Por Diogo Costa
ABRAÇO DE AFOGADOS
“O mundo presencia, em tempo real, ao desdobramento
da maior crise econômico-financeira desde o ‘Crash’ de 1929. As receitas, com
variações e graduações mais ou menos acentuadas, caminham em direções opostas,
por exemplo, n'alguns países da América do Sul e na Europa. A receita ordotoxa
pró-cíclica ministra os remédios do corte de investimentos estatais, do arrocho
salarial e da demissão em massa de funcionários públicos. O outro modelo
propugna por mais intervenção do Estado, diretamente ou como indutor e
regulador da atividade econômica.
Quais são as receitas do PSDB para o Brasil atual?
O governo Dilma Rousseff vem pesando a mão (para
os padrões brasileiros dos últimos 20 anos) na intervenção econômica.
Interveio nas concessões de geradoras de energia elétrica, nos juros da taxa
SELIC e não abre mão do reforço ao PAC. Qual é a política do PSDB para o
salário mínimo, para as relações internacionais do país, para as comunicações,
para o pré-sal etc? Ao que parece, Aécio Neves resolveu ressuscitar Fernando
Henrique Cardoso (e toda a sua antiga
equipe econômica), renegado duas vezes por José Serra (2002 e 2010) e
renegado por Alckmin em 2006.
Isto representa, na prática, uma ode ao passado
neoliberal que ruiu em 15 de setembro de 2008. Será que, trazendo economistas
dos 'áureos' tempos de globalização neoliberal, será que resgatando as teses do
“Consenso de Washington” o PSDB conseguirá conquistar os corações e mentes do
povo brasileiro? Gostem ou não, a América do Sul viveu, em pouco tempo,
experiências distintas, diametralmente opostas e que deixou como herança alguns
símbolos políticos importantes. Os símbolos da era que ruiu são justamente os
ex-presidentes Carlos Menem, Alberto Fujimori e Fernando Henrique Cardoso, para
citar apenas os mais conhecidos.
Os símbolos da era pós neoliberal são os
presidentes Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e Dilma Rousseff. Por mais
esforço que um analista político queira fazer nos dias atuais para negar
determinados fatos, pelo menos um ele não conseguirá negar. Qual seja, o fato
de que os presidentes neoliberais dos anos 90 do século passado figuram no
imaginário das populações de seus respectivos países como recordações
desagradáveis de um tempo de submissão canina ao FMI, ao Clube de Paris, um
tempo de 'relações carnais' com os EUA, de desregulamentação financeira, de
solapamento de direitos trabalhistas, de aumento das desigualdades sociais, de
arrocho salarial e desemprego galopante etc.
Soa incompreensível para o mais principiante cientista
político o fato de que Aécio Neves pretenda subir a rampa do Palácio do
Planalto no dia primeiro de janeiro de 2015 empunhando bandeiras de triste
memória. Se fossem apenas bandeiras de triste memória, tudo bem, mas a questão
é que, além da triste memória, são bandeiras que levaram o mundo ao impasse
atual, são teses que faliram fragorosamente. Em que pese o tempo da política e
das massas não ser o tempo da economia real, não há possibilidade, no Brasil de
hoje, de que alguém ganhe musculatura eleitoral negando os 10 anos de governos
do PT, ou fazendo-lhe oposição frontal. Isso seria nada mais do que
improducente suicídio eleitoral.
O PSDB precisa dizer ao povo brasileiro, de forma
convincente, qual é o seu novo credo em matéria de economia política. Precisa
dizer se permanece fiel aos dogmas moribundos do passado que ruiu ou se foi
capaz de construir uma nova síntese. Até o presente momento, o partido
apresenta velhas fórmulas que, se aplicadas como panacéia para os males de
Pindorama, em menos de seis meses transformariam o Brasil numa Grécia ou numa
Espanha. É isso que pretendem apresentar como solução para o país? Enfim, se
alguém ainda tem dúvida de que Dilma Rousseff é favoritíssima para vencer a
eleição de 2014, pode 'tirar o cavalinho da chuva'...
Mesmo com eventuais falhas aqui e acolá na condução
da política e da economia nacionais, Dilma Rousseff está à frente de um trem
que avança no rumo certo para vencer a crise. O povo brasileiro está muito
amadurecido políticamente e não trocará um trem que avança (mesmo que lentamente) pelo caminho certo
por um trem que pretende avançar (ao que
parece rapidamente) rumo ao precipício da volta aos tempos do estado
mínimo. A onda moralista, neoudenista, será capaz de suprir a falta de um projeto
alternativo (não neoliberal) ao capitaneado hoje pelo PT? Não foi capaz em 2006
e nem em 2010; por que seria em 2014?
Alguma alma caridosa deveria avisar Aécio Neves de
que, ao abraçar tão decididamente a figura de Fernando Henrique Cardoso, ele corre
o sério risco de acabar sem oxigênio, num autêntico abraço de afogados. A
questão que fica é a seguinte: o PSDB tem, atualmente, entre seus quadros
capacidade e desejo de superar o seu passado de principal partido neoliberal do
Brasil? Se não conseguir virar a página com nova formulação programática, pode
sucumbir antes mesmo de um dia ter feito jus ao 'social democracia' que ostenta em seu nome partidário. Enquanto isso,
o PT segue nadando de braçadas.”
FONTE: publicado no portal de Luis Nassif
(http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-crise-e-as-receitas-do-psdb-para-o-brasil). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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