domingo, 11 de outubro de 2015

O NEOCOLONIALISMO DOS EUA NA ÁSIA E AMÉRICA LATINA


 



[Obs deste blog 'democracia&política': segundo noticiado esta semana, o TPP abrange os seguintes países: Estados Unidos, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã]

O neocolonialismo dos EUA na Ásia


"O acordo comercial do Pacífico [TPP] patrocinado pelos Estados Unidos é uma farsa colonialista que só serve aos interesses dos empresários norte-americanos, japoneses e coreanos.

Por J. Carlos de Assis*, em Carta Maior

Esses [países] têm base tecnológica, no caso da Coreia pelo menos em alguns nichos, que os capacitam a concorrer entre si e em todos os demais mercados do acordo. Os outros terão de se contentar em ser entupidos por exportações de bens e serviços dos três países mais avançados tecnologicamente e em entrar em conflitos comerciais mortais para exportar produtos sem qualquer valor agregado a fim de pagar a conta de importações aos mais ricos.

O Governo Obama deveria se envergonhar em patrocinar esse esbulho de populações pobres através do comércio assimétrico. Aliás, a indústria automobilística norte-americana, que se opõe ao acordo, deu o claro sentido da iniciativa quando reconhece que até ela não tem condições tecnológicas para enfrentar a concorrência coreana e japonesa. Se uma indústria que está na vanguarda produtiva dos Estados Unidos se dá ao luxo de ser protecionista, imaginem a fragilidade da indústria dos demais países, exceto os três mencionados, diante de um acordo que lhes tira toda possibilidade de proteção industrial.

Se alguém tem dúvida de que a ideologia do "livre comércio" sempre foi ao longo da história uma cobertura para os países avançados extraírem recursos dos mais pobres, basta ler o livro do coreano Há-Joon Chang, “Chutando a Escada”. O autor usa a metáfora do sujeito que sobe pela escada sozinho e a chuta para longe quando chega no topo a fim de que ninguém suba atrás, para caracterizar o livre comércio entre países com tecnologia e capacidade produtiva assimétricas, sobretudo no campo industrial. Inglaterra e EUA, os atuais campeões do livre-comércio, foram extremamente protecionistas ao logo de sua decolagem. E ainda hoje os EUA são protecionistas em vários ramos industriais e especialmente na agricultura.

Entretanto, porque estou escrevendo sobre algo que não nos diz respeito diretamente? Muito simples: o acordo do Pacífico foi celebrado pela grande mídia brasileira como o passo certo para prosperidade na Ásia. Indiretamente, ou às vezes até diretamente, os elogios apoteóticos com que foi saudado se apresentaram como uma crítica à política brasileira de rejeição à ALCA e de rejeição, pelo menos por enquanto, à estúpida proposta de um acordo de livre comércio com a União Europeia. Os que insistem em nos fazer retornar à condição de país primário-exportador e aí permanecer, buscando apenas interesses particulares em áreas específicas, atuam como vendilhões da pátria, sabendo ou não disso.

Obviamente, não há nenhum segredo de que o propósito americano, além de aumentar as próprias exportações, é bloquear a expansão da China na Ásia. Inútil. A China, uma potência também no campo geopolítico, está empreendendo uma política externa baseada na cooperação, com ganhos recíprocos para os países, diferente do modelo tradicional americano de atuar exclusivamente no sentido da abertura de oportunidades de exploração econômica para suas empresas privadas. Isso não tem como ser mudado. A consolidação da presença compartilhada da China na Ásia é um dado da realidade que os americanos terão que aceitar, independentemente do acordo comercial."

FONTE: escrito por J. Carlos de Assis, em "Carta Maior". O autor é economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor, entre outros livros de economia política, de “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, Ed. Textonovo, SP. Artigo transcrito no portal "Vermelho"  (http://www.vermelho.org.br/noticia/271242-2). [Título e trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].


COMPLEMENTAÇÃO


Créditos da foto: The White House / Flickr

TPP, TTIP, TISA: A estratégia dos EUA para manter sua hegemonia sobre o mundo

"Os acordos propostos possuem cláusulas secretas, atropelam o direito dos cidadãos enquanto as multinacionais lavam as mãos, ou seja: neoliberalismo na veia.

Por Francisco Parra, de Buenos Aires

O mundo está mudando. A consolidação da China como segunda maior economia do mundo e o surgimento dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ameaça o predomínio geopolítico que os Estados Unidos manteve durante décadas. Pela primeira vez, desde os acordos de Bretton Woods, quando o dólar se consolidou como moeda de referência internacional e foram criados o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, um país questiona a liderança do imperialismo estadunidense. Ambas as instituições financeiras ditaram, até agora, as regras de funcionamento comercial dos países, aplicando duras sanções às nações que fujam a essas regras.

Em julho passado, se constituiu formalmente o Banco de Desenvolvimento dos BRICS e o Banco Asiático de Investimentos e Infraestruturas. As duas instituições pretendem ser concorrência direta do FMI e do Banco Mundial.

Mas os Estados Unidos pretendem manter suas redes de influência sobre o mundo, ou entregá-las às suas empresas multinacionais. Atualmente, o governo estadunidense é o principal articulador dos três tratados comerciais inéditos que afetam os direitos de milhões de pessoas ao redor do mundo, e que passam por cima das democracias e da soberania dos países. O "Trans Pacific Partnership" (Tratado Trans-Pacífico, ou TPP em sua sigla em inglês) e o "Transatlantic Trade and Investment Partnership" (TTIP), que representam mais de 60% do PIB mundial. No mesmo pacote está o "Trade in Services Agreement" (TISA), que envolve 50 países e 68% do comércio mundial de serviços. Uma injeção de neoliberalismo inédita na história.

Os três tratados se caracterizaram pelo absoluto hermetismo nas negociações. Cada um tem cláusulas de confidencialidade que obrigam as partes a negociar em segredo. Só as equipes técnicas das delegações tiveram acesso ao que se discutiu – embora o observatório "Corporate Europe", onde ocorreram 560 reuniões do TTIP (92%) tenha se realizado com a presença de representantes das grandes multinacionais – e tudo o que se conhece sobre eles foi graças às revelações do Wikileaks.

As outras características dos três acordos são a regulação de normas supranacionais sobre conflitos, o que permitirá às empresas multinacionais cobrar de igual para igual de estados soberanos e à revelia – por enquanto – dos BRICS e de outras alianças contrárias ao imperialismo estadunidense, como PetroCaribe e Mercosul.

Na segunda-feira passada (5/19), após sete anos de negociações, os doze países que assinaram o TPP anunciaram um acordo que deverá ser aceito ou rejeita em todos os respectivos congressos. “Quando mais de 95% dos nossos clientes potenciais vivem fora das nossas fronteiras, temos que buscar maior iniciativa, pois não podemos permitir que países como China escrevam as regras da economia global”, afirmou o presidente estadunidense Barack Obama.

A assinatura definitiva dos três acordos é esperada para o fim deste ano, ou para 2016, consolidando o legado mais importante da Era Obama.

O Chile tem sido parte ativa na conformação dessa nova ordem, ao ser o membro impulsor do TTP e do TISA. Tudo isso em meio a um absoluto silêncio. As negociações de ambos os acordos se iniciaram durante o governo de Sebastián Piñera e continuaram com Michelle Bachelet, apesar de o programa de governo da "Nova Maioria" prever uma “revisão exaustiva dos seus alcances e implicações” e inclusive advertia sobre possíveis riscos, em setores que poderiam ser afetados e prejudicariam os cidadãos: propriedade intelectual, produtos farmacêuticos, compras públicas, serviços, investimentos e novas normas para o setor financeiro."


FONTE da complementação: escrito por Francisco Parra, de Buenos Aires. Publicado no site "Carta Maior" com tradução de Victor Farinelli  (http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/TPP-TTIP-TISA-A-estrategia-dos-EUA-para-manter-sua-hegemonia-sobre-o-mundo/6/34686). 

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