terça-feira, 15 de setembro de 2015

"FOLHA" CONCLAMA PARA A GUERRA CIVIL


[Obs deste blog 'democracia&política':

O "convite" do jornal tucano "Folha de São Paulo" para a guerra civil é o desespero da direita (isto é, do "mercado", do grande capital financeiro internacional) para voltar ao pleno poder no Brasil. Depois de 12 anos de derrotas, desistiram de tentar voltar pelo voto nas urnas. Agora é urgente, vale tudo: impeachment, golpe via TCU, via Gilmar Mendes, intervenção militar, guerra civil. Está forte e crescente a cobrança externa (CIA, Chevron etc) pelo retorno dos "investimentos" feitos em oposicionistas, que não chegam ao objetivo, mesmo com o enorme e diuturno esforço de apoio da mídia].


Por José Carlos de Assis é economista, doutor pela Coppe/UFRJ


"O editorial pornográfico da 'Folha de S. Paulo' divulgado no domingo (13), propondo, entre outras aberrações, cortes nos gastos orçamentários compulsórios com Previdência Social, Educação e Saúde, ultrapassa qualquer limite em termos de chantagem contra a Nação jamais praticada em nome das classes dominantes brasileiras e de seus associados internacionais.

De fato, o objetivo oculto por trás da obsessão do "orçamento equilibrado" é atender aos interesses do setor bancário e financeiro à custa do suor e do sangue dos brasileiros.

A "Folha" na realidade está construindo as condições para a guerra civil no país. Ela prega a ruptura não só da Constituição, mas do que resta do pacto solidário construído no Brasil desde a Era Vargas, e que resistiu inclusive à ditadura militar, tendo sido consideravelmente ampliado na democracia. O editorial é o mais descarado apelo ao retrocesso que as classes dominantes brasileiras jamais tiveram a ousadia de propor. Não tem qualquer compromisso com os interesses reais da população brasileira. É o enxovalhamento do povo.

Em grave crise financeira, a "Folha" chutou o pau da barrada: perdido por um, pedido por mil. Talvez acredite que um novo governo, qualquer que seja, trate financeiramente a Grande Imprensa ainda melhor do que tem feito o atual. No seu nível de irresponsabilidade, empurra milhões de pessoas para uma revolta contra as instituições, mediante a sonegação de direitos básicos que pareciam irreversíveis. Sabemos perfeitamente que uma guerra civil não começa como guerra civil. Começa com um estado de pré-convulsão social, do tipo instigado pela "Folha", vai para a convulsão, depois para os atentados, depois para a guerrilha. Só depois vem a guerra. E é quando os militares entram para por ordem na casa, a seu modo!

Diante desse ataque da direita radical empreendido pela "Folha", e em face do derretimento das instituições do Estado que ela expõe, o desafio que se coloca às forças progressistas é buscar formas concretas de fortalecer o estado solidário na base da sociedade, juntando as forças do empresariado industrial autêntico, não picareta, com as forças organizadas dos trabalhadores. O grande lance é a construção de pacto social negociado diretamente entre essas classes, e cujas proposições concretas sejam levadas ao Governo para aplicação em alternativa ao sistema vigente de total subserviência ao rentismo não produtivo.

Em termos teóricos, nosso desafio é fazer a revolução burguesa-industrial e a revolução social simultaneamente. A revolução burguesa, sim, porque o sistema atual coloca a indústria como escrava de um sistema financeiro de agiotagem que estrangula a capacidade de investimento, inovação e expansão do setor industrial privado. A revolução social porque, se voltarmos ao crescimento econômico, o que é perfeitamente possível, podemos não só defender, como expandir o estado de bem-estar social como base da estabilidade social e política do país.

O editorial da "Folha" é um acinte porque coloca a perspectiva de uma tragédia quando temos alternativas promissoras à mão. É uma estupidez econômica achar que temos de fazer superávit primário ou evitar níveis mesmo baixos de déficit. As economias norte-americana, inglesa e japonesa vivem de déficits desde 2008. A norte-americana teve déficits gigantescos de 2009 ao ano passado (até 10% do PIB), do que resultou firme retomada do crescimento. Nós reduzimos o superávit primário em 2009 e 2010, e tivemos crescimento especular de 7,5% em 2010.

Não é esse déficit insignificante de 30 bilhões de reais, usado pela "Folha" para chantagear o país e forçar o abandono do projeto social brasileiro, que constitui um desarranjo da economia. O problema da economia é a ausência de um programa de investimento público, mesmo que deficitário. O déficit público de hoje, quando bem operado para investimentos em infraestrutura, torna-se crescimento do PIB e da receita amanhã. Em outras palavras, ele se paga por si mesmo como ensina há 80 anos a boa doutrina keynesiana.

Se não conseguirmos construir um grande pacto social para superarmos a crise econômica e política, e se em lugar disso, intimidado pela "Folha", o Governo implementar um programa regressivo do tipo proposto por ela, já sabemos o endereço onde os doentes sem cobertura de saúde, os idosos e aposentados despojados de direitos previdenciários, os estudantes pobres sem condições de pagar faculdades, a turma do Bolsa Família e os sem casa e tantos outros pobres devem procurar ajuda: vão todos para a porta da "Folha", esperando que ela os reenvie para a proteção do sistema bancário!"

FONTE: escrito por José Carlos de Assis, economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor do recém-lançado “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, Ed. Textonovo, SP. Artigo publicado no portal "Vermelho"  (http://www.vermelho.org.br/noticia/270201-6). [Título e trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].

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