ 73 milhões. “A operação está alinhada à estratégia de diversificar os serviços e expandir os negócios para o Brasil, um dos países que têm investido mais em educação superior”, explicou Greg Cappelli, presidente-executivo da corporação estadunidense, ao jornal "Valor".

Apesar do discurso adocicado sobre expansão e melhoria da qualidade do ensino, a multinacional visa mesmo é obter lucros elevados e rápidos. A expectativa é de retorno imediato dos dólares investidos na nova aquisição. Segundo o jornal, “o Apollo Group espera que o valor da operação seja diluído em seus resultados financeiros de 2015”. Além de ser dona da Universidade de Phoenix, nos Estados Unidos, a poderosa empresa tem programas educacionais na Europa, África, Austrália e Ásia. Essa não é a primeira operação de uma multinacional no setor da educação. No final do ano passado, o grupo britânico "Pearson" comprou as escolas de línguas "Yázigi", "Wizard" e "Skill", numa transação de R$ 1,95 bilhão.

Juan Manuel Romero, presidente da "Pearson" na América Latina, justificou o negócio bilionário elogiando o crescimento da “nova classe média” no Brasil. Para ele, o mercado do ensino de línguas está em expansão. “Menos de 3% dos brasileiros falam inglês com proficiência”, argumentou. Com a compra, o grupo britânico também ingressou no setor de franquias, que cresceu a uma média de 12% ao ano desde 2001. A "Wizard" foi a primeira escola a ter mais de mil unidades franqueadas pelo país. Três anos antes, a mesma multinacional – que edita o jornal “Financial Times”, considerado a bíblia dos neoliberais no mundo inteiro – já havia adquirido o sistema "COC" de ensino e uma fatia da editora "Companhia das Letras".




Em agosto de 2013, outra transação bilionária já confirmava o processo de desnacionalização do ensino brasileiro. A multinacional "Laureate", dos EUA, adquiriu por R$ 1 bilhão a "FMU" – que conta com 68 mil estudantes, que pagam em média mensalidade de R$ 650. O complexo é formado por três faculdades: "FMU", "FISP" e "FIAM-FAAM". Conforme festejou na época o jornal "Valor" “fundada em 1968, a FMU era a noiva mais cortejada do setor... Os atrativos são a forte marca que o grupo tem em São Paulo e a presença em 40 campi distribuídos em pontos estratégicos da cidade. Além disso, a faculdade tem grande potencial para crescer no segmento de ensino a distância, modalidade na qual tem uma atuação tímida”.

Ainda segundo o jornal "Valor", que pertence aos grupos "Globo" e "Folha" e é dedicado à chamada elite empresarial, “a FMU é a 12ª aquisição feita pela "Laureate" no Brasil. Desde 2005, quando desembarcou no país, o grupo americano já investiu cerca de R$ 2 bilhões. Metade dessa cifra foi, portanto, destinada para a FMU. No ano passado, a "Laureate" registrou faturamento de cerca de R$ 1 bilhão. A primeira aquisição do grupo americano no Brasil foi a "Anhembi Morumbi", que tem pontos marcantes em comum com a "FMU". Ambas as instituições de ensino atuam no mercado paulista há cerca de 40 anos e foram fundadas por professores que hoje têm idade na casa dos 80 anos”.



Além da desnacionalização, o setor da educação passa por um processo intenso de concentração – com fusões e incorporações que aumentam o poder dos monopólios privados no ensino. Em abril de 2013, o próprio Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) ficou temeroso com essas mudanças. Na ocasião, a incorporação do grupo "Anhanguera" pela "Kroton Educacional" fez soar o sinal de alerta. O negócio, avaliado em R$ 5 bilhões, criou uma gigante global do ensino, com quase 1 milhão de alunos no país – a "Kroton" tem 534.392 estudantes, e a "Anhanguera", 428.779. Para o CADE, a fusão poderia elevar as mensalidades e reduzir a qualidade do ensino. O temor, porém, não durou muito. Valeu o poder dos monopólios!"


FONTE: escrito por Altamiro Borges e publicado no "Patria Latina"  (http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=d41d8cd98f00b204e9800998ecf8427e&cod=14791). 

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