Narciso Mendes, o "Senhor X": a imprensa não o procurou...
Por Joaquim de Carvalho, do Acre, para o "Diário do Centro do Mundo"
"Em maio de 1997, a 'Folha de S. Paulo' publicou trechos de gravações em que dois deputados confessavam ter vendido o voto para aprovar a emenda à Constituição que permitiu a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.
A autoria das gravações era atribuída ao "Senhor X", e a identidade dele permaneceu sigilosa até que o jornalista e escritor Palmério Dória revelou, no livro "O Príncipe da Privataria", que se tratava de Narciso Mendes, empresário e político do Acre.
Mesmo com essa revelação, Narciso continuou tocando sua vida em Rio Branco sem ser procurado pela imprensa. É dono do jornal "O Rio Branco" e de uma afiliada do SBT, entre outras empresas. “Nunca interessou ao sistema que eu fosse ouvido. Nem naquela época, nem agora”, disse o empresário em uma das duas rodadas de entrevistas que já realizamos para nossa série sobre a reeleição de FHC, que será financiada por nossos leitores.
Narciso é um homem magro, que se veste de maneira simples e fuma escondido da esposa, a ex-deputada federal Célia Mendes, preocupada com o infarte que ele sofreu no ano passado. Sobre sua mesa, livros que tratam de política, assunto a que se dedica na teoria, como estudioso da obra de Maquiavel, e na prática.
Somando seus dois mandados – um deles como Constituinte –, e os dois de Célia Mendes, passou dezesseis anos no Congresso Nacional. “Aquilo é um balcão de negócios. Houve compra de votos naquela época e continua havendo hoje. Só uma reforma política para valer impediria que isso ocorresse. Mas ninguém quer reforma política, porque os que estão no jogo ganham com esse sistema”, afirmou.
O que mudou? “Antes 'o rei' era mais protegido”, afirmou. Não fosse protegido, diz ele, teria sido chamado para depor em alguma investigação sobre a compra de votos da reeleição.
Investigação até houve, como a realizada por uma comissão especial da Câmara, “mas não era para valer”. “Todos sabiam quem estava por trás, diz o Senhor X, aquilo era um segredo de Polichinelo. Eu nunca neguei. Mas acho que pensaram: deixa o Narciso para lá, quem sabe não temiam o que eu pudesse falar: centenas venderam o voto [segundo o senador gaúcho Pedro Simon, foram cerca de 150 deputados comprados pelo PSDB por R$ 200 mil, propina hoje equivalente a R$ 1 milhão cada], não foi só o pessoal do Norte como, preconceituosa e espertamente, o Fernando Henrique Cardoso disse”.
Durante uma das entrevistas, entrou na sala um jovem senador, Gladson Cameli, que havia dado entrevista para o SBT. Gladson combinou um café com Narciso e, depois que ele saiu, Narciso comentou: “O Fernando Henrique disse que até pode ter havido compra de votos, mas, se isso ocorreu, é porque a reeleição interessava aos governadores do Norte. O tio desse senador era na época o governador do Acre (Orleir Cameli, que intermediou a compra do voto de deputados do Estado), mas ele não se candidatou à reeleição. Então, por que fez? Tinha um acordo para entregar ao Fernando Henrique os votos de que ele precisava”.
FONTE: escrito por Joaquim de Carvalho, jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. Publicado no "Diário do Centro do Mundo" (http://www.diariodocentrodomundo.com.br/exclusivo-entrevistamos-no-acre-o-senhor-x-da-reeleicao-de-fhc-por-joaquim-de-carvalho/). [Título, imagem e trecho entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].
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