sábado, 30 de janeiro de 2016

CAIU O DESEMPREGO EM DEZEMBRO. É O MENOR EM 7 MESES



2015 fecha com desemprego menor que 7%


Por Miguel do Rosário, no blog "O Cafezinho"


Análise Diária de Conjuntura

[...] "A imprensa está se autoenforcando. Claro que tudo isso causa dano político para Lula e para o PT. Intermináveis minutos no Jornal Nacional para tentar criminalizar o fato de Marisa Letícia usar um elevador privativo e opinar sobre os azulejos de um triplex meia boca em Guarujá consistem num ataque midiático tão violento como patético.

A história também serve para abrir os olhos de muita gente que ainda achava que a imprensa brasileira não era golpista e conspiradora.

Quanto à Lava Jato, é como se ela tivesse assinado um atestado de que se trata, efetivamente, de uma conspiração política. Ela se queimou. Não com todo mundo, claro. A mídia manipula o senso comum com a destreza acumulada em cinquenta anos de manipulação da opinião pública.

As próprias declarações de alguns caciques da oposição mostram isso: João Dória, pré-candidato do PSDB à prefeito de São Paulo, depois de xingar vulgarmente Lula, diz que "pedirá à Sergio Moro" para não prendê-lo agora. Ou seja, a Casa Grande está se deixando levar, cada vez mais, pelas emoções e pela arrogância - e isso é um erro gravíssimo em política.

Em política, não se pode, jamais ser arrogante, porque as coisas mudam. As rodas da história giram, mais lentamente do que gostaríamos, porém mais rápidas do que prefeririam os conservadores.

O debate em torno da Lava Jato é um debate que a esquerda sabe que vai perder no curto prazo.

Não se joga para ganhar agora, mas para que a vitória da mídia seja vista por parcelas importantes da sociedade, como uma vitória suja, lastreada em todo o tipo de autoritarismo e abusos.

Uma vitória que se converterá, em algum tempo, numa derrota política.

Os aparelhos repressivos do Estado sempre levam vantagem no início. A ditadura é bem vista em seus primórdios. Todos querem acabar com a bagunça e com a corrupção. Entretanto, o autoritarismo vai acumulando tantas arbitrariedades, violências, injustiças, que há um momento de virada.

Foi assim em 64, foi assim em todos os momentos de fascismo, é assim em "Making a Murderer", série documental da "Netflix" sobre uma conspiração entre polícia e procuradoria para manipular informações, depoimentos, provas, com objetivo de condenar um cidadão, custe o que custar.

O Brasil não vai querer se tornar uma ditadura de meganhas orientados por juízes irresponsáveis, midiáticos e autoritários, mais preocupados em frequentar as festinhas de João Dória e os regabofes da "Globo" do que responder a denúncias de arbitrariedade.

A mídia, por sua vez, ao abusar de seu poder, está preparando a cova onde será enterrada mais tarde.

Há um milhão de olhos observando os excessos autoritários da mídia, estudando suas estratégias de acusar, condenar e sentenciar de uma só vez.

Ontem, eu terminei de assistir a série documental "Making a Murderer". Um dos advogados do réu, num dos capítulos, comenta que o seu cliente, apesar de ter sido inocentado dos crimes pelos quais ficou injustamente preso durante 18 anos, jamais conseguiu recuperar sua imagem. "Ser acusado já é perder", observa, tristemente.

Esse é o objetivo da mídia, em especial o grupo dos quatro cavaleiros do apocalipse: Globo, Veja, Folha e Estadão.

O PT perdeu muito prestígio na sociedade, é certo. De certa forma, voltou ao que era nos anos 80, um partido sustentado politicamente por sindicalistas e intelectuais.

Há um fator natural nesse desgaste, derivado do longo tempo à frente do governo federal. Um amigo espanhol, analista político radicado no Brasil, me explica que o PT lembra muito o partido socialista em 1996, após mais de 12 anos ocupando o poder da presidência, sob Felipe Gonzaléz. O partido perdeu a presidência naquele ano, por pouco, mas em seguida foi perdendo vários municípios e províncias.

Em seguida, ganhou de novo a presidência, depois perdeu, e hoje o PSOE deve voltar ao poder em aliança com o "Podemos".

A mídia, porém, ao patrocinar um ataque tão descarado a um partido e ao ex-presidente, aliando-se a setores radicalizados de dentro do Estado, insuflando esses setores, blindando-os contra críticas, também se desgasta.

Um dos executivos da "Geração Editorial" me contou que o livro de Paulo Moreira Leite, que aborda a Lava Jato sob uma perspectiva crítica, está sofrendo bloqueio absoluto da imprensa. O outro livro de Paulo, sobre o mensalão, também sob uma ótica crítica, ainda conseguiu algumas menções na imprensa comercial. Esse não.

A imprensa é absolutamente, radicalmente, chapa-branca em relação à Lava Jato. Ela só dá a versão do Estado. Os advogados críticos à operação tiveram que pagar para publicar uma carta aberta nos jornais, o que é um absurdo. Por sua importância, apenas pelo interesse jornalístico, os jornalões deveriam publicar a carta. Em seguida, porém, a mesma carta começou a ser descontruída, esmigalhada, arrasada por colunistas, editorais e reportagens. O "Globo" fez uma reportagem às pressas sobre as condições nos presídios, dando seguimento à curiosa estratégia midiática de que a barbárie penal, ao invés de ser combatida, deve antes ser "democratizada" para empresários caídos em desgraça.

Por isso, eu chamei um dos advogados que assinam a carta e deu entrevistas à "Folha", o Técio Lins e Silva, que chamou a Lava Jato de "pior que ditadura", de ingênuo. Os advogados estão certos em fazer a guerra de comunicação, e oxalá não se assustem com o contra-ataque descontrolado das forças autoritárias que sustentam a Lava Jato. Elas reagiram assim porque, até então, não havia nenhuma reação à altura. Lins e Silva é ingênuo porque tinha que fazer, em paralelo com a estratégia via mídia comercial, um ataque também via redes sociais, algo assim como a campanha vitoriosa de Luis Fachin ao STF: criar hotsites, fazer o debate diretamente com a opinião pública, saltando por cima da mídia tradicional.

Tem que ousar, senão vão perder feio.

O problema da Lava Jato, enquanto conspiração política, é que não basta, para ela, vencer a batalha da opinião pública. Ela precisa arrasar completamente qualquer crítica. É como toda ditadura: ela precisa ser absoluta, incontestável. A prova é que a Lava Jato já tentou avançar na comunicação alternativa, quebrando sigilos de jornalistas da "Rede Brasil Atual", fazendo insinuações contra sites e blogs. Daí porque Merval Pereira menciona, num de seus acessos de ódio fascista, um desses "blogs rastreados pela Lava Jato".

E agora a Lava Jato, num deslize gravíssimo, faz dobradinha com a mídia para atacar o ex-presidente Lula.

O que nos entristece, porém, não é apenas essa contaminação política de setores do Estado que deveriam cultivar isenção e se manter afastados das lides partidárias, e sim a covardia dos tribunais superiores.

Claro, covardia essa que é fruto de uma desmobilização política patrocinada pelo próprio governo.

A "fundação Perseu Abramo", vinculada ao PT, e que poderia ser um "think tank" importante de resistência aos massacres midiáticos, foi asfixiada pelo próprio PT e pelo próprio governo, assim que este assumiu o poder em 2003, porque se temia a emergência de pensamento crítico.

Com isso, matou-se a renovação de quadros, e a consolidação de ideias políticas que pudessem cimentar os projetos do governo. Mais ou menos em 2010, o PT tentou forjar às pressas algumas teorias que sustentassem seus projetos sociais, mas esse tipo de coisa tem de ser feito de maneira gradual, democrática, plural, aberta, para atingir e influenciar as elites do serviço público, a saber, os juízes dos tribunais superiores.

Sem apoio teórico nenhum, os próprios juízes indicados pelo PT se voltam contra o partido, porque a mídia lhes dá o suporte que eles precisam para vencer suas indecisões - ao preço, claro, de serem cada vez mais influenciados. Também se esqueceu da necessidade, enorme!, de proteger os juízes do jogo sujíssimo da grande imprensa, através de uma estratégia inteligente, costurada com movimentos sociais e sindicatos, de defesa política. Abandonados à própria sorte, os magistrados mais progressistas não têm força para resistir às chantagens cada vez mais pesadas de uma mídia cujo principal poder é o de destruir reputações.

A dor carnal é provisória como a própria carne. A dor no espírito pode ser tão profunda quanto a profundidade do espírito. Isso significa, em termos imediatos e políticos, que o poder da mídia de provocar sofrimento, de condenar, de ferir, pode ser ainda maior do que o poder conferido ao Estado. E, no Brasil, não é um poder regulado.

O advogado de Lula, Nilo Batista, tem ensaios escritos sobre o tema, e tem falado sobre isso em entrevistas e artigos. Há leis modernas na Europa e nos Estados Unidos sobre a relação entre sistema penal e mídia. Mas esses assuntos não saem na... mídia.

O diretor Murillo Sales lançou um filme, há pouco, intitulado "O Fim e os Meios", que foi um fracasso absoluto de público. Deu pouco mais de 300 espectadores em todo país. Com perdão ao diretor, que é boa gente, foi um fracasso merecido porque aborda a questão política com um viés ridiculamente convencional. Um viés chapa-branca, eu diria. Há um político corrupto, caricatural, e uma jornalista pura, querendo denunciar a corrupção.

Ora, a arte precisa surpreender. Sabemos que há políticos corruptos, mas nem todos o são, e sobretudo, é preciso que o cinema brasileiro, e a literatura, saiam dessa armadilha em que caíram desde muitos anos e mostrem ao país que a corrupção está na mídia, no ministério público, no judiciário, na alta sociedade. E que os jogos políticos são muito mais complicados do que a mídia divulga.

A mídia brasileira é cúmplice de todas as corrupções, muito mais do que o atual governo ou o PT, porque esses governam o país há 13 anos, enquanto esses grupos de mídia existem há cinquenta, sessenta, oitenta anos, e se enriqueceram à sombra da corrupção e do autoritarismo!

Mas eu queria falar do desemprego. O IBGE divulgou quinta-feira que o desemprego no Brasil fechou 2015 em 6,9%, com uma queda importante sobre o mês anterior, quando havia atingido 7,5%. Alguns dirão que o desemprego diminui sempre em dezembro: tudo bem, está certo, mas diminuiu também este ano, e não em relação apenas a dezembro, mas em relação à outubro, à setembro, à agosto. É a menor taxa em sete meses.

Aliás, sempre que o tema é desemprego dói lembrar que a comunicação do governo seja tão absurdamente ruim, que a Dilma tenha concluído seu primeiro mandato com a menor taxa média de desemprego da história do Brasil, e, em nenhum momento, conseguiu transmitir essa informação ao público.








Na comparação com outros dezembros, a taxa do final de 2015 perde para a primeira gestão da própria Dilma, mais ainda se mantém menor do que a média de todo o governo Lula [e muitíssimo menor que o desemprego no governo PSDB/FHC].

Para encerrar o post, vamos relembrar o último "boletim Focus", divulgado na segunda-feira, pelo Banco Central, com as estimativas do mercado para este ano e 2017.

A previsão do mercado é que a inflação para este ano será de 7,23%, bem menor do que os 10% de 2015 e deverá declinar para 5,6% em 2017.

O PIB pode cair 3% este ano, mas começa a subir em 2017, quando se espera crescimento de 0,8%

A balança comercial vai disparar este ano: superávit de US$ 37,45 bilhões; para 2017, se prevê US$ 40 bilhões.

A inflação dos preços administrados deve crescer 7,6% este ano e 5,5% em 2017.

Todos os indicadores sinalizam forte melhora da economia em 2017, o que significa que o cenário deverá a melhorar já a partir do segundo semestre de 2016.

Até mesmo a indústria deve parar de cair e registrar crescimento de 1,5% em 2017.

O investimento direto no país, que deverá totalizar US$ 55 bilhões este ano, deverá subir para US$ 60 bilhões no ano que vem.

Outra lembrança que é incrível que a Dilma não consiga faturar: em seu governo, os investimentos estrangeiros no país nunca foram tão elevados."


FONTE: escrito por Miguel do Rosário em seu blog "O Cafezinho"  (http://www.ocafezinho.com/2016/01/28/2015-fecha-com-desemprego-menor-que-7/).

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