Golpismos, paranoias e teorias de conspiração
Por Miguel do Rosário
"Publico abaixo o artigo de Breno Altman, que trata de um assunto relevante neste momento: teorias de conspiração.
A correlação de forças negativa no Judiciário, no Ministério Público e, obviamente, na mídia, somada a uma polarização eleitoral radicalizada que sataniza o adversário, gera um ambiente perigosamente propício a golpes brancos, costurados legalmente.
Essa é a teoria de conspiração que assombrou um espectro político durante este “terceiro turno” eleitoral: a direita iria dificultar a diplomação de Dilma, eventualmente até abrir caminho para um impeachment, através de um golpe no TSE.
É tênue, porém, a linha entre um necessário estado de alerta máximo e uma postura alarmista e conspiratória.
Por outro lado, conspirações existem, isso é um fato.
E teorias de conspiração não são, necessariamente, erradas.
Mas elas podem sugar energias importantes, que poderiam ser usadas em ações mais produtivas.
Enfim, é um assunto que devemos discutir à luz do dia, porque a luz resolve ambos os problemas: desinfeta as teorias malucas, e combate as conspirações verdadeiras.
GOLPISMO JÁ FRACASSOU?
Por Breno Altman, no Opera Mundi
"A esquerda e o petismo estão um tanto perplexos com a nova estratégia da direita. Afinal, ao contrário do que se passou em pleitos anteriores, o bloco conservador trocou o recuo para acumulação de forças, que naturalmente se segue a derrotas eleitorais, por escalada agressiva e militante contra o governo.
Amparados pela artilharia fornecida pelo baronato da mídia, os liberais-democratas do PSDB deslizaram para o território do reacionarismo e passaram a comandar ofensiva contínua, em todas as trincheiras do Estado e da sociedade, com os objetivos de deslegitimar, sabotar e desestabilizar o oficialismo.
O caldo de cultura é semelhante a outros momentos de nossa história, como as crises de 1954 e 1964, mas a situação concreta difere profundamente. Tanto as circunstâncias internacionais quanto as internas não colocam, no horizonte visível, o risco de saída anticonstitucional propiciada por intervenção militar.
O ambiente, contudo, é parecido.
Essas similitudes, por sua vez, estimulam o surgimento de teorias conspiratórias, devidamente banhadas por atitude alarmista, natural entre aqueles que desejam barrar a maré montante do conservadorismo.
Antigamente, setores de esquerda tinham a esperança de encontrar a revolução logo na esquina. A mesma ansiedade parece levar, nos tempos presentes, a que se veja trama golpista em cada canto.
O problema dessa embocadura não é de pouca relevância. Quando se permuta a crítica e a informação do processo político pela denúncia à exaustão de episódios isolados, sem provas contundentes e insofismáveis, fica-se dependente de um fato mágico.
Caso o cenário confabulado não se materialize, zero e vezeiro nas teorias da conspiração, costuma sobrevir enganosa sensação de alívio, como se o processo estivesse interrompido porque a previsão catastrófica foi frustrada.
Tampouco esse procedimento tem utilidade razoável no período precedente ao golpe previsto. Normalmente, paralisa e atemoriza parte das forças ameaçadas, pois o discurso dramático, para ser convincente, apresenta a manobra como bem engendrada e inevitável.
Além disso, por conta do perigo supostamente real e imediato que estaria em curso, agitam-se os que querem interditar qualquer debate sério sobre problemas e erros na política que eventualmente prevalece no campo progressista.
Qualquer dissidência, nessas horas, costuma ser considerada ato de traição.
A experiência mais recente com esse tipo de alarmismo ocorreu na semana passada, durante o julgamento das contas de campanha da presidente Dilma Rousseff.
Estabeleceu-se, em certas frações da esquerda, particularmente na blogosfera, a certeza que a bala de prata do conservadorismo seria a rejeição da contabilidade petista.
O ministro Gilmar Mendes lideraria operação para impugnar o relatório de Dilma, dividindo ou conquistando o pleno do TSE, de quebra aludindo vínculos com a Operação Lava Jato, e fixando caminho jurídico para a interrupção do mandato presidencial.
Nada disso aconteceu.
O togado preferido dos tucanos estrebuchou, mas aprovou as contas dilmistas, acompanhado pela unanimidade dos integrantes da corte eleitoral.
Muitos daqueles que acreditaram nessa conspiração, como é de praxe, agora celebram com entusiasmo a derrota do golpe que não houve.
Reiteram que teria acabado o terceiro turno, permitindo ao país dias mais amenos, de volta à normalidade.
Depois da ilusão catastrófica, a cândida fantasia.
O golpismo, porém, continua vivo e respira.
Trata-se de estratégia que busca bloquear o governo petista, encurralando-o e solapando sua capacidade de ação, para desidratá-lo e desossá-lo antes da primavera de 2018.
Podemos nos referir a essa política como golpista porque pretende, no limite, articular instrumentos institucionais que se contraponham à soberania das urnas e interrompam a segunda administração de Dilma Rousseff.
Talvez tomados de surpresa, o PT e o governo tentam esboçar orientação para sair da defensiva e retomar as reformas, em clima de alta densidade político-ideológica e radicalização do conflito distributivo.
O alarmismo não ajuda nesse esforço.
Retesa músculos e nervos das forças progressistas ao redor de supostos acontecimentos épicos.
Reduz a concentração no que realmente importa: a reconstituição dos trabalhadores e seus aliados como protagonistas da vida política, com um novo programa de mudanças e suas próprias formas de ação, dentro e fora das instituições."
FONTE: escrito por Breno Altman, no Opera Mundi, e transcrito e comentado por Miguel do Rosário no blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/blog/?p=23702).
A correlação de forças negativa no Judiciário, no Ministério Público e, obviamente, na mídia, somada a uma polarização eleitoral radicalizada que sataniza o adversário, gera um ambiente perigosamente propício a golpes brancos, costurados legalmente.
Essa é a teoria de conspiração que assombrou um espectro político durante este “terceiro turno” eleitoral: a direita iria dificultar a diplomação de Dilma, eventualmente até abrir caminho para um impeachment, através de um golpe no TSE.
É tênue, porém, a linha entre um necessário estado de alerta máximo e uma postura alarmista e conspiratória.
Por outro lado, conspirações existem, isso é um fato.
E teorias de conspiração não são, necessariamente, erradas.
Mas elas podem sugar energias importantes, que poderiam ser usadas em ações mais produtivas.
Enfim, é um assunto que devemos discutir à luz do dia, porque a luz resolve ambos os problemas: desinfeta as teorias malucas, e combate as conspirações verdadeiras.
GOLPISMO JÁ FRACASSOU?
Por Breno Altman, no Opera Mundi
"A esquerda e o petismo estão um tanto perplexos com a nova estratégia da direita. Afinal, ao contrário do que se passou em pleitos anteriores, o bloco conservador trocou o recuo para acumulação de forças, que naturalmente se segue a derrotas eleitorais, por escalada agressiva e militante contra o governo.
Amparados pela artilharia fornecida pelo baronato da mídia, os liberais-democratas do PSDB deslizaram para o território do reacionarismo e passaram a comandar ofensiva contínua, em todas as trincheiras do Estado e da sociedade, com os objetivos de deslegitimar, sabotar e desestabilizar o oficialismo.
O caldo de cultura é semelhante a outros momentos de nossa história, como as crises de 1954 e 1964, mas a situação concreta difere profundamente. Tanto as circunstâncias internacionais quanto as internas não colocam, no horizonte visível, o risco de saída anticonstitucional propiciada por intervenção militar.
O ambiente, contudo, é parecido.
Essas similitudes, por sua vez, estimulam o surgimento de teorias conspiratórias, devidamente banhadas por atitude alarmista, natural entre aqueles que desejam barrar a maré montante do conservadorismo.
Antigamente, setores de esquerda tinham a esperança de encontrar a revolução logo na esquina. A mesma ansiedade parece levar, nos tempos presentes, a que se veja trama golpista em cada canto.
O problema dessa embocadura não é de pouca relevância. Quando se permuta a crítica e a informação do processo político pela denúncia à exaustão de episódios isolados, sem provas contundentes e insofismáveis, fica-se dependente de um fato mágico.
Caso o cenário confabulado não se materialize, zero e vezeiro nas teorias da conspiração, costuma sobrevir enganosa sensação de alívio, como se o processo estivesse interrompido porque a previsão catastrófica foi frustrada.
Tampouco esse procedimento tem utilidade razoável no período precedente ao golpe previsto. Normalmente, paralisa e atemoriza parte das forças ameaçadas, pois o discurso dramático, para ser convincente, apresenta a manobra como bem engendrada e inevitável.
Além disso, por conta do perigo supostamente real e imediato que estaria em curso, agitam-se os que querem interditar qualquer debate sério sobre problemas e erros na política que eventualmente prevalece no campo progressista.
Qualquer dissidência, nessas horas, costuma ser considerada ato de traição.
A experiência mais recente com esse tipo de alarmismo ocorreu na semana passada, durante o julgamento das contas de campanha da presidente Dilma Rousseff.
Estabeleceu-se, em certas frações da esquerda, particularmente na blogosfera, a certeza que a bala de prata do conservadorismo seria a rejeição da contabilidade petista.
O ministro Gilmar Mendes lideraria operação para impugnar o relatório de Dilma, dividindo ou conquistando o pleno do TSE, de quebra aludindo vínculos com a Operação Lava Jato, e fixando caminho jurídico para a interrupção do mandato presidencial.
Nada disso aconteceu.
O togado preferido dos tucanos estrebuchou, mas aprovou as contas dilmistas, acompanhado pela unanimidade dos integrantes da corte eleitoral.
Muitos daqueles que acreditaram nessa conspiração, como é de praxe, agora celebram com entusiasmo a derrota do golpe que não houve.
Reiteram que teria acabado o terceiro turno, permitindo ao país dias mais amenos, de volta à normalidade.
Depois da ilusão catastrófica, a cândida fantasia.
O golpismo, porém, continua vivo e respira.
Trata-se de estratégia que busca bloquear o governo petista, encurralando-o e solapando sua capacidade de ação, para desidratá-lo e desossá-lo antes da primavera de 2018.
Podemos nos referir a essa política como golpista porque pretende, no limite, articular instrumentos institucionais que se contraponham à soberania das urnas e interrompam a segunda administração de Dilma Rousseff.
Talvez tomados de surpresa, o PT e o governo tentam esboçar orientação para sair da defensiva e retomar as reformas, em clima de alta densidade político-ideológica e radicalização do conflito distributivo.
O alarmismo não ajuda nesse esforço.
Retesa músculos e nervos das forças progressistas ao redor de supostos acontecimentos épicos.
Reduz a concentração no que realmente importa: a reconstituição dos trabalhadores e seus aliados como protagonistas da vida política, com um novo programa de mudanças e suas próprias formas de ação, dentro e fora das instituições."
FONTE: escrito por Breno Altman, no Opera Mundi, e transcrito e comentado por Miguel do Rosário no blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/blog/?p=23702).
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