quinta-feira, 12 de novembro de 2015

PROCURADORES DA "LAVA JATO" E A DIREITA QUEREM ATÉ APGAR O "B" DE "BRICS"

           O presidente do PT, Rui Falcão

O que se quer, na verdade, é apagar a letra "B" do acrônimo "BRICS" 


Por LEOPOLDO VIEIRA, Foi coordenador do monitoramento participativo do PPA 2012-2015 e do programa de governo sobre desenvolvimento regional da campanha à reeleição da presidenta Dilma Rousseff

"Em declaração recente, o chefe da Operação Lava-Jato no Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, aquele que acredita que a Divina Providência o ajuda a combater o crime, tal qual numa Gothan City localizada no Bible Belt americano, anunciou que o próximo passo seria cobrar dos partidos a devolução dos supostos desvios do que a velha mídia classificou como "Petrolão".

O presidente do PT, Rui Falcão, em resposta - diz a imprensa - vai propor uma iniciativa conjunta dos partidos que podem vir a ser afetados, pois isso inviabilizaria, sobretudo, os dois maiores partidos populares do País: o PT e o PMDB, que, "por acaso", dirigem juntos o governo federal, segundo a vontade das urnas, desde pelo menos 2006, quando a aliança se oficializou.

Como se sabe, a Operação Lava-Jato tem diversas nuances políticas, juntas num tripé: prender Lula, derrubar Dilma e cassar o PT. E também nuances econômicas: inviabilizar o know how brasileiro na área da engenharia, petróleo e marketing político, coincidentemente setores em que o País se expande pelo mundo por meio da execução de obras em nações sem capital técnico para isso e mercados de alta competitividade, como os EUA, ou onde esses, através de suas empresas e inteligências, competem.

Vazamentos seletivos pelas mãos de policiais, servidores e magistrados, manipulados em articulação desses com parcela do jornalismo e da oposição, e politicamente orientados por setores da corporação jurídico-policial, têm tentando envolver Lula com as cenas da Lava-Jato para criar um clima aceitável à sua prisão ou deterioração de sua imagem para recandidatar-se em 2018. O conjunto da obra, narrado com evidente arquitetura ideológica pela velha mídia, ajudado a derrubar a popularidade presidencial, aumentado a pressão sobre o Congresso Nacional e inflamado as marchas conservadores e proto-fascistas pelo Impeachment. Agora, a parte que faltava para inviabilizar o PT, mesmo com a vitória do financiamento público e individual de campanha.

Na outra ponta, econômica, já encarceraram José Dirceu, cuja consultoria levou empresas brasileiras de diversos ramos para atuar em países Latino-Americanos, como, hipoteticamente, foram casos de obras no Peru, cujas notícias não conseguem fazer brotar uma vírgula de irregularidades, mas revelam o tamanho do incômodo só naquele país andino: restauração da rodovia Huaura-Sayán-Churín-Ponte Tingo (Andrade Gutierrez S.A.), construção da Avenida Néstor Gambetta (Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez), melhoria de Estação de Tratamento de água em Huachipa (Galvão Engenharia), restauração da estrada Quilca-Matarani (Camargo Corrêa), obras complementares na Rodovia Interoceanica Sur (Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão), projeto de Irrigação Chavimochic - etapa III (Engevix).

Nesse leque de empresas, hoje em situação de risco, reside a queda de 2% do PIB brasileiro projetado para 2015, contribuição decisiva para a crise econômica que alimenta a crise política e, de quebra, anima vozes que clamam pela abertura do mercado nacional para empresas estrangeiras, destacadamente as americanas e europeias, seja para obras ou para operar na exploração do Pré-Sal, por exemplo.

João Santana, que comandou as campanhas presidenciais do PT à Presidência da República desde 2006, além de ter tido opiniões determinantes para a superação da crise política de 2005, foi atacado, no primeiro semestre, como envolvido nas investigações da Lava-Jato e seu nome voltou à ribalta após os boatos de que poderia estar à frente de uma espetacular virada do peronista Daniel Scioli no segundo turno presidencial argentino do dia 22/11. Seu roll de sucessos inclui, além das campanhas vitoriosas de Lula e Dilma, a última reeleição de Hugo Chávez, a eleição de Nicolás Maduro, de Maurício Funes, de Danilo Medina e de José Eduardo dos Santos. Todos governos populares em nosso continente e na África, que seguem no comando de seus países por combinarem crescimento com inclusão social e distribuição de renda via regulação do Estado, com a expansão dos direitos, serviços e políticas públicas.

Lula, apesar de todo o incessante ataque que sofre, mantém-se na dianteira das pesquisas de opinião para 2018, segurando na unha de suas realizações como presidente, profundamente coerentes com sua trajetória pessoal e política. O PT, no pior momento de sua história, segue uma força política determinante na direção do país, em tamanho no Congresso e na gestão de estados e municípios, além de adesão de movimentos sociais e do povo pobre e trabalhador. Dilma, após a recomposição ministerial, conseguiu retomar um mínimo de iniciativa política para conduzir a nação a sair das duas crises, agregando paulatinamente massa crítica favorável e separando o joio do trigo: o que é a insatisfação dos trabalhadores e do povo com os efeitos da crise econômica e o que é a hidrofobia de ultradireita.

Por isso, a nova frente de Dallagnol é imprescindível, ainda mais com o fim dos jatos de dinheiro empresarial a serem depositados nas campanhas do PSDB e partidos que servem de contra-peso à força popular do PT. Invertendo o raciocínio de Dallagnol, que só vê encadeamentos imaginários conspiratórios negativos: sem voto, é preciso que a oposição quebre as molas propulsoras da economia do Brasil, a escancare para interesses do além-pátria, anule a influência política e econômica brasileiras que se associam ao modelo e estratégia de desenvolvimento de Lula, o principal produto "tipo exportação" do Brasil atual - que leva consigo outras partes da "cadeia produtiva" de prosperidade - constranja, coaja, iniba e proíba que essa própria "exportação" ocorra, inviabilize a popularidade presidencial para destruir a imagem de Lula e do PT e, em seguida, os tire da cena histórica.

André Araújo, no artigo "O mito dos pretorianos independentes", discorreu com maestria que o problema não é a apuração, mas o fato de as coisas estarem se encaminhando como na origem do FBI americano: "O exemplo de Roma de certa forma se deu no FBI. Seu diretor legendário J.Edgar Hoover passou a representar um perigo para a própria Presidência. Hoover tinha dossiês inclusive sobre Roosevelt, seu fanatismo anticomunista mirava a maioria dos auxiliares de Roosevelt que eram de esquerda. Quando Hoover morreu, a Presidência tratou de nunca mais deixar solto o FBI, estipulando severas regras de controle pela Presidência, incluindo também supervisão pelo Senado". Republicano é seguir a lei e não permitir que seja infringida para mostrar que não se "protege amigos".

Sem o PT, o Brasil do futuro que bate às portas, com mistura de raça e cor em todos os espaços, com força econômica e geopolítica, com know how e savoir faire para projetar o "Sonho Brasileiro" ou quiçá um "South American Way", que se assemelha ao "American Dream" pelos meios usados para se tornar idéia-força (o estado, as políticas públicas, a promoção de direitos, a permeabilidade democrática para a incorporação das lutas sociais etc), não existirá. Não por nenhuma pretensão de ser a nascente da verdade, mas por que, na história brasileira, só o "trabalhismo tropical" tentou e logrou fazer diferente nossa trajetória como nação.

O que se quer, na verdade, é apagar a letra "B" do acrônimo "BRICS". E, pasmem, os "borradores" são gente daqui, desmoralizados até pelo presidente dos EUA, Barack Obama, que além do famoso "You're the man" para Lula, disse para repórter hostil a Dilma, em coletiva quando da visita dela aos Estados Unidos, que não considerava o Brasil uma potência regional e sim mundial e nisso estava ancorada a nova relação.

Sobre isso, em postagem no Facebook, o professor Gilson Caroni Filho explica: "A América do Sul é um subcontinente onde o reformismo é visto como expressão de uma esquerda com planos totalitários. E por que é assim? Porque a maioria da nossa direita é fascista. E por que é fascista? Porque nossa burguesia, em função da subalternidade às suas congêneres europeias e estadunidenses e de seu caráter patrimonialista, não conseguiu implementar uma agenda própria de desenvolvimento capitalista. O que lhe restou? Viver à sombra do imaginário escravocrata e perpetrar golpes contra qualquer política inclusiva".

Portanto, sem tibiezas, a luta que o presidente Rui Falcão anuncia e convoca é uma luta da democracia brasileira e das chances de desenvolvimento do Brasil. Engajar-se nisso, na defesa do PT, ou em sua destruição, sorry, são as únicas opções, cuja escolha marcará a atual geração de brasileiros para sempre nos livros de História." 


FONTE: escrito por LEOPOLDO VIEIRAFoi coordenador do monitoramento participativo do PPA 2012-2015 e do programa de governo sobre desenvolvimento regional da campanha à reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Artigo publicado no portal "Brasil 247"  (http://www.brasil247.com/pt/colunistas/leopoldovieira/204550/O-que-se-quer-na-verdade-%C3%A9-apagar-a-letra-B-do-acr%C3%B4nimo-BRICS.htm).

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