sábado, 20 de fevereiro de 2016

A INSUPORTÁVEL FORÇA DE LULA



A insuportável força de Lula

Por ÂNGELO CAVALCANTE, economista, cientista político, doutorando na USP e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

"Em todos os levantamentos (eu disse todos!), pesquisas e medições eleitorais para o pleito de 2018, o ex-presidente Lula é franco favorito. Mesmo em levantamentos encomendados pelo PSDB indicam com clareza cristalina que, em se mantendo a atual tendência político-eleitoral, o Brasil será, de novo, governado pelo "presidente caboclo".

Nada pior para o demotucanato, afinal no último ano os laboratórios da direita ensaiaram de um tudo em seus longos e malcheirosos tubos de ensaio político-jurídico-midiáticos.

Da criminalização de ministros; passando pela hostilização pública de quadros do PT; por ataques ferozes a dignidade de técnicos do governo; pela tomada do poder, é claro, por meio de quarteladas típicas de republiquetas de bananas; pelo levante nazifascista-tupiniquim e bem boboca; pelo "pastelão requentado" do triplex do "é não é" dos Lula da Silva; até ao cômico da "canoa", de fato... Não faltou nada.

Com um pouco mais de leitura histórica do país, com algum entendimento do processo da formação sóciopolítica do Brasil, passaremos a entender que a luta de classes sempre foi uma constante na vida da "sociedade" brasileira; desta ou daquela forma, a diferença entre ricos e pobres não nos passou incólume. Sempre foi um elemento balizador das práticas, condutas, ações e procedimentos sociais no país.

É que os pobres se sabem pobres, mesmo com toda a parafernália ideológica que rouba iniciativas sociais e populares em torno da ação política coletiva, inteligentemente concebida e desenvolvida, ainda assim... Os pobres se sabem pobres e mais... Sempre se souberam pobres.

E vemos isso no cotidiano; em suas eternas brincadeiras sobre a própria condição; com seus arremedos de ricos, inclusive, bem presentes nas redes sociais; as imitações jocosas e sarcásticas a partir do consumo dos mais ricos e abastados. Tudo isso é, de alguma forma, a expressão, evidentemente, pelo humor, do reconhecimento da própria condição em que o mesmo pobre se encontra, em que se acha.

Não... Isso não é detalhe; não é filigrana antropológica ou; miudeza comportamental. Se saber pobre em um país como o Brasil altera condutas individuais e coletivas, instabiliza sociabilidades, gera sentimentalidades, passionalidades e relativiza desvios e absurdos corriqueiros e essa percepção gera convergência, alguma unidade e mesmo possibilidades políticas para a esquerda, mas não só para a esquerda... A direita também e, sobretudo, sabe se aproveitar e muito bem disso.

É nessa circunscrição de eventos, fatos e processos que a figura do nordestino Lula se sobressai. Ele, retirante e maltratado pela vida, sobretudo, pela vida imposta pela "malvada" gente do sudeste, sobretudo, de São Paulo.

Lula sobreviveu! Sobreviveu à seca das caatingas nordestinas; à seca do choque cultural de estar em uma muito "estranha" vida paulista; à seca humana e moral da ditadura; à seca dolorosa e afetiva da perda da mãe; às secas ríspidas e enfadonhas das lutas partidárias; às secas eleitorais que o tornaram em um "piscar de olhos" em criminoso sem crime, em farsante sem farsa e em traidor sem traição.

Muito estranho! Lula é, de longe, o mais enigmático personagem político da história brasileira. Não há ninguém que o alcance em mistério e complexidade.

As guerras contra as secas de sua descomunal vida continuam firmes e cerradas e agora, conforme verificamos, esta peleja é por manter-se de pé, vivo e portador da própria história. Por todos os flancos, avançam as forças da própria reação brasileira e que, em combate assimétrico e pavorosamente desproporcional, opera por desconstruir uma das principais lideranças vivas da esquerda latino-americana contemporânea.

A luta de Lula é, desta vez, por sua história. Não é por fazê-la... Ela já está feita, mas é por manter sua história consigo, com o brilho e a dignidade que o povo lhe conferiu. De algum modo, essa luta é também a própria luta do povo.

PS.: O nível de virulência dos ataques da mídia brasileira contra Lula e seu legado indica um estado/estágio eleitoral. Em se tratando de Lula e do PT, uma denúncia é, necessariamente, uma reação política. Nesse sentido, e conforme se verifica, Lula ainda é importante para a direita brasileira."

FONTE: escrito por ÂNGELO CAVALCANTE, economista, cientista político, doutorando na USP e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Publicado no portal "Brasil 247"  (http://www.brasil247.com/pt/colunistas/angelocavalcante/217195/A-insuport%C3%A1vel-for%C3%A7a-de-Lula.htm).

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