A REDEMOCRATIZAÇÃO PELA METADE E O INQUALIFICÁVEL LEGADO DE JOSÉ SARNEY FORAM O LEGADO DE TANCREDO
Por CELSO LUNGARETTI, jornalista, escritor e autor do livro "Náufrago da Utopia"
Infelizmente, o Congresso [por influência e vitória da direita] rejeitou, em abril/2004, a "emenda Dante de Oliveira" e a eleição acabou sendo, mais uma vez, indireta. [Estranhíssimo foi toda a imprensa direitista, que se dedicava integralmente à campanha "Diretas Já", subitamente, de um dia para o outro, calou, esqueceu isso e passou a considerar a eleição indireta bela solução democrática].
Aí, parte dos parlamentares que haviam frustrado a vontade popular abandonou o partido da ditadura (PDS) e formou [disfarçou-se em] uma nova agremiação (o PFL, depois DEM) que, unida ao PMDB, assegurou a vitória do peemedebista Tancredo Neves no colégio eleitoral. [Alguns anos depois, o PFL/DEM virou reboque do PSDB].
Nas urnas, o carismático teria atropelado o apático.
Os vira-casacas de última hora receberam as recompensas de sempre.
Um dos piores deles era José Sarney, que presidia o PDS e estimulou a dissidência que viraria PFL [hoje DEM, aliado carnal do PSDB]... mas ele próprio se filiou ao PMDB, provavelmente para tornar mais digerível sua indicação para vice na chapa de Tancredo, que, evidentemente, já teria sido articulada nos bastidores.
A Presidência acabou lhe caindo no colo: como Tancredo, vitimado por uma infecção generalizada, nem sequer pôde assumir (Deus castiga!), o primeiro presidente pós-ditadura acabou sendo alguém que, meses antes, era um dos mais servis porta-falácias e lambe-coturnos dos militares.
E as perguntas que não querem calar:
-- quando, exatamente, esses congressistas de origem arenosa decidiram desembarcar da canoa furada da ditadura?
-- foi só depois de eles terem assegurado, com seus votos, a rejeição da emenda Dante de Oliveira?
-- ou já tinham esse projeto em mente, mas voltaram as costas ao povo para depois obterem bom preço nas barganhas com o PMDB?
Sua herança foi maldita.
Nunca tive a menor dúvida de que o jogo foi de cartas marcadas e terminou como o carteador queria.
O certo é que, pelo voto popular, daria Brizola ou Lula; pela via indireta, no infame tapetão, deu Tancredo.
A grande imprensa, sob a batuta da "Rede Globo", tudo fez para vender o conceito de que tal saída da ditadura pela porta dos fundos era "o coroamento das diretas-já". Fomos poucos os que percebemos o embuste e, em meio à euforia orquestrada, denunciamos que tinha sido, isto sim, o resultado da traição às diretas-já.[A saída de Figueiredo pela porta dos fundos do Planalto, passando a ideia de que não aceitava Sarney e para ele não queria passar a faixa presidencial foi uma inteligente encenação que enganou a muitos, mantendo a direita no poder].
O auê saudando a "Nova República" foi poeira colorida atirada nos olhos dos brasileiros, que acabaram engolindo gato por lebre: uma redemocratização pela metade, com expressiva participação de cúmplices da ditadura, ao invés da verdadeira ruptura com o totalitarismo que a aprovação da 'emenda Dante de Oliveira' teria propiciado.
Vai daí que não se investigaram as atrocidades cometidas pelo regime militar, nem se julgaram os criminosos (que haviam anistiado preventivamente a si próprios).
E, por se ter deixado passar o momento ideal para a apuração e punição dos responsáveis por tais episódios infames, hoje salta aos olhos que isto jamais virá a ocorrer."
FONTE: escrito por CELSO LUNGARETTI, jornalista, escritor e autor do livro "Náufrago da Utopia". Publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/173309/A-redemocratiza%C3%A7%C3%A3o-pela-metade-e-o-inqualific%C3%A1vel-legado-de-Jos%C3%A9-Sarney-foram-o-legado-de-Tancredo.htm). [Título, imagem do google e trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].
Por CELSO LUNGARETTI, jornalista, escritor e autor do livro "Náufrago da Utopia"
"A grande imprensa, sob a batuta da 'Rede Globo', tudo fez para vender o conceito de que tal saída da ditadura pela porta dos fundos era "o coroamento das diretas-já". Fomos poucos os que percebemos o embuste.
Não, não serei eu a tecer loas à transição manipulada que deu fim à ditadura militar sem mudança real na composição do poder (só nos métodos...) e sem que deixassem o povo decidir quem ele queria colocar no lugar do último general ditador.
Nem endeusarei --jamais!-- o político conservador com carisma zero que preferiu ver os brasileiros derrotados mais uma vez, desde que isso lhe permitisse apropriar-se da faixa presidencial sem passar pelo teste das urnas.
Foi de arrepiar a campanha das diretas-já, desenvolvida pela cidadania para convencer o Congresso Nacional a aprovar a "emenda Dante de Oliveira", que restabelecia imediatamente as eleições diretas para presidente da República.
Houve uma série de grandes comícios nas nossas principais capitais, alguns deles reunindo até 1 milhão de brasileiros que não suportavam mais a bestialidade & boçalidade impostas pelos golpistas de 1964.
As minhas melhores lembranças são:
-- nas urnas, Tancredo não seria páreo para Lula.
-- o mar de camisas amarelas sinalizando a volta da esperança;
-- o incrível tour-de-force de Leonel Brizola que, em função da mesquinha disputa de espaço político no campo da esquerda, começou sob vaias seu discurso numa manifestação das diretas-já na Praça da Sé (SP) e, com sua fala empolgante, conseguiu colocar o público a seu favor, terminando sob aplausos generalizados; e
-- a promessa do craque Sócrates num comício-monstro do Anhangabaú (SP), de que, caso fosse restituído ao povo brasileiro o direito de escolher seu presidente, ele ficaria aqui para contribuir na redemocratização, recusando a proposta astronômica da Fiorentina.
Não, não serei eu a tecer loas à transição manipulada que deu fim à ditadura militar sem mudança real na composição do poder (só nos métodos...) e sem que deixassem o povo decidir quem ele queria colocar no lugar do último general ditador.
Nem endeusarei --jamais!-- o político conservador com carisma zero que preferiu ver os brasileiros derrotados mais uma vez, desde que isso lhe permitisse apropriar-se da faixa presidencial sem passar pelo teste das urnas.
Foi de arrepiar a campanha das diretas-já, desenvolvida pela cidadania para convencer o Congresso Nacional a aprovar a "emenda Dante de Oliveira", que restabelecia imediatamente as eleições diretas para presidente da República.
Houve uma série de grandes comícios nas nossas principais capitais, alguns deles reunindo até 1 milhão de brasileiros que não suportavam mais a bestialidade & boçalidade impostas pelos golpistas de 1964.
As minhas melhores lembranças são:
-- nas urnas, Tancredo não seria páreo para Lula.
-- o mar de camisas amarelas sinalizando a volta da esperança;
-- o incrível tour-de-force de Leonel Brizola que, em função da mesquinha disputa de espaço político no campo da esquerda, começou sob vaias seu discurso numa manifestação das diretas-já na Praça da Sé (SP) e, com sua fala empolgante, conseguiu colocar o público a seu favor, terminando sob aplausos generalizados; e
-- a promessa do craque Sócrates num comício-monstro do Anhangabaú (SP), de que, caso fosse restituído ao povo brasileiro o direito de escolher seu presidente, ele ficaria aqui para contribuir na redemocratização, recusando a proposta astronômica da Fiorentina.
Infelizmente, o Congresso [por influência e vitória da direita] rejeitou, em abril/2004, a "emenda Dante de Oliveira" e a eleição acabou sendo, mais uma vez, indireta. [Estranhíssimo foi toda a imprensa direitista, que se dedicava integralmente à campanha "Diretas Já", subitamente, de um dia para o outro, calou, esqueceu isso e passou a considerar a eleição indireta bela solução democrática].
Aí, parte dos parlamentares que haviam frustrado a vontade popular abandonou o partido da ditadura (PDS) e formou [disfarçou-se em] uma nova agremiação (o PFL, depois DEM) que, unida ao PMDB, assegurou a vitória do peemedebista Tancredo Neves no colégio eleitoral. [Alguns anos depois, o PFL/DEM virou reboque do PSDB].
Nas urnas, o carismático teria atropelado o apático.
Os vira-casacas de última hora receberam as recompensas de sempre.
Um dos piores deles era José Sarney, que presidia o PDS e estimulou a dissidência que viraria PFL [hoje DEM, aliado carnal do PSDB]... mas ele próprio se filiou ao PMDB, provavelmente para tornar mais digerível sua indicação para vice na chapa de Tancredo, que, evidentemente, já teria sido articulada nos bastidores.
A Presidência acabou lhe caindo no colo: como Tancredo, vitimado por uma infecção generalizada, nem sequer pôde assumir (Deus castiga!), o primeiro presidente pós-ditadura acabou sendo alguém que, meses antes, era um dos mais servis porta-falácias e lambe-coturnos dos militares.
E as perguntas que não querem calar:
-- quando, exatamente, esses congressistas de origem arenosa decidiram desembarcar da canoa furada da ditadura?
-- foi só depois de eles terem assegurado, com seus votos, a rejeição da emenda Dante de Oliveira?
-- ou já tinham esse projeto em mente, mas voltaram as costas ao povo para depois obterem bom preço nas barganhas com o PMDB?
Sua herança foi maldita.
Nunca tive a menor dúvida de que o jogo foi de cartas marcadas e terminou como o carteador queria.
O certo é que, pelo voto popular, daria Brizola ou Lula; pela via indireta, no infame tapetão, deu Tancredo.
A grande imprensa, sob a batuta da "Rede Globo", tudo fez para vender o conceito de que tal saída da ditadura pela porta dos fundos era "o coroamento das diretas-já". Fomos poucos os que percebemos o embuste e, em meio à euforia orquestrada, denunciamos que tinha sido, isto sim, o resultado da traição às diretas-já.[A saída de Figueiredo pela porta dos fundos do Planalto, passando a ideia de que não aceitava Sarney e para ele não queria passar a faixa presidencial foi uma inteligente encenação que enganou a muitos, mantendo a direita no poder].
O auê saudando a "Nova República" foi poeira colorida atirada nos olhos dos brasileiros, que acabaram engolindo gato por lebre: uma redemocratização pela metade, com expressiva participação de cúmplices da ditadura, ao invés da verdadeira ruptura com o totalitarismo que a aprovação da 'emenda Dante de Oliveira' teria propiciado.
Vai daí que não se investigaram as atrocidades cometidas pelo regime militar, nem se julgaram os criminosos (que haviam anistiado preventivamente a si próprios).
E, por se ter deixado passar o momento ideal para a apuração e punição dos responsáveis por tais episódios infames, hoje salta aos olhos que isto jamais virá a ocorrer."
FONTE: escrito por CELSO LUNGARETTI, jornalista, escritor e autor do livro "Náufrago da Utopia". Publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/173309/A-redemocratiza%C3%A7%C3%A3o-pela-metade-e-o-inqualific%C3%A1vel-legado-de-Jos%C3%A9-Sarney-foram-o-legado-de-Tancredo.htm). [Título, imagem do google e trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].
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