O jornalista Miguel do Rosário escreveu esta semana em seu blog “Óleo do Diabo”:
“Durante a vida inteira trabalhei como jornalista econômico. Poeta, jornalista e blogueiro. Levei, por muitos anos, uma existência dividida em compartimentos estanques, inteiramente separados. Como se fossem diferentes personalidades. Estou tentando, nos últimos tempos, unir minhas experiências, e realizar um trabalho mais conciso, mais uno, mais integrado. Apenas blogueiro. Reunindo todos os meus talentos. Não quero jogar fora, por exemplo, minha experiência em pesquisar, elaborar e analisar estatísticas.
Então hoje fui lá no Sistema Alice, um banco de dados on-line alimentado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que traz números atualizados mensalmente sobre as exportações e as importações brasileiras. Deparei-me com situações interessantes, com implicações políticas e geopolíticas.
Sabia que a América do Sul já importa muito mais do Brasil do que os Estados Unidos?
Nos últimos 12 meses até setembro, as exportações brasileiras para a América do Sul totalizaram 38,18 bilhões de dólares, com valor médio de US$ 1.455 a tonelada. No mesmo período, os EUA importaram, do Brasil, um total de 28,23 bilhões de dólares, com valor médio de US$ 957 a tonelada. Ou seja, não só nossos vizinhos hoje são muito mais relevantes para a balança comercial brasileira do que os EUA, como importam produtos com maior valor agregado.
Olha que estou contando apenas a América do Sul. Nem contei o Caribe e a América Latina como um todo. As vendas brasileiras para América Latina e Caribe atingiram 50,19 bilhões de dólares, com preço médio de US$ 1.183 a tonelada, ou 25,8% do total das nossas exportações. A participação dos EUA em nossa balança comercial, nos últimos 12 meses, ficou em 14,5%; em 2001/02 (mesmo período Out/Set) era de 26%.
Analisando apenas por país, todavia, os EUA ainda ocupam o primeiro lugar entre os principais destinos das exportações brasileiras, importando 27,99 bilhões em Out/Set 2007/08, um aumento de 90% em seis anos. Mas vale notar que a Argentina já ocupa o segundo lugar, e importou 17,85 bilhões no mesmo período, aumento de 595% sobre 2001/02.
Note que pequenas e pobres nações, tão comumente subestimadas por nossos colunistas econômicos, ampliaram de maneira excepcional suas compras de produtos brasileiros. Angola, por exemplo, importou o equivalente a US$ 1,71 bilhão do Brasil, pagando um valor médio altíssimo, de US$ 1.689 a tonelada, com aumento de 917% em seis anos.
Isso quer dizer que Angola vem comprando produtos brasileiros de alto valor agregado, como auto-peças, reatores nucleares, móveis e maquinários em geral, e não apenas, como os EUA, petróleo cru, minério de ferro e madeira.
As vendas de produtos manufaturados para os EUA não registraram aumento significativo nos últimos anos – o que aumentou mais foi a exportação de petróleo, que cresceu 509% desde 2001/02”.
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