Pier Luigi Bersani
Por Flávio Aguiar“Parece mentira, mas os conservadores governantes europeus estão torcendo por um ex-comunista, Pier Luigi Bersani, na próxima eleição italiana, que se realiza dentro de uma semana, entre 24 e 25 de fevereiro. Pier Luigi Bersani, do Partido Democrático (ex-PCI), lidera a coalizão “Itália Bem Comum”, e tem 33,6 % das intenções de voto.
O problema por trás desse paradoxo chama-se Sílvio Berlusconi. A coligação de direita que ele lidera, solidamente conservadora, mas antieuropeia e antiplanos de austeridade, conta com 28,5%, e vinha crescendo ameaçadoramente. Berlusconi é considerado hoje como uma ameaça à estabilidade europeia, se é que existe alguma estabilidade num continente varrido pelas tsunamis austeras que corroem direitos e pauperizam ainda mais vários países do continente.
Curiosamente, Berlusconi que, ao contrário de Bersani, é considerado um “mídia-man”, foi prejudicado em sua ascensão pela renúncia do Papa, que lhe roubou muito tempo dos noticiários e debates na TV italiana, de que ele é um dos “capas-pretas”. Bersani é, seguidamente, descrito como muito eficiente na administração, mas destituído de carisma pessoal e avesso a câmeras, holofotes e microfones.
Para o observador externo, a sensação de paradoxo aumenta porque Bersani pode depender da colaboração de Mario Monti, o tecnocrata de Bruxelas/Frankfurt que virou político ao tornar-se literalmente o interventor da União Europeia em Roma depois do defenestramento de Berlusconi orquestrado pela ‘cúpula da UE. E, sobretudo, pela então dupla Merkozy. Monti está em quarto lugar nas pesquisas, com 13,1% dos votos, mas pode tornar-se o fiel da balança num quadro eleitoral confuso, como o atual italiano. Pelas pesquisas, Bersani deve poder constituir maioria confortável na Câmara de Deputados (630 cadeiras, no total), mas terá dificuldades no Senado (315 cadeiras), onde o concurso de Monti seria decisivo.
O terceiro lugar é ocupado pelo “Movimento Cinco Estrelas”, liderado por Beppe Grillo, um ex-comediante que saiu do palco artístico para o político algum tempo atrás. Condenado por homicídio culposo num acidente de carro, Grillo não pode se candidatar a primeiro-ministro. Mas os candidatos de seu movimento contam com 18,1% dos votos, e seu comportamento é imprevisível. Sua plataforma centra-se em bandeiras anticorrupção, fáceis de levantar numa Itália há tempos sob a sombra de Berlusconi e com escândalos financeiros e outros até no Vaticano.
O candidato mais à esquerda, o ex-procurador Antonio Ingroia, conta com 4% das intenções de voto. É pouco provável que se disponha a integrar uma coalizão em que Mario Monti tome parte. Essa não seria a única dificuldade de Bersani, pois seu companheiro de coalizão, Nichi Vendola, do Partido “Esquerda-Ecologia-Liberdade” é um conhecido crítico das políticas “austeras” de Monti e preconizadas pela chamada 'Troika' (FMI + Comissão Europeia + Banco Central Europeu) para o continente e em particular para a Zona do Euro.
Vendola, que vem se mostrando decidido a evitar um papel meramente decorativo num futuro governo, era, como Bersani, membro do antigo Partido Comunista Italiano. Ao contrário desse, opôs-se à transformação do PCI em Partido Democrático. Vitoriosa a mudança, aderiu, primeiro, ao Partido da Refundação Comunista, de que se desligou ao perder a disputa pela sua liderança. Conseguiu, surpreendentemente, eleger-se na província da Apúlia, no sul da Itália, pois, conhecido homossexual e líder de organizações gay, deveria ter poucas chances numa região tida como altamente conservadora.
A paradoxal e complicada situação italiana ilustra as dificuldades para se construir uma alternativa viável, mais à esquerda, para a atual ortodoxia hegemônica nos planos econômicos para o continente. A saída pela direita, proposta por Berlusconi, parece, num primeiro momento, mais resistente como proposta política. Porém, ela representa, certamente, uma ilusão. Sem sólida política de geração de empregos, de investimentos sociais amplos, e de contenção da farândola financeira, qualquer alternativa à propalada “austeridade” tende a reduzir a cacos a situação já fragilizada e instável da população italiana. Sem falar que Berlusconi contaria, ainda, com ampla hostilidade internacional, tanto à direita quanto à esquerda."
FONTE: escrito por Flávio Aguiar no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21628) [Imagens do google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].
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