Por Luiz Carlos Bresser-Pereira
“Não vale a
pena ser o queridinho do Norte; o que valeu ao Brasil ocupar esse posto?
Em novembro passado, a revista "The
Economist" publicou um relatório especial em que colocou o México nas
alturas. Graças a uma taxa de crescimento melhor do que a do Brasil nos dois
últimos anos e a uma política ainda mais favorável aos interesses do Norte do
que a nossa, o México passava a ser seu novo "darling"-um papel que o Brasil até há pouco ocupava.
Nos anos 2000, o Brasil era declarado "o melhor dos BRICS" porque era o
que melhor atendia aos interesses do Norte, não obstante apresentasse
crescimento que correspondia a menos de um terço do da China, à metade do da
Índia, e a menos de um terço do da Rússia. Agora, o Brasil passou o bastão para
o México.
Foi com esse quadro de fundo em mente que cheguei
ao México. E o que leio no jornal “Reforma”? Já na primeira página sou
informado que "O crime domina a
fronteira sul".
Segundo câmaras empresariais de 30 municípios, o
crime organizado assumiu o controle da fronteira sul. É a manchete do jornal,
porque a notícia é nova. Sabemos bem que o norte do México, a fronteira com os
Estados Unidos, foi tomado pela máfia das drogas, mas agora é o sul que cai na
mesma tragédia.
Ainda na primeira página, sou informado que "No Canadá, temem o México". Segundo
um relatório apresentado ao “Colégio Militar Real”, o Canadá deve deixar de
considerar o terrorismo sua principal ameaça e concentrar-se nos desafios que o
México (e a máfia das drogas)
representa para o país.
Para terminar, ainda na mesma edição, leio que, nos
últimos 20 anos, as doenças tropicais, também chamadas "males da
pobreza", aumentaram em 20% no sudeste do país, segundo a “Academia Mexicana de Dermatologia”.
Mas o México agora cresce, dizem seus novos arautos
internacionais. É verdade. Depois de 20 anos de baixo crescimento desde que
aderiu ao “Acordo do Atlântico Norte”
[NAFTA], bem mais baixo do que o do Brasil (que foi modesto), nos últimos dois
anos o país cresceu, em média, 3,5% ao ano. Mas qual o preço pago por esse
ainda magro crescimento? O preço de salários reais estagnados nos mesmos 20
anos e níveis de pobreza muito mais elevados que tornam competitiva a economia
mexicana apesar do câmbio apreciado.
Não vale a pena ser o queridinho do Norte. O que
valeu ao Brasil ocupar esse posto? Mais investimentos pelas multinacionais, me
responderão. Sem dúvida, mas serão tão interessantes para o país esses
investimentos? Não serão as respectivas entradas de capitais uma causa da
apreciação cambial? E não será por isso que as oportunidades de investimento
lucrativo diminuíram e os empresários passaram a investir menos, de forma que a
poupança externa substituiu a poupança interna ao invés de se somar a ela, e o
que realmente aumentou foram consumo e remessas [para o Exterior] de
dividendos?
Foi bom para o Brasil ter deixado de ser o objeto
de desejo do Norte. Isso talvez signifique que nossas políticas econômicas
respondem melhor ao interesse nacional, que nossa dependência está diminuindo,
que aqui se está buscando construir uma Nação, algo que já não parece ser
verdade para o belo e antes orgulhoso México.
FONTE: escrito por
Luiz Carlos Bresser-Pereira e publicado na “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/95566-do-brasil-para-o-mexico.shtml).
[Imagem do Google e pequenos trechos
entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
Nenhum comentário:
Postar um comentário