Da “Folha”
“Nas paredes do escritório de Galo Mora, 56, estão fotos de líderes revolucionários, como o mexicano Pancho Villa, o argentino Che Guevara e o equatoriano Eloy Alfaro, que comandou a revolução liberal do século 19.
Mora, hoje secretário-executivo do “Alianza Pais” e ex-ministro da Cultura, é um dos nomes mais próximos a Rafael Correa e uma espécie de porta-voz das ideias que governam sua gestão.
Leia os principais trechos da entrevista:
Folha - Em entrevista recente ao jornal "El Telégrafo", o presidente Rafael Correa disse que o "processo" é mais importante que sua figura. Há uma "correização" da política equatoriana?
Galo Mora - Me perguntaram outro dia se eu era um "correísta". Não sou. Sou um revolucionário, por isso apoio Rafael Correa.
Não houve nenhum movimento de longo prazo na América Latina, salvo o peronismo, que subsistiu baseado numa figura idealizada. A tendência desejada de nosso movimento agora é que haja despersonalização. No Brasil, no Uruguai, o PT e a Frente Ampla nasceram antes de suas figuras hoje fortes. Nós não tínhamos estrutura partidária; fizemos o movimento contrário. Agora é a hora de buscar isso.
A imagem do governo e do presidente, no exterior, é negativa. Por quê? Falta propaganda?
Há certo preconceito de Terceiro Mundo aí. Ninguém vê lideranças fortes europeias como caudilhistas. Ninguém diz que Churchill ou Stálin eram caudilhos. Mas Rafael Correa, sim.
Tudo começa com o conflito que temos com a imprensa aqui, que desenha uma imagem que ecoa nos meios estrangeiros. Os meios equatorianos não informam, defendem interesses.
A SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) os representa, mas nós não os reconhecemos. Eles estão sediados em Miami e comprometidos. A confrontação tinha que vir no momento em que nos propusemos a democratizar a comunicação.
A Lei de Comunicação é uma das prioridades de uma provável próxima gestão. Em sua opinião, por que incomoda tanto as empresas?
O que está em jogo aí é a definição das licenças. Segundo a nova lei, 33% serão do Estado, 33% de empresas privadas e 33% de comunidades. Isso impedirá a concentração de meios e estragará negócios.
Outros pontos da lei são menos conhecidos, mas igualmente importantes. Um deles é o que estabelece que donos de bancos não podem ter empresas de comunicação.
Não queremos todos os meios a nosso favor. Uma sociedade sem dialética, sem crítica, não avança. Mas queremos que se cumpra a lei.
Como será a atuação externa na próxima gestão?
[A ideia] sempre foi fortalecer o caráter regional. Nesse sentido, somos herdeiros de próceres das independências. Bolívar dizia que os anglo-saxões eram mais perigosos que os espanhóis. Era um mago prestidigitador: o capitalismo gerou necessidades de consumo e escravismo tecnológico. Naturalmente, será privilegiada a relação com o Brasil, com a Celac, a Unasul, o Mercosul.
A economia dolarizada não é um obstáculo?
Não se valorizarmos o caráter político dessas aproximações. É preciso armar uma nova arquitetura econômica e financeira regional, e o Equador quer participar disso. “
FONTE: publicado na "Folha de São Paulo" (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/94253-ninguem-diz-que-churchill-era-caudilho.shtml).
“Nas paredes do escritório de Galo Mora, 56, estão fotos de líderes revolucionários, como o mexicano Pancho Villa, o argentino Che Guevara e o equatoriano Eloy Alfaro, que comandou a revolução liberal do século 19.
Mora, hoje secretário-executivo do “Alianza Pais” e ex-ministro da Cultura, é um dos nomes mais próximos a Rafael Correa e uma espécie de porta-voz das ideias que governam sua gestão.
Leia os principais trechos da entrevista:
Folha - Em entrevista recente ao jornal "El Telégrafo", o presidente Rafael Correa disse que o "processo" é mais importante que sua figura. Há uma "correização" da política equatoriana?
Galo Mora - Me perguntaram outro dia se eu era um "correísta". Não sou. Sou um revolucionário, por isso apoio Rafael Correa.
Não houve nenhum movimento de longo prazo na América Latina, salvo o peronismo, que subsistiu baseado numa figura idealizada. A tendência desejada de nosso movimento agora é que haja despersonalização. No Brasil, no Uruguai, o PT e a Frente Ampla nasceram antes de suas figuras hoje fortes. Nós não tínhamos estrutura partidária; fizemos o movimento contrário. Agora é a hora de buscar isso.
A imagem do governo e do presidente, no exterior, é negativa. Por quê? Falta propaganda?
Há certo preconceito de Terceiro Mundo aí. Ninguém vê lideranças fortes europeias como caudilhistas. Ninguém diz que Churchill ou Stálin eram caudilhos. Mas Rafael Correa, sim.
Tudo começa com o conflito que temos com a imprensa aqui, que desenha uma imagem que ecoa nos meios estrangeiros. Os meios equatorianos não informam, defendem interesses.
A SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) os representa, mas nós não os reconhecemos. Eles estão sediados em Miami e comprometidos. A confrontação tinha que vir no momento em que nos propusemos a democratizar a comunicação.
A Lei de Comunicação é uma das prioridades de uma provável próxima gestão. Em sua opinião, por que incomoda tanto as empresas?
O que está em jogo aí é a definição das licenças. Segundo a nova lei, 33% serão do Estado, 33% de empresas privadas e 33% de comunidades. Isso impedirá a concentração de meios e estragará negócios.
Outros pontos da lei são menos conhecidos, mas igualmente importantes. Um deles é o que estabelece que donos de bancos não podem ter empresas de comunicação.
Não queremos todos os meios a nosso favor. Uma sociedade sem dialética, sem crítica, não avança. Mas queremos que se cumpra a lei.
Como será a atuação externa na próxima gestão?
[A ideia] sempre foi fortalecer o caráter regional. Nesse sentido, somos herdeiros de próceres das independências. Bolívar dizia que os anglo-saxões eram mais perigosos que os espanhóis. Era um mago prestidigitador: o capitalismo gerou necessidades de consumo e escravismo tecnológico. Naturalmente, será privilegiada a relação com o Brasil, com a Celac, a Unasul, o Mercosul.
A economia dolarizada não é um obstáculo?
Não se valorizarmos o caráter político dessas aproximações. É preciso armar uma nova arquitetura econômica e financeira regional, e o Equador quer participar disso. “
FONTE: publicado na "Folha de São Paulo" (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/94253-ninguem-diz-que-churchill-era-caudilho.shtml).
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