terça-feira, 25 de setembro de 2012

O ALVO É DILMA EM 2014

Por Eduardo Guimarães


“O PT vai despertando de um transe que fez com que acreditasse que seria sustentável para a democracia brasileira conviver com monstrengos como esses impérios de comunicação que cada vez mais vão se tornando uma espécie de jabuticaba, porque, em breve, só existirão no Brasil. E há quem acredite que esse despertar já chegou até à Presidente da República.

Ao Sul da América do Sul, porém, a semana começou com uma notícia que exige muita reflexão: até dezembro, os oligopólios de mídia argentinos, a começar pelo “Grupo Clarín” (a “Globo” argentina), terão que se desfazer de considerável parte de seus impérios, no âmbito da entrada em vigor de uma lei da mídia idêntica à que existe em qualquer parte do mundo desenvolvido.

É um avanço imenso, impensável no Brasil. Afinal, em nenhum país civilizado existem grupos de comunicação que operam em todas as plataformas de mídia (televisão aberta e a cabo, rádio, jornais, revistas e portais de internet) como ainda ocorre em vários países latino-americanos, ainda que boa parte deles já esteja impondo regras a essa orgia comunicacional.

O resultado desse remanescente gigantismo e dessa voracidade por verbas públicas dos grandes grupos empresariais de comunicação todos estão vendo no Brasil. Cada vez mais, essas aberrações vão atuando como um poder paralelo ao do Estado – e, muitas vezes, prevalente.

Há pouco, ocorreu um fenômeno que só é possível em uma nação em que a comunicação não tenha regras e na qual um minúsculo grupo de grandes empresas de mídia consiga sufocar a pluralidade exigível em setor tão vital. Um veículo de imprensa escrita fez uma acusação grave a um ex-presidente da República, não apresentou uma só prova e essa acusação passou a ser vendida pelos outros três grandes impérios midiáticos e seus tentáculos como se fosse fato inquestionável.

Reflitamos sobre quantos veículos há hoje no Brasil com poder de:

1 – Pautar a Suprema Corte de Justiça e o Ministério Público, fazendo com que acusem e condenem sem provas seus adversários políticos.

2 – Fazer acusações gravíssimas aos adversários políticos sem apresentar uma só prova e sem responder por calúnia e difamação, porque qualquer reação é chamada de “censura”.

3 – Mandar repórter invadir até o quarto de dormir de adversários políticos.

4 – Manter fora do alcance de investigações funcionários envolvidos com o crime organizado.

A CPI do Cachoeira, por exemplo, irá investigar jornalistas envolvidos no esquema. Contudo, serão só os de pequenos veículos de Goiás. Ou seja: a licença para delinquir em nome da “liberdade de imprensa” não é para a imprensa, mas só para algumas empresas de comunicação.

Essas empresas escolhidas (pelo tamanho e pelo poder econômico) põem seus funcionários para agredir as mais altas autoridades da República tecendo histórias que não provam e intimidando os agredidos com acusações de “censura”. E ninguém faz nada.

Os juízes do Supremo José Antônio Dias Tóffoli e Ricardo Lewandoski vêm sendo acusados, insultados, ridicularizados e até caluniados por funcionários de “Veja”, “Globo”, “Folha” e “Estadão” em suas “colunas” impressas e em “blogs” corporativos.

O ex-presidente Lula, que como todo ex-presidente deveria ser tratado com um mínimo de respeito, ainda que não esteja acima de críticas, foi insultado pesadamente por um colunista. Não houve uma acusação, houve xingamento puro e simples. É tratado como um criminoso condenado, assim, abertamente.

Minha mulher pergunta “Como é que pode?”. Podendo, respondo. Ela quer saber se ninguém pode fazer nada. Digo que só quem poderia fazer é Lula e ele não processa ninguém. Não faz como Serra, que processou o autor de “Privataria Tucana”. E se processasse não adiantaria nada porque “Veja” tem muito dinheiro e, se condenada, paga a indenização e pronto.

Agora, se Lula entrasse na Justiça contra o tal colunista que só faltou xingar sua mãe, o processo demoraria anos e anos e, ao fim, a empresa que o emprega, paga. Garantir proteção aos seus pistoleiros é vital para que ataquem sem medo.

A classe política, o Judiciário, o Legislativo, o Executivo, todos se borram de medo de uma máquina que conta com uma horda de arapongas pronta a devassar a vida de qualquer um usando escutas ilegais, invasão de domicílio, chantagem e o que mais se puder imaginar.

E se a mídia não acha nada, inventa. E se não conseguir inventar, apela à ridicularização e à injúria, gerando desgaste emocional e destruindo o ambiente social de seus alvos. Imagine o sujeito que sai na capa da “Veja” ou da “Folha”, como lida com vizinhos, amigos, parentes, colegas de trabalho etc. É uma condenação. O sujeito paga a pena sem jamais ter sido condenado.

O julgamento do mensalão, pois, pretende plantar, já neste ano, a base de uma pretensa morte política do PT e do ex-presidente Lula. Mas o objetivo não são as eleições municipais de 2012 e o julgamento em tela não terminará após expedir suas sentenças. Está sendo plantada a base para que tenha um desenrolar.

O ministro do Supremo Joaquim Barbosa citou a presidente da República ao ler seu voto sobre uma das celeradas “fatias” que inventou para facilitar o curso desse que já é reconhecido por inúmeros juristas como um “tribunal de exceção”, ou seja, onde os critérios de julgamento fogem aos ditames do Direito e da jurisprudência.

Aqui e ali, nesse conclave entre o oligopólio midiático e os partidos de oposição ao governo federal, já se diz que o mensalão que está sendo julgado é parte de coisa ainda maior. Ou seja: estão ensaiando o discurso com o qual pretendem chegar a 2014.

Se a dobradinha entre Supremo e Procuradoria-Geral da República de um lado e grande mídia de outro funcionar bem, lá pelo início de 2013 Lula será arrolado em alguma investigação sobre a acusação sem áudio, sem vídeo e sem confirmação alguma que a “Veja” lhe fez.

As certezas que os tais “colunistas” manifestam em que a Justiça será favorável ao plano, obviamente que derivam de conhecimento de bastidores por parte do patronato midiático em relação aos órgãos que dão curso à campanha de criminalização do PT e dos seus políticos mais eminentes.

Como não se fazem necessárias provas de nada para que o chefe do Ministério Público teça considerações sobre a hipótese de processar Lula, o mesmo valerá para qualquer outro cidadão brasileiro. Bastará uma reportagem que diga que ouviu dizer uma acusação pelo amigo, pelo parente ou pelo associado de alguém para que o Estado aceite a premissa.

Acabou a democracia no Brasil. Não é preciso mais provar nada para acusar alguém. E o que é pior: tal prerrogativa só vale para alguns, ou seja, para determinado grupo político.

O enfraquecimento do PT que está sendo plantado hoje com tanto afinco, com tanta sofreguidão, a um custo de milhões e milhões de dólares de campanhas publicitárias desencadeadas para difamar e caluniar, obviamente que não visa a eleição de prefeitos e vereadores.

Anote aí, leitor: está sendo plantada a semente do envolvimento da presidente Dilma Rousseff no mensalão 2, sobre o qual os mercenários empregados na grande mídia já falam abertamente.

Antes, porém, será preciso anular o padrinho político dela, de forma que não concorra em seu lugar se conseguirem envolvê-la em alguma coisa que a impeça de disputar a própria sucessão, contando, para isso, com o beneplácito da Procuradoria-Geral da República e com a obediência do Supremo Tribunal Federal.

Os cínicos, os ingênuos e os mal-informados farão a mesma pergunta: ora, mas por que a mídia quereria tanto destruir um partido se o capitalismo vem ganhando tantos presentes dos últimos dois presidentes da República (Lula e Dilma)?

Sim, o governo Lula e o governo Dilma cederam muito ao capitalismo selvagem que vige no Brasil. Contudo, como se viu no caso dos bancos, os governos do PT cederam e cederão só enquanto não tiverem condições para deixar de ceder. Além disso, o gasto social de governos petistas e as políticas para redistribuir renda e oportunidades estão tornando o rico menos rico e o pobre menos pobre.

Quase posso ouvir a ultraesquerda e a direita rindo juntas da afirmação que encerra o parágrafo anterior. Todavia, só se não tiver alguém para esfregar na cara delas o índice de GINI, que, aliás, melhora tanto no Brasil que pistoleiros do Partido da Imprensa Golpista já até tentaram desqualificar a mais reconhecida fórmula de mensuração da desigualdade.

Nos próximos anos, os índices oficiais mostrarão a continuidade de uma distribuição de renda que, a partir do governo Lula, ganhou um impulso visível a olho nu, sem nem necessidade de recorrer a estatísticas. E esse é o xis da questão.

Distribuição de renda no país virtualmente mais desigual do mundo obviamente que mobiliza contra si os poderes que produziram essa situação. Alguém já se perguntou por que o Brasil é tão mais desigual que qualquer outro país em estágio similar de desenvolvimento?

A concentração de renda brasileira é digna de qualquer republiqueta bananeira. Aliás, os países que se ombreiam conosco em injustiça social são só os países mais miseráveis e sem importância política da África e da América Latina. Ou seja: nenhum país com tanta riqueza e tecnologia quanto o nosso tem desigualdade sequer parecida.

A equação que construiu esse fenômeno desde a Proclamação da República se sustenta no uso de meios de comunicação de massa para produzir realidades virtuais e para calar quem disser o que não interessa aos beneficiários da injustiça social, aqueles que a mídia diz que não existem, que são invenção dos que querem “luta de classes”.

Eis porque o PT se tornou “inviável” para a elite que concentra renda e que é dona das maiores fortunas e dos mais importantes grupos de mídia.

Distribuição de renda? Ora, para dar a alguém há que tirar de alguém, por isso se diz distribuição, ou redistribuição. Desenhando: a quantidade de dinheiro que existe no país é uma só. Não dá para criar riqueza e dar só para quem tem pouco, tem que tirar de quem tem muito ou de quem tem mais ou menos e dar a quem não tem. É assim que funciona.

O mais engraçado de tudo isso é que os que têm muito sempre acabam empurrando uma conta desse tipo para quem tem mais ou menos, ou seja, para a classe média, que, no entanto, adota o discurso daquele que lhe empurra a conta. E achando-se muito inteligente por isso…

Enfim, digressões à parte, é assim que a banda toca. Se não houver uma reação já, o script é esse.

O tom arrogante dos mercenários da grande mídia se deve à certeza de que está tudo dominado: seus patrões, além de dinheiro, têm como chantagear qualquer poder da República com campanhas de difamação como as que se abateram sobre Tóffoli, Lewandowski, Lula etc.

É nesse contexto que se olha para a única pessoa que tem hoje poder para enfrentar tudo isso: Dilma Vana Rousseff. Porque mídia e oposição demo-tucana detêm o poder máximo do Judiciário graças a Lula e ela terem nomeado procuradores-gerais e ministros do Supremo de olhos fechados, acolhendo indicações da Justiça e do Ministério Público.

Lula chegou ao poder crente em que teria que agir de forma “republicana” na indicação daqueles que são os únicos que podem inclusive processar presidentes, condená-los e até destituí-los do cargo. Deu nisso aí.

O homem que agora está nas mãos de um procurador-geral da República que já se mostrou seu adversário político nomeou sempre aquele novo procurador-geral que o Ministério Público Federal indicava enquanto que os presidentes e governadores tucanos nomeavam e nomeiam procuradores-gerais afinados consigo politicamente.

Inocência? Sim, com absolta certeza. Lula foi inocente. Mas Dilma está sendo ainda mais. Começou seu governo achando que poderia se entender com a mídia sem entender que ela não passa de braço político de um setor da sociedade, o setor mais rico. Ponto.

Dilma também despertou? Alguns dirão que suas respostas aos insultos de Fernando Henrique Cardoso e de Joaquim Barbosa e a nomeação rápida do novo ministro do STF constituem sinais de que já entendeu o que está acontecendo. A preocupação, porém, é a seguinte: quem caiu naquele conto talvez ainda não tenha percebido que é o alvo final disso tudo.”

FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania.com”  (http://www.blogdacidadania.com.br/2012/09/o-alvo-e-dilma-em-2014/).

4 comentários:

Thaynara MG disse...

Estão percebendo como voces ficam batendo sempre na mesma tecla, a mídia, a mídia e a mídia.
Só lembrando uma coisa, nós estamos no poder desde 2002, o Pt junto com o Pmdb são os maiores partidos da base disparados, tanto na câmara como no senado, e se o Pt e o Pmdb quiserem, conseguem aprovar qualquer coisa, ou seja, com a mídia contra, já somos a grande maioria, e mesmo assim voces reclamam. Aí te pergunto? Querem que a mídia para de criticar coisas erradas para que, para o congresso ser 100% base aliada, e que com isso, se possa esconder os malfeitos?
Sou Dilma, sou Pt! Sei que o Pt tem mente muito perigosas lá dentro, mas dentro todos os partidos, é o que a sujeira nao ficou por debaixo do tapete, e isso é uma grande vitoria da democracia, agora basta a gente saber votar com mais consciencia.
Outro detalhe, não me vem falar de Argentina, pois aquilo lá nao é modelo a ser seguido, a doida presidenta, faz o que quer, recebe maleta de dolares do Chaves, e nao quer que os argentinos viagem com seus dolares conseguidos com muito suor.

Unknown disse...

Não sei por que, me lembrei da fábula do lobo em pele de cordeiro.
Thaynara, enfatizo alguns conceitos que já expressei em resposta a comentário seu em postagem da última semana.
Admiro e respeito você ser petista. Eu não sou filiada ou comprometida com nenhum partido.
Sobre a sua crítica de repetirmos a tecla “a mídia, a mídia e a mídia”, você sabe, com certeza, mas parece disfarçar não saber, o porquê.
Alguns blogs tentam mostrar a violenta luta da direita para voltar ao poder no Brasil, radical, sem compromisso com a verdade. Essa luta "dos conservadores" se dá, especialmente, por intermédio da “grande” mídia.
Infelizmente, é luta desigual: David (poucos blogs) x Golias (grandes conglomerados financeiros e econômicos estrangeiros e nacionais/ grande mídia e seus blogs corporativos).
Metaforicamente, é como se esses blogs fossem poucas e fracas vozes tentando mostrar verdades, fazendo frente às mentiras capciosas que gigantescas caixas de som de imensos trios elétricos espalhados pelo Brasil martelam ininterruptamente na população há 10 anos.
Pode ser luta perdida. Contudo, se adotarmos a atitude (que você já propôs) de "parar de nos preocupar com a Globo" (e com todos os demais jornalões, revistas, TVs, PGR, certos Juízes), seria acovardar-se, seríamos, aí sim (como você alfinetou), uns “coitados”.
Não queremos, como você acusa, que “a mídia pare de criticar coisas erradas”. Ao contrário. O que achamos é que ela não deve ser seletiva e proteger, omitir os erros dos partidos da direita (PSDB,DEM,PPS). É essa capciosa parcialidade da mídia que criticamos.
Quanto às suas críticas à Argentina, também você sabe, e todos nós sabemos, o motivo. Elas partem da direita internacional, que quer a volta dos neoliberais, a volta de Menem, que, assim como FHC/PSDB, tanto bem fizeram para os ricos e grandes grupos financeiros e econômicos das grandes potências. Para eles, bons tempos em que a Argentina se afundava e os ricos gastavam e drenavam todos os seus dólares para o Exterior.
Maria Tereza

Thaynara MG disse...

Entendo seu lado tambem Maria Tereza, mas eu estou com uma forma de pensar um pouco diferente, onde quero começar a corrigir o presente para ter um futuro melhor, e que com esse presente, possamos começar a julgar todos de forma igualitária.
Vim aqui para comentar, pois nao resisti, e resolvi mandar esse link para voce, é sobre a Argentina, só nao me fale que é notícia inventada. Por favor.
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/9/24/no-reino-de-cristina-k

Unknown disse...

Thaynara,
Primeiro, discordo que se comece somente julgando e corrigindo a partir do presente (por exemplo, a partir, inclusive, do presente julgamento do dito "mensalão do PT"), dispensando, esquecendo como passado a enterrar, os mensalões do PSDB e DEM e o julgamento das anteriores gigantescas falcatruas antinacionais dos governos FHC/PSDB/DEM+penduricalho PPS, que quase levaram o Brasil à irrecuperável ruína.
Quanto ao artigo sobre a Argentina, está bem escrito. Contudo, integra a radical e insana mídia direitista que ainda detém o monopólio da opinião publicada naquele país.
Este blog já postou interessantes artigos sobre aquele país vizinho. Sugiro, por exemplo, ler o seguinte: http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8732285301380128557#editor/target=post;postID=8143962046541856180
Maria Tereza