sexta-feira, 2 de outubro de 2015

DENÚNCIAS VAZIAS CONTRA LULA EM MANCHETES CHEIAS




Sobre denúncias vazias em manchetes cheias

Por Luis Nassif

"A manchete alertava os leitores do conteúdo exclusivo da reportagem: ”Documentos apontam que MP editada na gestão Lula foi 'comprada' por lobby”.


A reportagem do [autodeclarado tucano] "Estadão" era estrondosa.

Dizia que uma MP (Medida Provisória) editada em 2009 pelo governo Lula, teria sido “comprada” (assim, entre aspas) por um lobby visando favorecer a indústria automobilística. Falava-se em quantia de até R$ 36 milhões para conseguir a prorrogação de incentivos fiscais de R$ 1,3 bilhão por ano para indústrias automobilísticas das regiões nordeste e centro-oeste.

A matéria mencionava pagamento de R$ 2,4 milhões a um filho de Lula... dois anos depois que a MP foi aprovada. Para estabelecer alguma relação de causalidade, a reportagem informa que a MP entrou em vigor também de 2011. Ah, bom! Primeiro caso de suborno que não é pago no ato.

Segundo a reportagem, a CAOA (que não é flor que se cheire) e a MMC Motores (subsidiária da Mitsubishi) "pagariam honorários a um escritório de advocacia que seria responsável pelo suborno".

Aí entra o samba da reportagem doida.

Segundo a mesma reportagem, na correspondência interceptada, ficava-se sabendo que as empresas transferiram R$ 4 milhões para o lobista pagar “pessoas do governo, PT”. Segundo a matéria, o advogado “faltou com o compromisso”. O que, em tucanês, quer dizer, não pagou ninguém.

O texto sugere que o suborno se estendeu a “deputados e senadores”, sem mencionar nomes. Mas dá ênfase à tese do suborno mesmo sabendo-se – pela própria reportagem –que a CAOA recuou do pagamento quando descobriu que o advogado estava desviando recursos.

Tudo isso consta da matéria.

Mesmo assim, o jornal optou pela manchete taxativa: “Documentos apontam que MP editada na gestão Lula foi ‘comprada’ por lobby”. Ou seja, uma manchete que é desmentida pela própria matéria.

Não se parou nisso.

No decorrer do dia, o repórter policial do jornal soltou outra matéria onde dizia que “Mensagens obtidas pelo 'Estado', que estão sendo investigadas pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal, indicam que houve a oferta de propina para agentes públicos viabilizarem a MP”.

Não era verdade, conforme se leu na matéria original.

Mostrando que o ridículo não tem limites, a melhor síntese do novo PSDB, deputado Carlos Sampaio, solicitou ao Procurador Geral da República que investigasse a denúncia: “Os fatos são de extrema gravidade e, caso comprovados implicam a antiga cúpula do governo Lula, inclusive o próprio ex-mandatário”.

Para ajudar nas investigações, o bravo deputado – que também é procurador estadual – deveria correr ao endereço http://migre.me/rGCBX onde se encontram as provas do crime.

A MP prorrogava incentivos criados no governo PSDB/FHC, por inspiração do senador Antônio Carlos Magalhães, visando estender para as demais regiões do país incentivos disponíveis para as empresas do Sudeste.

A MP foi aprovada no Senado por um acordo de lideranças. Por unanimidade. Só alguém extremamente crédulo para supor a necessidade de pagamento de propinas para medidas de aprovação unânime.

O então combativo senador tucano Arthur Virgílio, depois de saudar ACM, declarou em alto e bom som: “O Brasil só será feliz quando as nossas riquezas forem melhor distribuídas. Que o Brasil um dia realize o sonho de ser desenvolvido em todas as regiões e não se faz isso concentrando investimentos em uma ou duas”.

Se não quiser enquadrar Virgílio, o bravo Sherlock Sampaio poderá pegar no pé do senador José Agripino (DEM-RN), frequentador das tertúlias de FHC, que garantiu que “nenhum estado nem município perderá com a aprovação da MP. E foi mais um a ressaltar a "clarividência" de Antônio Carlos Magalhães na luta pela aprovação do benefício”.

Para mostrar sua absoluta isenção, Sampaio deverá inquirir pessoalmente seu colega Tasso Jereissati (PSDB-CE), que declarou que o incentivo foi um "trabalho histórico, um março na história do Nordeste brasileiro".

Depois, todos se reunirão satisfeitos com o guru FHC, em um café da manhã na rua Rio de Janeiro, em Higienópolis, saboreando a manchete que o "Estadão" utilizará na edição impressa desta sexta-feira, para saudar seu notável feito jornalístico."

FONTE: escrito por Luis Nassif no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/noticia/sobre-denuncias-vazias-em-manchetes-cheias).

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