O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM A BAIXA DO PREÇO DO PETRÓLEO
É a geopolítica, estúpido!
Por Miguel do Rosário
"Agora as coisas estão mais claras!
Enquanto a mídia brasileira, sórdida como sempre, tenta faturar politicamente com o declínio das ações da Petrobrás, a imprensa internacional começa a desvendar o que está por trás da brutal queda nas cotações internacionais de petróleo.
Duas matérias na [agência norte-americana de notícias] "Reuters" nos dão uma ideia do que está acontecendo.
Antes, duas notícias boas [na terça-feira]:
1) As ações da Petrobras pararam de cair. Na Bovespa, devem fechar acima de R$ 9,4, com alta entre 2% e 4%.
2) Na bolsa de NY, os papeis da Petrobras também estão terminando o pregão em alta, valendo US$ 6,39. Ontem, haviam fechado em $6,26.
As duas notícias da "Reuters" são as seguintes:
Uma fala sobre a violenta desvalorização do rublo, moeda russa, causada pelo declínio dos preços do petróleo.
Outra fala sobre a estratégia da Arábia Saudita, aliada dos EUA, de usar o petróleo para atingir a Rússia e o Irã, ambos sofrendo sanções econômicas da ONU e ambos fortemente dependentes do petróleo.
A Arábia Saudita, regida por sunitas, é inimiga mortal do Irã, controlado por xiitas, e quer reduzir a influência dos aiatolás na região.
Conclui-se facilmente que os EUA estão por trás da tática, visando dois objetivos:
1) Vergar o governo russo, que venceu uma guerra fria (ou nem tão fria assim) na Ucrânia; apoiou a Síria e fornece tecnologia nuclear ao Irã.
2) Derrubar o regime iraniano, cuja economia, já fragilizada pelas sanções, depende mais do que nunca de preços do petróleo acima de US$ 100. Os EUA são inimigos mortais do Irã.
A Petrobras é uma vítima colateral do processo (ou nem tão colateral assim, como veremos a seguir).
Sua situação agrava-se, naturalmente, pelos bombardeios internos causados pela operação Lava Jato.
Os EUA vivem uma situação temporariamente confortável, por causa da nova tecnologia que lhe permite explorar o petróleo de xisto. E também porque a economia americana, deficitária em oferta de petróleo, porém ainda o maior consumidor mundial, não perde com a queda nos preços do combustível. Ao contrário, a medida ajuda a baixar o custo de vida dos americanos.
Sem contar a possibilidade, algo conspiratória, de os EUA também estarem interessados em baixar a bola do Brasil, que acaba de realizar três grandes operações militares: a compra dos caças suecos, num processo que transferirá tecnologia para o Brasil produzir seus próprios caças; o avanço da construção do nosso primeiro submarino nuclear; e o lançamento bem sucedido de um satélite em conjunto com a China.
A nova direita americana, paranoica e aberta aos delírios do "Tea Party", deve temer que um governo forte no Brasil possa enveredar-se em aventuras “bolivarianas”.
Não podemos esquecer que a Agência de Segurança Nacional-NSA dos EUA espionou a Petrobras e a presidenta Dilma.
Com uma operação assim, os EUA matam três coelhos com uma só porrada.
A economia brasileira, todavia, não é, nem de longe, tão dependente do petróleo como Rússia ou Irã.
A queda no preço do barril apenas leva a Petrobrás a postergar investimentos, aguardando a poeira assentar, e as coisas se normalizarem.
Como o Brasil, assim como os EUA, ainda consome mais do que produz, a queda nos preços do petróleo ajuda a derrubar a inflação.
A Petrobras, por sua vez, tem a vantagem de ser a principal revendedora de refinados no país, um negócio que se beneficia dos preços baixos do barril.
Conclusão: a queda no preço do petróleo e, por consequência, no valor das ações da Petrobras, tem motivos geopolíticos muito mais profundos do que um escândalo de corrupção, o qual está sendo investigado e punido; e não destruirá a estatal, muito menos a economia brasileira.
A guerra entre Obama e Putin nos afeta, claro, mas a economia brasileira saberá se ajustar rapidamente às novas variáveis".
FONTE: escrito por Miguel do Rosário no seu blog "O Cafezinho" (http://www.ocafezinho.com/2014/12/16/e-a-geopolitica-estupido/).
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