O jogo é no campo do inimigo; as regras, não
Por FERNANDO BRITO
"O que vai mudar é o ambiente, com o restabelecimento daquela paz que antes permitia a outros partidos fazer uso farto dos dois recursos [caixas 1 e 2] sem ser incomodados. Quando o PT deixar o poder, não haverá nem mídia, nem procuradores, nem Polícia Federal interessados em descobrir como as campanhas dos vitoriosos foram financiadas, nem como foram pagos seus marqueteiros. Quando o PT deixar o poder, todos esses agentes da turbulência atual vão descansar. A mídia voltará a plantar abobrinhas, a Polícia Federal a perseguir traficantes e outros meliantes, os procuradores a defender os direitos difusos da sociedade. Lula já será um leão sem dentes, talvez esteja até preso, e Dilma terá ido para o vale dos caídos, terminando ou não o mandato. E esquecidos também serão os do andar de baixo que galgaram alguns degraus nos governo do PT, que para se manter neles, aderiu ao que só era permitido aos outros" (Tereza Cruvinel).
A jornalista Teresa Cruvinel, em artigo publicado terça-feira, vai o ponto do que volta e meia tento dizer aqui: quem quer ser diferente precisa romper com “o que todo mundo faz”, porque ao cordeiro não se permite beber a mesma água do lobo.
E o que “todo mundo faz” – sempre fez, desde sempre – é perder a noção de que campanha política se compõe, essencialmente, de um monte de dinheiro e um marketing luxuoso.
Collor, o cavaleiro da moral em 1989, inaugurou a prática, em 1989.
Fiz, nesse ano, a campanha de Brizola.
E posso, honestamente, assegurar que não foi essencialmente a pobreza da campanha (pouco mais de US$ 1 milhão, menos do que custam hoje algumas campanhas de deputado federal, nos grandes centros), o que nos derrotou.
Foi a política, que abriu espaço para o PT crescer à sua esquerda e São Paulo, onde 1932 nunca acabou.
Hoje, porém, quem quiser participar, pra valer, do jogo, não pense em um cacife – miseravelmente – cem vezes maior.
É uma quantidade de dinheiro que, não há maneira de evitar, aqui ou ali gera lambanças.
E as lambanças, claro, são algo que só será visto nos adversários do sistema.
É claro que não houve roubalheira na "Vale", na CSN, nas empresas de telefonia, na venda de 30% das ações da Petrobras.
Nem, claro, traficou-se influência no jantar de gala promovido por FHC no Palácio Alvorada, um exercício de pobreza que colheu R$ 7 milhões (hoje, corrigidos pelo IGP-M, R$ 16,73 milhões), na narrativa insuspeita de Gerson Camarotti, na revista Época:
"Foi uma noite de gala. Na segunda-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso reuniu 12 dos maiores empresários do país para um jantar no Palácio da Alvorada, regado a vinho francês Château Pavie, de Saint Émilion (US$ 150 a garrafa, nos restaurantes de Brasília). Durante as quase três horas em que saborearam o cardápio preparado pela chef Roberta Sudbrack – ravióli de aspargos, seguido de foie gras, perdiz acompanhada de penne e alcachofra e rabanada de frutas vermelhas -, FHC aproveitou para passar o chapéu. Após uma rápida discussão sobre valores, os 12 comensais do presidente se comprometeram a fazer uma doação conjunta de R$ 7 milhões à ONG que Fernando Henrique Cardoso passará a presidir assim que deixar o Planalto em janeiro e levará seu nome: Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC).
O dinheiro fará parte de um fundo que financiará palestras, cursos, viagens ao Exterior do futuro ex-presidente e servirá também para trazer ao Brasil convidados estrangeiros ilustres. O instituto seguirá o modelo da ONG criada pelo ex-presidente americano Bill Clinton. Os empresários foram selecionados pelo velho e leal amigo, Jovelino Mineiro, sócio dos filhos do presidente na fazenda de Buritis, em Minas Gerais, e boa parte deles termina a era FHC melhor do que começou. Entre outros, estavam lá Jorge Gerdau (Grupo Gerdau), David Feffer (Suzano), Emílio Odebrecht (Odebrecht), Luiz Nascimento (Camargo Corrêa), Pedro Piva (Klabin), Lázaro Brandão e Márcio Cypriano (Bradesco), Benjamin Steinbruch (CSN), Kati de Almeida Braga (Icatu), Ricardo do Espírito Santo (grupo Espírito Santo). Em troca da doação, cada um dos convidados terá o título de co-fundador do IFHC."
Tudo muito bacana, diferente de se tivessem decidido reformar um telhado, fazer uma churrasqueira, comprar um barco de lata.
Não esperem justiça, equilíbrio, “republicanismos”. Muito menos as tais “mudanças” na política que prometem.
Cruvinel acerta em cheio na “mudança” que haverá:
“O que vai mudar é o ambiente, com o restabelecimento daquela paz que antes permitia a outros partidos fazer uso farto dos dois recursos sem ser incomodados. Quando o PT deixar o poder, não haverá nem mídia, nem procuradores, nem Polícia Federal interessados em descobrir como as campanhas dos vitoriosos foram financiadas, nem como foram pagos seus marqueteiros. Quando o PT deixar o poder, todos estes agentes da turbulência atual vão descansar. A mídia voltará a plantar abobrinhas, a Polícia Federal a perseguir traficantes e outros meliantes, os procuradores a defender os direitos difusos da sociedade. Lula já será um leão sem dentes, talvez esteja até preso, e Dilma terá ido para o vale dos caídos, terminando ou não o mandato. E esquecidos também serão os do andar de baixo que galgaram alguns degraus nos governo do PT, que para se manter neles, aderiu ao que só era permitido aos outros."
Não é uma escolha ser diferente. É uma necessidade vital."
E o que “todo mundo faz” – sempre fez, desde sempre – é perder a noção de que campanha política se compõe, essencialmente, de um monte de dinheiro e um marketing luxuoso.
Collor, o cavaleiro da moral em 1989, inaugurou a prática, em 1989.
Fiz, nesse ano, a campanha de Brizola.
E posso, honestamente, assegurar que não foi essencialmente a pobreza da campanha (pouco mais de US$ 1 milhão, menos do que custam hoje algumas campanhas de deputado federal, nos grandes centros), o que nos derrotou.
Foi a política, que abriu espaço para o PT crescer à sua esquerda e São Paulo, onde 1932 nunca acabou.
Hoje, porém, quem quiser participar, pra valer, do jogo, não pense em um cacife – miseravelmente – cem vezes maior.
É uma quantidade de dinheiro que, não há maneira de evitar, aqui ou ali gera lambanças.
E as lambanças, claro, são algo que só será visto nos adversários do sistema.
É claro que não houve roubalheira na "Vale", na CSN, nas empresas de telefonia, na venda de 30% das ações da Petrobras.
Nem, claro, traficou-se influência no jantar de gala promovido por FHC no Palácio Alvorada, um exercício de pobreza que colheu R$ 7 milhões (hoje, corrigidos pelo IGP-M, R$ 16,73 milhões), na narrativa insuspeita de Gerson Camarotti, na revista Época:
"Foi uma noite de gala. Na segunda-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso reuniu 12 dos maiores empresários do país para um jantar no Palácio da Alvorada, regado a vinho francês Château Pavie, de Saint Émilion (US$ 150 a garrafa, nos restaurantes de Brasília). Durante as quase três horas em que saborearam o cardápio preparado pela chef Roberta Sudbrack – ravióli de aspargos, seguido de foie gras, perdiz acompanhada de penne e alcachofra e rabanada de frutas vermelhas -, FHC aproveitou para passar o chapéu. Após uma rápida discussão sobre valores, os 12 comensais do presidente se comprometeram a fazer uma doação conjunta de R$ 7 milhões à ONG que Fernando Henrique Cardoso passará a presidir assim que deixar o Planalto em janeiro e levará seu nome: Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC).
O dinheiro fará parte de um fundo que financiará palestras, cursos, viagens ao Exterior do futuro ex-presidente e servirá também para trazer ao Brasil convidados estrangeiros ilustres. O instituto seguirá o modelo da ONG criada pelo ex-presidente americano Bill Clinton. Os empresários foram selecionados pelo velho e leal amigo, Jovelino Mineiro, sócio dos filhos do presidente na fazenda de Buritis, em Minas Gerais, e boa parte deles termina a era FHC melhor do que começou. Entre outros, estavam lá Jorge Gerdau (Grupo Gerdau), David Feffer (Suzano), Emílio Odebrecht (Odebrecht), Luiz Nascimento (Camargo Corrêa), Pedro Piva (Klabin), Lázaro Brandão e Márcio Cypriano (Bradesco), Benjamin Steinbruch (CSN), Kati de Almeida Braga (Icatu), Ricardo do Espírito Santo (grupo Espírito Santo). Em troca da doação, cada um dos convidados terá o título de co-fundador do IFHC."
Tudo muito bacana, diferente de se tivessem decidido reformar um telhado, fazer uma churrasqueira, comprar um barco de lata.
Não esperem justiça, equilíbrio, “republicanismos”. Muito menos as tais “mudanças” na política que prometem.
Cruvinel acerta em cheio na “mudança” que haverá:
“O que vai mudar é o ambiente, com o restabelecimento daquela paz que antes permitia a outros partidos fazer uso farto dos dois recursos sem ser incomodados. Quando o PT deixar o poder, não haverá nem mídia, nem procuradores, nem Polícia Federal interessados em descobrir como as campanhas dos vitoriosos foram financiadas, nem como foram pagos seus marqueteiros. Quando o PT deixar o poder, todos estes agentes da turbulência atual vão descansar. A mídia voltará a plantar abobrinhas, a Polícia Federal a perseguir traficantes e outros meliantes, os procuradores a defender os direitos difusos da sociedade. Lula já será um leão sem dentes, talvez esteja até preso, e Dilma terá ido para o vale dos caídos, terminando ou não o mandato. E esquecidos também serão os do andar de baixo que galgaram alguns degraus nos governo do PT, que para se manter neles, aderiu ao que só era permitido aos outros."
Não é uma escolha ser diferente. É uma necessidade vital."
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