sábado, 7 de março de 2015

AÉCIO, O PROTEGIDO





Aécio, o protegido


"O portal 'Conversa Afiada' reproduz inspirado artigo do site do jornalista Paulo Moreira Leite, que, na companhia de Janio de Freitas [da tucana "Folha"], desmascarou o mensalão.

Breve, fará o mesmo com a "Lava Jato" …

O PROTEGIDO

"Ninguém deve ser condenado por antecipação, mas o tratamento de Rodrigo Janot a Aécio Neves mostra lamentável traço seletivo [pró-Aécio] na 'Lava Jato'.

Deve-se reconhecer que, até agora, o procurador-geral Rodrigo Janot tem demonstrado postura de equilíbrio que contrasta com seus antecessores responsáveis pela Ação Penal 470.

O ex-PGR Antonio Carlos Fernando — que hoje é advogado do deputado Eduardo Cunha — criou o termo “organização criminosa” para designar 40 acusados. Seu sucessor imediato, Roberto Gurgel, lançou a "teoria do domínio do fato", sob medida para atingir o principal alvo político da investigação, José Dirceu, contra quem não havia prova alguma.

Até onde a vista pode alcançar, a atuação de Janot está longe desse patamar.

Mas a exclusão a priori de Aécio Neves da lista de políticos que merecem ser investigados  [...] indica lamentável "preferência seletiva". Seria absurdo imaginar que apareceram provas robustas para condenar, desde já, o senador de Minas Gerais. Mas chega a ser escandaloso registrar a falta de curiosidade diante de determinados fatos, relatados pelo "Estado de S. Paulo"  
[autodeclarado tucano-serrista em seu editorial, em 2010] . Conta o jornal:

Em delação premiada, o delator Roberto Yousseff afirmou que Aécio Neves teria recebido dinheiro fruto de propina de Furnas, estatal do setor elétrico, por meio “de sua irmã”, sem citar nomes ou detalhes. No “termo de colaboração número 20”, registrado no final do ano passado, que tem como tema Furnas e o “recebimento de propina pelo Partido Progressista e pelo PSDB” , Yousseff diz que “cerca de dez vezes ”recolheu dinheiro de propina. Numa dessas vezes, prossegue, foi informado que o repasse não seria feito integralmente – faltariam R$ 4 milhões porque “alguém do PSDB” havia coletado essa quantia antes.” 


O relato do "Estadão" prossegue: "Indagado pelos procuradores, Youssef declarou não ter informação de quem havia retirado parte da comissão, mas afirmou “ter conhecimento” de que o então deputado federal Aécio Neves teria influência sobre a diretoria de Furnas e que o mineiro estaria recebendo o recurso “através de sua irmã”, segundo o texto literal da delação. O delator disse “não saber como teria sido implementado o ‘comissionamento’ de Aécio Neves”.

Como escrevi três parágrafos acima, não se trata de condenar ninguém por antecipação. Como todo cidadão, Aécio tem direito a ser considerado inocente até que se prove o contrário. Mas estamos falando de fatos que deveriam ser melhor esclarecidos, como é obrigação de todo trabalho de investigação que se preze. Antes disso, ninguém pode ser considerado mais suspeito ou [a priori, por definição,] mais inocente do que os outros.

Na delação, o doleiro descreve que “de 1994 a 2001 o PSDB era responsável pela diretoria de Furnas”. Yousseff está falando dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso/PSDB 
[Roberto Jefferson, delator da AP 470, chegou até a confirmar publicamente que recebera a quantia indicada para ele na Lista de Furnas, que aponta os recebedores de propina da estatal, entre eles José Serra, Aécio Neves, [lista essa] cuja autenticidade foi comprovada por peritos da Polícia]. [...] 

O nome de Aécio Neves surgiu na "Lava Jato" em função de um negócio de 2012 com a participação da "MO Consultoria", uma das empresas de fachada do doleiro Alberto Yousseff, usada para movimentar o pagamento de propinas. A quantia, no valor de R$ 4,3 milhões, envolvia a venda de ativos da "Light", ex-estatal de energia do Rio de Janeiro que é controlada pela CEMIG, estatal que é a joia da Coroa do governo de Minas Gerais. Embora houvesse a suspeita de que os contratos e notas pudessem ser fraudulentos, o juiz Sérgio Moro decidiu "excluir o caso da Lava Jato" [!?!...]. [Relembrando a privatização da Light, o jornal "Tribuna da Imprensa", edição de 24.04.97, apontou o filho de FHC, Paulo Henrique, como segunda pessoa na empresa do maior beneficiado com a privatização da Vale do Rio Doce, da Light e de outras estatais (https://pt-br.facebook.com/MinistroJoaquimBarbosaPresidente/posts/522287471148758)
]

Num despacho, Sério Moro cita o inquérito referente à CEMIG. Diz ele: “trata-se de negócio que, embora suspeito, não estaria relacionado aos desvios na Petrobras” [Ah! Então pode ...]. Conforme o despacho, a investigação não seguiu adiante porque era um “negócio que, embora suspeito, não estaria relacionado aos desvios na Petrobrás.” [!...]

Vamos combinar: é um argumento tão estranho como o do "mensalão mineiro" [tucano], aquele caso que, mais antigo do que a AP 470, [acintosamente foi abafado e] sequer chegou à conclusão em primeira instância.

Não é a primeira vez que Aécio recebe decisões favoráveis em casos relevantes. Carlos Ayres Britto, ministro do STF que presidiu o julgamento da AP 470 em sua fase inicial, saiu em socorro de Aécio em agosto do ano passado. Naquele momento, quando surgiu a denúncia de que o governo mineiro [do então governador Aécio] havia investido R$ 13,9 milhões na construção da pista de um aeroporto na fazenda de um tio de Aécio, Ayres Britto prestou um serviço profissional ao então candidato presidencial do PSDB. Assinou um parecer — avaliado em R$ 65.000 — no qual disse “nada ver de juridicamente inválido” na obra. Carlos Veloso, também ex-ministro do STF, contribuiu [$$$] com um segundo parecer favorável a Aécio.

Nenhum desses fatos demonstra que o senador do PSDB é culpado de coisa alguma.

Mas desmente a tese, tão cara ao PGR, de que o “pau que bate em Chico é o mesmo que bate em Francisco.

A decisão de Janot não só poupou Aécio dos constrangimentos de uma investigação. Também lhe deu espaço para partir [cínica e hipocritamente] para o ataque, acusando o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de agir como um “militante do PT”, sugerindo que atuara nos bastidores para tentar prejudicá-lo — acusação absurda contra um ministro que frequentemente é acusado de ser republicano demais em suas ralações com a Polícia Federal. O lance seguinte foi o previsível. Em vez de debater uma denúncia contra Aécio, os meios de comunicação passaram a debater seu ataque a Cardozo...

Isso é que é ter “amigos na mídia,” não é mesmo?

A inclusão ou exclusão de determinado político numa relação de suspeitos num inquérito de repercussão pode ser tão decisiva para seu futuro como uma condenação no julgamento final.

Implica em dezenas de “reportagens”, “notinhas”, “fofocas”, numa campanha negativa que, pelo efeito acumulativo, cria nova identidade política. Falsos amigos estranham, eleitores não entendem, vizinhos se afastam, a pessoa é vaiada na rua, de repente aparece uma câmara de celular que registra tudo e envia para um telejornal — e assim por diante.

Réu na AP 470, na qual acabou inocentado inteiramente, com direito inclusive a um pedido de desculpas no tribunal, Luiz Gushiken viveu um inferno de sete anos desde que foi denunciado [e duramente já condenado pela oposição e grande mídia]. Disposto a lutar até o fim por sua honra, processou veículos que não podiam provar o que escreviam — e chegou a ser humilhado por sentenças que traziam o gosto de fazer média com jornais e jornalistas. Nas salas de aula, seus filhos ouviram sermões patrioteiros de professores que não sabiam do que estavam falando — mas faziam questão de apontar o dedo para adolescentes que não tinham condições de defender-se.

A forma saudável de evitar injustiças desse tipo é contar com meios de comunicação que assumem um comportamento prudente. Só publicam uma denúncia quando o trabalho de apuração está em fase de conclusão e os fatos foram bem investigados, as partes foram ouvidas e as principais dúvidas foram esclarecidas. Erros acontecem porque estamos falando de uma atividade humana — mas são assumidos e noticiados com mesmo espaço e vigor do que a notícia original. Falsários costumeiros do jornalismo podem ser denunciados, identificados. O direito de resposta faz parte dos usos e costumes da democracia. 
[Tudo isso, no Brasil, é utopia. Os meios de comunicação, centralizados nas mãos de poucos magnatas direcionados pelo grande capital financeiro internacional, agem impune e exatamente ao contrário].

O problema é que, para funcionar, essa regra teria de valer para todos. Não pode ser seletiva [somente a favor da direita], o que dificulta operações políticas acobertadas pelo mau jornalismo. Imagine falar nisso onze meses depois de vazamentos da Lava Jato.

Essa é a diferença."

FONTE: artigo do jornalista 
Paulo Moreira Leite transcrito no portal "Conversa Afiada"  (http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2015/03/06/pml-aecio-o-protegido/).[Trechos omitidos, por ultrapassados, por este blog 'democracia&polítiva'; outros, entre colchetes, acrescentados por este blog]. 

4 comentários:

iurikorolev disse...

Ridiculo este artigo.
Dr. Janot é um profissional inatacável.
Viajaram na maionese.

Unknown disse...

Ao Iurikorolev,
Realmente, ele e seu antecessor Roberto Gurgel são inatacáveis pela direita, como constata-se na grande mídia.
Maria Tereza

iurikorolev disse...

MT, isso é um contrasenso pois ambos foram indicados pelo governo do PT.
O PGR é indicado pelo PR.
Considero Dr. Janot completamente imparcial.
SE tiver que denunciar PT PSDB PP ou o raio que o parta ele denuncia.
Esse discurso de que ele está perseguindo o PT e protegendo o PSDB pra mim é um discurso tendencioso e perigoso que só visa a defesa de grupos politicos e não o interesse do país.

Unknown disse...

Ao Iurikorolev,
O fato de terem sido indicados pelo PT não quer dizer nada. Diferentemente de outros tempos, que fazem você pensar assim, eles há 12 anos têm independência do governo federal para julgar. Lembre de outros indicados pelo PT, como Joaquim Barbosa, Luis Fux etc.
Por outro lado, a pressão e chantagem da mídia sobre o PGR e o STF é avassaladora. Muitos transformam-se em marionetes da mídia.
Achei muito estranho o PGR Janot mandar arquivar o processo sobre propina documentada da estatal Furnas para Aécio Neves com o surpreendente argumento de que Furnas não está em pauta, somente a Petrobras... Foi muito elogiado por isso na grande mídia e pelo PSDB. Janot está virando heroi nacional.
Maria Tereza