Curitiba não é Nuremberg
Por Alex Solnik, jornalista
"Me pergunto quando, como e por que começou esse furor punitivo no Brasil. Esse negócio de gritar com ex-ministro numa visita a hospital, de chamar Chico Buarque às falas na rua, de expulsar um petista de algum lugar, de xingar nas redes sociais, ameaçar esfolar. Afinal, o brasileiro nunca foi disso. Nunca foi de hostilizar ninguém.
Bandidos de verdade, de carne e osso, assaltantes e assassinos reais sempre foram aceitos, até os estrangeiros, como Ronald Biggs, que no Brasil virou celebridade. Torturadores nunca foram hostilizados e seus crimes, sem dúvida, são muito mais graves que esses revelados pela Lava Jato. Ditadores nunca foram achincalhados depois que caíram. Filhotes da ditadura desfilam impávidos em seus carros de luxo. Corruptos evidentes foram e continuam sendo homenageados.
Por que então, de repente, tanto ódio?
Envenenados por capas de revistas e jornais sensacionalistas que dão contornos exagerados aos fatos, os brasileiros estão enxergando nos acusados da Lava Jato – e nos petistas ou simpatizantes - verdadeiros carrascos nazistas, coisa que não são. Calma lá. Trata-se de crimes que se referem ao campo do dinheiro, trata-se de roubo, conluio, licitação combinada, mas ninguém ali matou ninguém. Ninguém torturou ninguém. Ninguém colocou ninguém numa câmara de gás.
No tempo da ditadura militar, torturadores como Sérgio Fleury não eram detonados na imprensa como são hoje políticos e empresários, apesar de ele ter comandado uma organização chamada Esquadrão da Morte que tanto caçou [e matou] ladrões e assassinos quanto perseguidos políticos.
A tentativa de comparar principalmente os petistas com bestas feras é evidente. A tentativa de certos veículos de sugerir paralelos entre os julgamentos de Curitiba e o julgamento de Nuremberg é um tapa na cara da Justiça, dos brasileiros e da verdade."
FONTE: escrito por Alex Solnik, jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento janeiro 2016). Artigo publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/214113/Curitiba-n%C3%A3o-%C3%A9-Nuremberg.htm).
Por Alex Solnik, jornalista
"Me pergunto quando, como e por que começou esse furor punitivo no Brasil. Esse negócio de gritar com ex-ministro numa visita a hospital, de chamar Chico Buarque às falas na rua, de expulsar um petista de algum lugar, de xingar nas redes sociais, ameaçar esfolar. Afinal, o brasileiro nunca foi disso. Nunca foi de hostilizar ninguém.
Bandidos de verdade, de carne e osso, assaltantes e assassinos reais sempre foram aceitos, até os estrangeiros, como Ronald Biggs, que no Brasil virou celebridade. Torturadores nunca foram hostilizados e seus crimes, sem dúvida, são muito mais graves que esses revelados pela Lava Jato. Ditadores nunca foram achincalhados depois que caíram. Filhotes da ditadura desfilam impávidos em seus carros de luxo. Corruptos evidentes foram e continuam sendo homenageados.
Por que então, de repente, tanto ódio?
Envenenados por capas de revistas e jornais sensacionalistas que dão contornos exagerados aos fatos, os brasileiros estão enxergando nos acusados da Lava Jato – e nos petistas ou simpatizantes - verdadeiros carrascos nazistas, coisa que não são. Calma lá. Trata-se de crimes que se referem ao campo do dinheiro, trata-se de roubo, conluio, licitação combinada, mas ninguém ali matou ninguém. Ninguém torturou ninguém. Ninguém colocou ninguém numa câmara de gás.
No tempo da ditadura militar, torturadores como Sérgio Fleury não eram detonados na imprensa como são hoje políticos e empresários, apesar de ele ter comandado uma organização chamada Esquadrão da Morte que tanto caçou [e matou] ladrões e assassinos quanto perseguidos políticos.
A tentativa de comparar principalmente os petistas com bestas feras é evidente. A tentativa de certos veículos de sugerir paralelos entre os julgamentos de Curitiba e o julgamento de Nuremberg é um tapa na cara da Justiça, dos brasileiros e da verdade."
FONTE: escrito por Alex Solnik, jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento janeiro 2016). Artigo publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/214113/Curitiba-n%C3%A3o-%C3%A9-Nuremberg.htm).
Nenhum comentário:
Postar um comentário