quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

PETROBRAS, por Antonio Delfim Netto




Petrobras, por Antonio Delfim Netto

Na "Folha de São Paulo"

"Os portadores da opinião que o ente metafísico a que se dá o nome de 'mercado' é divino, vêm a sua materialidade nas cotações das Bolsas. Trata-se de pura ideologia.

"Deixem o mercado trabalhar livremente e ele, por si mesmo, encontrará 'naturalmente' o equilíbrio gerador da estabilidade e da prosperidade! A Bolsa de Valores foi a fonte da expansão que criou o "capitalismo": a generalização da sociedade anônima; a acumulação do capital necessário para financiar empreendimentos arriscados com ações que repartem o risco e simultaneamente lhe dão liquidez; a criação dos bancos que transformam o curto prazo em longo etc."

Longa experiência histórica, entretanto, mostra que sem uma regulação que imponha alguma moralidade aos seus operadores, cuja imaginação parece infinita, o "mercado" tem enorme propensão à fraude que sempre pune apenas honestos e incautos investidores. Em pelo menos dois episódios --1929 e 2007--, produziram tragédias mundiais.

Quem se interessar pela história verá que, guardadas as proporções, aquelas duas crises (que não se confundem com as crises ínsitas ao sistema capitalista) tiveram a mesma origem e foram apoiadas na mesma ideologia.

Ela dominou o pensamento econômico que se seguiu à Primeira Guerra Mundial e foi posteriormente recuperada pela lenta destruição do controle rooseveltiano que salvou o "capitalismo" na crise de 1929. Meio século depois, o sistema financeiro logrou capturar o poder político nos EUA nas eras Reagan-Bush pai-Clinton-Bush filho-Obama 1-(1981-2012) e, com o apoio "ad hoc" de economistas do "mercado perfeito", destruiu toda regulação que o constrangia e restabeleceu a ideologia do "laissez-faire".

Deu no que deu, outra vez!

Logo, a opinião do tal "mercado" revelada no seu oráculo, a Bolsa de Valores, deve ser levada "cum grano salis".

A Petrobras continua, indisputadamente, no "estado da arte" na sua componente tecnológica, e seu trágico desarranjo, que vai ser analisado e punido se for o caso, pelo Judiciário, é basicamente organizacional e financeiro.

Por que, então, estranhar a escolha de dois excelentes administradores financeiros, os senhores Aldemir Bendini e Ivan de Souza Monteiro, testados com sucesso numa organização gigantesca, eficiente e de alta qualidade profissional, o Banco do Brasil?

Por que, afinal, eles precisam "entender" de petróleo como pediu o tal "mercado", se têm na diretoria técnicos que cresceram na Petrobras e entendem dele?

Aliás, o mercado, entende de petróleo? Então por que ainda está tonto com a queda dos seus preços?"

FONTE: escrito por ANTONIO DELFIM NETTO na "Folha de São Paulo". Transcrito no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/noticia/petrobras-por-antonio-delfim-netto).

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