sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

PETROBRAS, LUCROS E PERDAS

“O recente anúncio do recuo de 36% no lucro líquido da Petrobras em 2012 causou alvoroço tão grande quanto inadequado.

Por Haroldo Lima

O desempenho financeiro de uma empresa como a Petrobras não pode prescindir de análise histórica de sua lucratividade, de apreciação sobre os preços do que produz e de consideração sobre suas congêneres. Só assim as distorções e os gargalos podem aparecer em suas verdadeiras dimensões, sem hipertrofias político-ideológicas.

No ano de 2012, com o recuo de 36%, o lucro líquido da Petrobras ficou em R$21,18 bilhões. Seu significado fica mais claro quando o olhamos em perspectiva.

De 1995 até 1999 (são os primeiros cinco anos dos mandatos de Fernando Henrique) a média de lucros da Petrobras foi de R$1,19 bilhões. Em 2000, os lucros cresceram e sua média, nos três últimos anos do governo de FHC, foi de R$6,93 bilhões, praticamente seis vezes a dos primeiros anos.

A partir de 2003, há um salto nos lucros da estatal e a média atingida nos oito anos seguintes (que correspondem aos dois governos de Lula) foi de R$25,5 bilhões, passando pelo recorde de R$35,19 bilhões, em 2010. Nenhuma empresa brasileira teve, durante tanto tempo, lucros tão excepcionais.

Os anos de 2011 e 2012 correspondem aos primeiros do governo Dilma. E aí, a média de lucros passou a ser de R$27,25 bilhões, maior que a estupenda média dos oito anos de Lula. Por onde se vê que o lucro de R$21,18 do ano de 2012 está longe de ser um desastre e nada tem a ver com risco de “desmonte” da Petrobras.

Mas, lucros altos e baixos ocorrem, e quais suas causas? São várias. Grosso modo, entretanto, pode-se dizer que o básico, o fundamental para os lucros de uma grande petroleira é o preço do petróleo.

No governo FHC, de 1999 para 2000, nenhuma mudança foi feita na direção da Petrobras e o lucro da empresa foi multiplicado por seis. É que o preço do petróleo subiu. Nos oito anos do governo Lula, a partir de 2003, os preços do petróleo cresceram com mais ímpeto ainda, atingindo US$134/b em meados de 2008. A Petrobras estabeleceu recordes de lucratividade, superiores a US$10 bilhões trimestrais.

Essa correlação entre lucro de grande petroleira e preço de petróleo é tão vigorosa que as maiores petroleiras garantem seus lucros no posto de venda dos derivados, mas sabem que o grande lucro mesmo não vem do posto, mas do poço. Naturalmente que outros fatores interferem na formação do lucro, como a produção, a demanda de óleo e seus derivados, a rede de distribuição, a exportação, a competência de seus dirigentes etc.

Alguns desses fatores atingem indistintamente as petroleiras, por isso que acontece, por vezes, que elas se encontrem em situações similares. No início do segundo semestre de 2012, por exemplo, de vinte grandes petroleiras, onze tiveram prejuízos, sendo que das dez maiores, apenas uma cresceu, a Exxon. Todas as demais tiveram queda de lucro. E a Exxon cresceu porque vendeu ativos.

À luz desse quadro, vê-se como o lucro de R$21,18 bilhões da Petrobras em 2012 não indica descalabro algum em nossa estatal, e seu recuo de 36% é, sim, um problema que precisa ser compreendido e corrigido, a começar pela identificação de suas causas. E aí é que se viu, na quase unanimidade dos que reagiram ao “recuo de 36%”, o veredicto de que a causa central dessa queda foi a decisão governamental de não permitir o aumento do preço da gasolina, já que parte dela era importada a preço maior. Isso está longe de ser verdade.

Primeiro, porque durante praticamente toda a década passada a estabilidade do preço da gasolina em nada impediu a incessante melhora dos resultados trimestrais. Entre 2003 e 2011, com preços estabilizados, o lucro da Petrobras foi multiplicado por cinco.

Segundo, porque, no último ano, os preços dos combustíveis não ficaram congelados. Em novembro de 2011, os da gasolina subiram cerca de 10% e os do diesel, 2%. Em junho de 2012, a União “zerou” a CIDE o que, em tese, poderia reverter a margem negativa do refino da Petrobras.

Terceiro, porque o prejuízo com a importação da gasolina, no segundo trimestre de 2012, foi quatro vezes menor do que com a importação do diesel (R$ 400 milhões versus 1,9 bilhão) e os dois somados formam valor relativamente pequeno frente à receita das vendas totais: R$69 bilhões, com alta de 3%, comparada ao trimestre anterior.

Finalmente, porque a maior causa do prejuízo foi cambial. Só no segundo trimestre do ano passado, o dólar saltou de R$1,80 para R$2,04, e a empresa teve que provisionar perdas de R$6,4 bilhões. Simulação de um especialista da ANP mostrou que, mantidas as importações da gasolina e diesel, e sem aumentar seus preços internos, se não houvesse o prejuízo cambial a Petrobras teria saído, no segundo trimestre de 2012, de um prejuízo de R$1,38 bilhão para um lucro de R$5 bilhões (Duque Dutra).

Outras causas existiram do dito recuo, como a queda da produção, a desvalorização de estoques, importações de GNL (por causa das térmicas), “baixa” de poços secos etc.

Uma petroleira estatal como a Petrobras tem duplo objetivo: ajudar o Estado a desenvolver o país, alavancar a indústria e os serviços, propiciar o surgimento de pequenas e médias empresas setoriais; e tem, também, o dever de se afirmar como grande empresa, aumentando sua produção e modernizando-se. Na convergência desses dois objetivos, deve garantir ao povo combustível bom e a preços módicos.”

FONTE: escrito por Haroldo Lima, ex-diretor geral da “Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis”. Artigo publicado no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=206563&id_secao=1).

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