domingo, 8 de fevereiro de 2015

POR QUE PSDB/FHC NÃO INVESTIGOU A DENÚNCIA DE PAULO FRANCIS?




POR QUE FHC NÃO INVESTIGOU A DENÚNCIA DE PAULO FRANCIS?

"Hoje capaz de pedir punição dos mais altos hierarcas na Lava Jato, Fernando Henrique cruzou os braços em 1996, quando [o jornalista] Paulo Francis denunciou corrupção na Petrobrás e seu governo poderia virar alvo", lembra Paulo Moreira Leite, diretor do "247" em Brasília.

Do "Brasil 247"


Há hoje uma "convicção generalizada" de que o jornalista Paulo Francis, que denunciou ações de corrupção dentro da Petrobras em 1996, estava certo. Quem lembra é o jornalista Paulo Moreira Leite, diretor do "247" em Brasília. Em novo artigo em seu blog, PML questiona por que o então presidente, Fernando Henrique Cardoso/PSDB, "cruzou os braços" e não pediu investigação do caso que poderia envolver seu próprio governo? 

Leia um trecho:

Em 1996, o país tinha um presidente da República eleito, Fernando Henrique Cardoso/PSDB, empossado havia dois anos no Planalto, com apoio da mais fina flor do baronato brasileiro — e até uma fatia dos potentados internacionais. Tinha um vice, Marco Maciel, que trazia o apoio do mundo conservador do PFL e dos herdeiros da ditadura. Também tinha um ministro das Minas e Energia, Raimundo Mendes de Brito, afilhado de Antônio Carlos Magalhães, vice-Rei da Bahia. Na Polícia Federal, encontrava-se Vicente Chelloti como diretor. O Procurador-Geral da República era Geraldo Brindeiro, que logo faria fama como "engavetador" [arquivador dos processos que não interessassem ao governo do PSDB].

Nenhuma dessas autoridades veio a público para esclarecer as acusações, fosse para mostrar que Paulo Francis tinha razão, ou para dizer que estava errado. Ninguém correu riscos, não fez perguntas, nem trouxe respostas, nem confrontou Joel Rennó, o presidente da Petrobras que entrou com ação na Justiça contra o jornalista porque se considerou ofendido pelas acusações.

Clique aqui para ler a íntegra no "247" [ou leia abaixo]:

POR QUE FHC CRUZOU OS BRAÇOS? 



Por Paulo Moreira Leite

"Hoje capaz de pedir punição dos mais altos hierarcas na Lava Jato, Fernando Henrique/PSDB cruzou os braços em 1996, quando Paulo Francis denunciou corrupção na Petrobrás e seu governo poderia virar alvo.

Confesso que ando cada vez mais espantado diante das homenagens a Paulo Francis em função das acusações de corrupção na Petrobras, feitas em 1996, no programa "Manhattan Conection".

A convicção generalizada é que Francis estava absolutamente correto em suas denúncias e, ameaçado por um processo de US$ 100 milhões na Justiça de Nova York, acabou sofrendo um enfarto que provocou sua morte. Em função disso, não paramos de ouvir elogios à sua visão como jornalista e à sua argúcia como analista. Mas se Francis falou a verdade, a pergunta real é saber por que nada se fez diante do que ele disse, o que transforma as homenagens de hoje num caso exemplar de silêncio e covardia, a espera de uma investigação responsável e exemplar.

Em 1996, o país tinha um presidente da República eleito, Fernando Henrique Cardoso/PSDB, [estava] empossado há dois anos no Planalto, com apoio da mais fina flor do baronato brasileiro — e até de uma fatia dos potentados internacionais. Tinha um vice, Marco Maciel, que trazia o apoio do mundo conservador do PFL e dos herdeiros da ditadura. Também tinha um ministro das Minas e Energia, Raimundo Mendes de Brito, afilhado de Antônio Carlos Magalhães, vice-Rei da Bahia. Na Polícia Federal, encontrava-se Vicente Chelloti como diretor. O procurador geral da República era Geraldo Brindeiro, que logo faria fama como engavetador 
[arquivador dos processos que não interessassem ao governo do PSDB].

Nenhuma dessas autoridades veio a público para esclarecer as acusações, fosse para mostrar que Paulo Francis tinha razão, ou para dizer que estava errado. Ninguém correu riscos, não fez perguntas, nem trouxe respostas, nem confrontou Joel Rennó, o presidente da Petrobras que entrou com ação na Justiça contra o jornalista porque se considerou ofendido pelas acusações.

Paulo Francis falou a verdade? Mentiu? Exagerou? Estava de porre? Não sabemos.

A gravação está disponível na internet. Referindo-se a contas secretas na Suíça, Paulo Francis fala com o desembaraço de quem está fazendo delação premiada para o juiz Sergio Moro. Diz que “todos os diretores da Petrobras têm conta lá.” Alguns jornalistas presentes dão sorrisos maliciosos. Nada que lembre a indignação de hoje. Um deles adverte, sem que se possa ver seu rosto: “olha que isso dá processo…” Em outro depoimento, também disponível na internet, Paulo Francis afirma que os diretores da Petrobras são muito queridos na Suíça, onde têm contas de 50 e 60 milhões de dólares.

Fernando Henrique Cardoso/PSDB não deixou sequer um palpite sobre o caso. Estimulado por José Serra, o presidente mobilizou-se para convencer Joel Rennó para desistir da ação.

E a denúncia?

Se hoje FHC enche o peito para dizer que a Justiça deve fazer aquilo que os militares não podem mais, sem poupar os “mais altos hierarcas”, eufemismo para chegar a Dilma e Lula, não custa perguntar por que se calou quando tinha vários instrumentos do Estado na mão. Se hoje as denúncias são uma forma da oposição tentar atingir Dilma, em 1996 e 1997 era seu governo que poderia se tornar alvo.

Não havia nada para ser investigado, nem para com auxílio da Justiça da Suíça?

Soube-se ontem que, em 1997, o ano em que Paulo Francis morreu, o gerente da Petrobras Pedro Barusco, que, em 2015, se tornaria um dos personagens principais do inquérito da Lava Jato, já tinha um bom cargo na empresa. Naquele ano, passou a receber, além do salário e demais benefícios legais, uma propina mensal entre US$ 20.000 e US$ 50.000 de uma empresa holandesa com interesses específicos na área sob seus cuidados.

Em 1998, pouco depois dos primeiros pagamentos feitos a Barusco, os interesses privados, que no mundo inteiro são a mola principal de iniciativas de corrupção em empresas estatais, ganhavam novo impulso na Petrobrás. Nesse caso, FHC teve um papel fundamental.

Num decreto assinado por Fernando Henrique Cardoso, e preparado pela subchefia para Assuntos Jurídicos da Presidência da República, cujo titular era Gilmar Mendes, hoje ministro do STF, aprovou-se a criação de um “procedimento licitatório simplificado da Petrobrás”. O texto do decreto 2.745 pretendia agilizar os investimentos da empresa, o que não está errado, por princípio.

Mas o procedimento “simplificado” está na origem intelectual do hoje célebre “clube das empreiteiras,” denunciado em tom de escândalo.

Haviam se passado apenas dois anos da acusação de Paulo Francis e a alteração ocorrida não foi pequena. Em vez de submeter as obras milionárias da empresa às disputas duras e complicadas de uma licitação pública, autorizou-se a chamada de interessadas pelo sistema de carta-convite, o caminho mais fácil para a seleção de amigos e exclusão de inimigos. É uma situação tão escandalosa que nunca faltaram críticas ao decreto e mesmo ações questionando sua legalidade. O decreto do “clube das empreiteiras” mantém-se em vigor através de liminares. Uma delas, ironicamente, foi concedida pelo próprio Gilmar Mendes, que, já como ministro do STF, julgou o trabalho da subchefia que estava sob sua guarda quando servia ao governo PSDB/FHC.

Em vários países, as empresas estatais, particularmente de petróleo, vivem uma situação contraditória. De um lado, expressam a vontade política de soberania nacional — que justifica sua existência — diante de reservas de valor estratégico. De outro, são alvo permanente de pressões do setor privado, interessado em transferir ganhos em escala formidável para seus cofres particulares. O resultado é um universo de muita tensão.

A PDVSA venezuelana foi ocupada, historicamente, pela elite econômica do país, aquela que é conhecida por manter um patrimônio maior em Miami do que em Caracas. Depois da posse de Hugo Chávez, cuja vitória criou uma situação política inédita, a alta burocracia da empresa tornou-se aliada da oposição conservadora e chegou a tentar promover um golpe de Estado, impedindo a distribuição de petróleo num país onde o mais refinado produto local é a cerveja e depois o refrigerante.

Na Itália, a estatal ENI servia para enriquecer as campanhas da Democracia Cristã e do Partido Socialista, num tempo em que o Partido Comunista era o demônio da Guerra Fria. Após a "Mãos Limpas", ocorreu um desfecho que vale como advertência ao que pode se passar no Brasil, quando se recorda que o modelo de trabalho do juiz Sergio Moro foi a operação italiana: a ENI foi privatizada — e não há dúvida de que os escândalos e o trabalho de jornais e revistas ajudaram a adoçar a ideia.

Num país onde a Petrobras sempre foi alvo de ataque feroz por parte do empresariado conservador e seus aliados externos, após a democratização não houve um governo que não tivesse enfrentado uma investigação em torno de desvios e irregularidades. (É certo como 2+2=4 que havia esquemas sob a ditadura, mas nunca vieram a público).

Em 1989, no governo de José Sarney, a descoberta de um milionário esquema de desvios que levou ao afastamento do presidente da BR Distribuidora e seu principal auxiliar. Em 1992, uma tentativa de intervenção de PC Farias na direção da empresa levou à saída do advogado Luiz Octávio da Motta Veiga, que preferiu ir embora em vez de atender aos pedidos do tesoureiro de Fernando Collor.

A ideia de que os esquemas de corrupção na Petrobras nasceram a partir de 2003, com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto, é falsa, mas tem uma utilidade política óbvia: ajuda a transformar uma operação policial num instrumento de destruição política, cujo alvo final é o governo Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores. Também permite acobertar responsabilidades passadas, o que é sempre conveniente em campanhas de moralismo seletivo. Mas o preço é apagar a memória histórica, o que impede qualquer debate sensato sobre o caso."


FONTE: escrito pelo jornalista Paulo Moreira Leite  em seu blog e transcrito e comentado no jornal digital "Brasil 247" (http://paulomoreiraleite.com/2015/02/06/por-que-fhc-cruzou-os-bracos/) e (http://www.brasil247.com/pt/247/poder/169283/PML-por-que-FHC-n%C3%A3o-investigou-a-den%C3%BAncia-de-Paulo-Francis.htm).

Um comentário:

lalá disse...

Não posso compreender uma pessoa que se coloca acima do bem e do mal achar que todobrasileiro é cego. Sabemos que a maioria da nossa população, nunca se interessou por política e uma pequena parcela tem espírito crítico desassociado de pertidos políticos, são pessoas que pensam por convicção e não por motivação ou influencia de alguém. Por ocasião da movimentação de ser ter no Brasilum processo de reeleição para presidente, o senhor FHC, fez por merecer uma CPI para que se investigassem a compra de votos de parlamentares para que apoiassem a idéia e votassem o pedido do governo em se ter um segundo mandato. O partido da situação voltou quase em massa, do PSDB, apenas dois, votaram a favor daCPI que foi denominadaCPI DA CORRUPÇÃO. Esses dois políticos, por terem votados contra a vontade de sua leganda, acabaram sendo expulsos do PSDB por 8 anos. Os políticos, representantes do povo de Londrina, eram Alvaro Dias e seu irmão Osmar Dias. Na ocasião, como eu acompanhava pelaTV Senado o que ocorria em Brasilia, enviei e-mails para deputados e senadores, inclusive recebi resposta do senador Alvaro Dias, pessoa que eu respeito muito.Hoje,lamentavelmente, vejo o senador que votou a favor da CPI da Corrupção estar afinadinho com o partido e tendo deixado no passado o motivo da expulsão do partido, ele apenas disseem entrevista que foi expulso por 8 anos mas nãoexplicou o motivo da expulsão. Portanto, houveram tantas CPI's engavetadas no governo desse senhor, que fico pasma que ainda defendam esse governo que nos levou a bancarrota por 3 vezes. Mais imoral, o partido enfiar goela abaixo no governo de Itamar, um socíologo que até desdisse o que escreveu em parceria com Enzo Falleto um de seus livros, pedindo que esquecesse o que escreveu, comoMinistro da Fazenda, sociólogo entende malmente de sociologia, números nunca foi o forte de nenhum profissional da área humana. Ele sai do cargo em março, o real é concluido e apresentado em julho, e mais uma vez Itamar se curvou a influencia das ditas forças "poderosas" e permite que um ex ministro apresente o plano real.
Agora isso que o jornalista que infelizmente, até por influencia de grupos financeiros dos EUA, veio a falecer por ser um jornalista sério. Mas aqui no Brasil, poucos conhecem um jornalista investigativo norte-americano Greg Palast, ele em seu livro "A MELHOR DEMOCRACIA QUE O DINHEIRO PODE COMPRAR", ele dedica um capítulo inteiro ao segundo mandato do senhor FHC e quem durante seu governo, governou de fato o Brasil. O que lastimo que nós, brasileiros, ficamos inertes frente ao conhecimento, mas ficamos batendo palmas para o poder econômico e informativo que está implantado no Brasil desde a criação da rede Globo, com capital internacional em 1962. Informação que desinforma é alienação do povo. Acrdito ainda que os brasileiros vão acordar dessegigante adormecido e farão valer seus direitos em prol de um Brsiljusto e aberto para todos nós, e deixarmos de ser marionetes dos meios de comunicação que aprisiona os fatos. Ainda bem que ao menos temos a internet que é uma opção mais democrática de informar.