terça-feira, 11 de agosto de 2015

GOLPE NÃO É PARA AMADORES




GOLPE NÃO É PARA AMADORES

"Temos, na oposição atual ao governo, figuras que variam do folclórico ao patético. Aécio Neves, Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha e uma plêiade de ideólogos direitistas que alguns se situam próximo à demência. Tendo como último reduto ao golpe uma revista em situação pré-falimentar, fica cada vez mais difícil imaginarmos que um golpe de qualquer tipo que seja possa vingar", diz R. D. Maestri em artigo publicado no "jornal GGN".

Por R. D. Maestri, no jornal GGN

Vejo que alguns estão surpresos por fortes vozes das classes dominantes se levantarem contra o golpe que estava sendo tramado por uma série desarticulada de amadores. Por que, de uma hora para outra, FIESP, FIERJ e agora diretores de bancos levantam suas vozes contra o golpe, simplesmente porque essas instituições têm analistas ou consultam pessoas com capacidade de prospecção de eventos futuros. E essas mentes pensantes deram seu veredito final: com esses amadores, o golpe pode sofrer um contragolpe muito mais forte que o primeiro.

Vamos aos fatos. Há bastante tempo se via a inviabilidade de, com o cenário atual de articular forças diversas para desestabilizar o governo com um mínimo de coesão (vide Deem-me um estado de apoio que vos darei um golpe! de 03/03/2015), essa ausência de coesão mostrava uma tendência de, rapidamente, antes de o golpe se estabilizar e se institucionalizar, começar a luta interna entre fracções e essas lutas não contarem com o apoio decisivo e necessário das forças armadas para, escolhendo uma delas, termos só um projeto de novo governo.

Esse último e importante passo foi enterrado com a prisão do vice-almirante. Vozes dispersas nas forças armadas que viam os últimos governos do PT como governos preocupados com o fortalecimento real dessas forças, ganharam força e numa contabilidade simples que é feita antes de qualquer enfrentamento, quem estava contra o golpe sobrepujou os que estavam a favor, e esse recado chegou até às coordenações das classes dominantes (vide Por que a direita descarta uma intervenção militar? de 24/03/2015).

Outro fator decisivo foi que, junto à posição das forças armadas, começa a repercutir nos setores do capital uma sensação de perseguição do mesmo por considerá-los naturalmente corruptos. Ou seja, a atividade econômica do grande capital, corrupto ou não, começou a ser considerada como intrinsicamente corrupta. Se essas acusações viessem de setores de esquerda que por convicção ideológica descreve a apropriação da mais valia como um roubo, não haveria surpresa nem ineditismo, mas essa luta ideológica secular já é conhecida e os mecanismos de domínio do capital conseguem até o momento contorná-la. Porém, estão surgindo, de setores que tradicionalmente apoiam o sistema, ações bem bruscas e intempestivas que começam a assustar.

A mistura de um messianismo evangélico com a demonização da atividade econômica com todos os seus méritos e falcatruas pode levar a uma combinação explosiva muito mais perigosa do que mera conservação ou mudança de mando no poder federal. O governo atual, limitado por sua falta de base legislativa, não tem condições de propor fortes rupturas institucionais, porém um novo lupem-evangelismo fragmentado, mas com tendências messiânicas, é algo extremamente perigoso para qualquer regime fraco ou mesmo forte. Isso é algo que, começado o processo, não se sabe para aonde ele irá!

Um golpe neste momento não teria as mesmas características da deposição de Collor de Mello (veja Golpe não se adjetiva. de 18/11/2014), seria um golpe sem um programa pós-golpe estruturado e perfeitamente definido.

Se formos comparar a situação de 1964 com a atual ainda fica pior. Nesse ano havia conspiradores profissionais em todos os setores, o governador Magalhães Pinto que montara um ministério paralelo e foi até os USA falar pessoalmente com o Presidente Kennedy, o general Golbery do Couto e Silva, que tanto organizou o ataque (1964) como a retirada (abertura política), tinha até o palhaço-tolo midiático, o Governador Carlos Lacerda, que de tão tolo pensou que um dia assumiria a presidência da república com o apoio dos militares.

Temos na oposição atual ao governo figuras que variam do folclórico ao patético, Aécio Neves, Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha e uma plêiade de ideólogos direitistas que alguns se situam próximo à demência (como ex-astrônomos que juram de pé junto que o Sol é que gira em torno da Terra e que Einstein é uma farsa).

Tendo como último reduto ao golpe uma revista em situação pré-falimentar, fica cada vez mais difícil imaginarmos que um golpe de qualquer tipo que seja possa vingar. Ou pior para os golpistas e seus anteriores admiradores, se vingar o contragolpe deverá ser muito mais forte e também imprevisível (vide O contragolpe será muito mais forte do que o golpe! de 06/08/2015), pois nesse ponto as forças que promoverem esse contragolpe estarão livres para radicalizar uma politica de esquerda no Brasil."

FONTE: escrito por R. D. Maestri, no jornal GGN. Transcrito no portal "Brasil 247"  (http://www.brasil247.com/pt/247/poder/192192/Golpe-n%C3%A3o-%C3%A9-para-amadores.htm).

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