sábado, 29 de agosto de 2015

BRASIL DE 2003 a 2015: BALANÇO DE UMA EXPERIÊNCIA POPULAR



                      Créditos da foto: EBC


Brasil 2003 - 2015: balanço de uma experiência 'popular'

O severo ajuste fiscal pode comprometer os avanços anteriormente ocorridos em termos de emprego, renda e benefícios sociais.

Por Rosa Maria Marques (1) e Patrick Rodrigues Andrade (2)
(1) Professora titular do Departamento de Economia e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política da PUCSP; líder do Grupo de Pesquisa Políticas para o Desenvolvimento Humano.
(2) Professor do Departamento de Economia da PUCSP.

Tudo é absurdo, mas nada é chocante, porque todos se acostumam a tudo.
('Júlia ou a Nova Heloísa', Jean-Jacques Rousseau)

Resumo

"Este artigo trata dos limites da política econômica desenvolvida durante os governos Lula e Dilma entre 2003 e o primeiro semestre de 2015. Destacam-se, entre os aspectos nele analisados, as medidas dirigidas aos segmentos de baixa renda (inclusive no campo social); a política com relação ao câmbio e à taxa de juros; e a desoneração fiscal, com o intuito de garantir demanda para determinados segmentos da indústria, quando da crise internacional iniciada em 2008, e para angariar competitividade no mercado internacional. É destacado, também, o crescimento do afluxo de capitais estrangeiros na forma de investimento estrangeiro direto e a crise política aberta a partir do momento em que Dilma é reconduzida à presidência. Entre as conclusões, salienta-se que esses governos minimizaram o impacto da crise internacional e as consequências das medidas nas contas públicas (em um quadro de baixo investimento privado), resultando na proposição de um severo ajuste fiscal no início do segundo mandato do governo Dilma, o que pode comprometer os avanços anteriormente ocorridos em termos de emprego, renda e benefícios sociais.

Apresentação

A eleição de Lula à presidência da República, em 2002, constituiu um marco na história política do Brasil. Pela primeira vez, um líder sindical, apoiado num partido nascido das lutas desenvolvidas pelos movimentos sociais e sindicais e organizado (originalmente) a partir da base, assumia o governo federal. No momento em que foi oficializada sua vitória, a juventude e os setores progressistas foram tomados de uma grande esperança: de que finalmente mudanças significativas seriam realizadas, tanto no campo econômico como no social. Essa esperança se expressou nas comemorações pela vitória (realizadas nas principais cidades do país), quando a bandeira vermelha do Partido dos Trabalhadores (PT), que havia sido esquecida pela direção durante a campanha, foi alegremente retomada pelos manifestantes e no dia da posse em Brasília, quando Lula, a caminho do Congresso Nacional, foi festejado por milhares e milhares de pessoas.

Em seu discurso de posse, o sentido que as massas deram à sua eleição não foi esquecido:

Mudança”: esta é a palavra-chave, esta foi a grande mensagem da sociedade brasileira nas eleições de outubro. A esperança, finalmente, venceu o medo e a sociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos. Diante do esgotamento de um modelo que, em vez de gerar crescimento, produziu estagnação, desemprego e fome; diante do fracasso de uma cultura do individualismo, do egoísmo, da indiferença perante o próximo, da desintegração das famílias e das comunidades, diante das ameaças à soberania nacional, da precariedade avassaladora da segurança pública, do desrespeito aos mais velhos e do desalento dos mais jovens; diante do impasse econômico, social e moral do país, a sociedade brasileira escolheu mudar e começou, ela mesma, a promover a mudança necessária. Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu Presidente da República: para mudar." (BIBLIOTECA DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA).

Mas havia no caminho compromissos assumidos anteriormente que se configuraram em um dos grandes empecilhos para sua realização. Tratava-se daqueles assumidos na “Carta aos Brasileiros”, lida por Lula durante o encontro sobre o programa de governo do PT, realizado em São Paulo, em 22 de junho de 2002. Nela, além de um balanço dos últimos oito anos sob a presidência de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e da apresentação de seus principais pontos programáticos, é declarado “o respeito aos contratos e obrigações do país” e afirmado que “Vamos preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a dívida interna aumente e destrua a confiança na capacidade do governo de honrar os seus compromissos” (FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, s; d.).

Este artigo trata dos limites (ou contradições) de uma experiência que pretendeu avançar na resolução dos principais problemas vivenciados pela população brasileira sem enfrentar os interesses daqueles que são, em última análise, responsáveis por sua manutenção. Além dessa introdução e das considerações finais, o artigo está dividido em duas partes: 

A primeira parte trata dos dois mandatos de Lula. Nela são analisados os traços maiores de sua política econômica, bem como aspectos do desempenho econômico, com destaque para a evolução de algumas variáveis, tais como crescimento, taxa de juros, taxa de desemprego, renda média dos ocupados, entre outras. Nessa análise, ainda, são destacados os momentos de crise internacional e as políticas implantadas para fazer frente a ela. Finalmente, são apresentadas as políticas de transferência de renda e de valorização do salário mínimo, símbolos da política social introduzida por Lula desde seu primeiro mandato.

A segunda parte do artigo é dedicada aos governos Dilma. Primeiramente, são apresentados os resultados das principais variáveis econômicas durante o primeiro mandato. A seguir, é lembrada a postura do governo Dilma frente à crise mundial, seus avanços sobre o tripé e as políticas de renda. Na sequência, depois de enfatizar os limites a que chega a política econômica até então desenvolvida por Dilma e o ajuste fiscal implantado, discute-se a crise política em que está emersa seu segundo mandato, com destaque para os interesses que estão em jogo.

1 – Os governos Lula: 2003 a 2010.

1.1 – A economia

Do ponto de vista da política macroeconômica, Lula não representou uma ruptura em relação ao que vinha sendo feito durante o governo FHC, posto que foi mantido intacto o tripé estruturado em conjunto com o Fundo Monetário Internacional (FMI), quando do fechamento do acordo de US$ 41 bilhões de empréstimo, ao final de 1998. Tratava-se de realizar superávit primário para controlar a expansão da dívida pública, cumprir as metas de inflação (o que implicava manter taxas elevadas de juros) e garantir um regime de câmbio flutuante.

Durante os anos que precederam a crise de 2008, que irá ter impacto sobre a economia brasileira em 2009, o superávit fiscal foi, em média, 3,41% do PIB. Em 2009, registrou 1,95% e, em 2010, 2,62% do PIB. Em relação à inflação, a efetiva sempre ficou abaixo do limite superior da meta, com exceção de 2003 (para um limite superior de 6,5%, foi registrada uma inflação efetiva de 9,3%). Já o câmbio, inicialmente em função dos superávits da conta transações correntes e, depois, em função da entrada de capitais estrangeiros, manteve-se bastante apreciado, com exceção do ano de 2008, quando registrou uma desvalorização de 22,7% em função da saída de capital condicionada pela crise nos Estados Unidos. Em relação à taxa de juros, considerando a Selic, houve claramente uma tendência à queda no período 2003 a 2010: de 16,5% para 10,66% ao ano (considerando a posição em dezembro). Em termos reais, a taxa de juros caiu de 10,02% para 4,84% ao ano. Apesar dessa queda, por diversas vezes foi interrompida a trajetória descendente, seja para manter a inflação dentro da meta, seja para fazer frente ao movimento de saída de capitais para fora do país.

O desempenho do PIB melhorou nos governos Lula: média de 3,5% no 1º mandato, e de 4,6% no 2º, acima dos 2,5% e 2,1% dos períodos de FHC. Esse desempenho foi acompanhado pela redução da taxa de desemprego (de 10,5% para 5,3%, entre 12/2002 e 12/2010) e pelo aumento do rendimento médio real da população ocupada (19%) e da participação do trabalho formal no total dos ocupados com 16 anos ou mais (de 44,6%, para 51,3%, em 2009).

No período, o crescimento da economia foi sustentado particularmente pela expansão do consumo final (e nele, pelo aumento do consumo das famílias; 4,48%, na média) e pelas exportações (6,15%). A formação bruta do capital (já considerada a variação dos estoques) registrou um resultado pífio e preocupante (a contribuição média ao crescimento do PIB no período foi de -0,06% e sua variação real média de 0,041%), embora tenha ampliado sua participação no PIB de 16,2% (2002) para 20,2% (2010). Em termos de setor de atividades, a agropecuária e a indústria apresentaram desempenho semelhante, 3,451% e 3,454, respectivamente, enquanto que serviços acusou uma expansão de 4,045%.

Durante o governo Lula, ainda, o país constitui-se importante destino do investimento estrangeiro direto. Depois de uma redução no primeiro ano, os capitais voltaram a afluir, destacando-se o aumento dos empréstimos intercompanhias. Esse tipo, quase inexistente durante o governo FHC e o início do primeiro mandato de Lula, chegaram a representar 33% do total do investimento direto em 2008.

1.2 – O governo Lula na crise

A crise de 2008/09 afetou a economia brasileira basicamente através de três canais: 

a) forte queda dos preços das commodities; 
b) retração da demanda internacional; e 
c) redução expressiva da entrada de capitais estrangeiros. 

Internamente, rapidamente o crédito se contraiu, o ritmo da produção se reduziu, o desemprego aumentou e a demanda interna caiu. Como resposta, o governo adotou uma série de medidas anticíclicas, tais como: 

a) estímulo ao crédito bancário; 
b) reestruturação bancária a fim de se precaver contra a insolvência de alguns bancos mais frágeis ou menores; 
c) estímulo à demanda através da renúncia fiscal e mudança no imposto de renda para pessoas físicas; e 
d) apoio aos desempregados, mediante ampliação do seguro desemprego.

Apesar disso, em 2009, o PIB se retraiu em 0,2%, com queda da produção industrial de 5,6% e do setor agropecuário de 3,1%; as exportações se reduziram em 9,1% e a formação bruta do capital em 22,01% (com uma contribuição no crescimento do PIB negativa em 4,56%). O resultado só não foi pior porque a economia brasileira se recuperou a partir do segundo semestre, quando o preço das commodities retomou seu movimento ascendente e quando as estimativas da recessão nos Estados Unidos indicaram que ela não seria tão acentuada como era esperado. Mas a retomada a partir de fatores externos reforça a ideia de que a economia brasileira está largamente vinculada à economia mundial, apresentando pouca capacidade de manter crescimento de forma autônoma.

Em relação às medidas adotadas, algumas merecem ser destacadas, pois têm continuidade e/ou aprofundamento durante parte do governo Dilma. 

A primeira delas tinha como objetivo garantir e/ou expandir o crédito. Seu resultado foi aumentar a participação do setor estatal (BNDES, BB e CEF) no total da carteira do sistema financeiro (de 36,3%, em 2008, para 41,5%, em 2009), dado que o crédito não estatal, apesar das medidas, se retraiu no auge da crise. Entre os créditos direcionados, o BNDES aumentou o crédito concedido em 35,3% em 2009, o que significou 61,6% do total do crédito direcionado realizado no ano, representando 9% do PIB. Nesse ano, os desembolsos realizados pelo BNDES aumentaram em 50%. Esses dados mostram como é importante existir um setor bancário estatal em momentos de crise. Como se verá mais adiante, esse setor será utilizado por Dilma para fazer frente às taxas elevadas de juros.

Em outro conjunto de medidas, que tinha como objetivo manter o consumo e auxiliar na manutenção do nível de atividade da indústria, principalmente de veículos e eletrodomésticos, destaca-se o uso da renúncia fiscal no imposto sobre o produto industrializado. O resultado disso foi que o consumo se expandiu em 2009, quando todos os demais componentes da demanda se retraíram, e que a indústria de veículos praticamente compensou a perda das exportações com a ampliação junto ao mercado interno (a produção caiu apenas 1%).

1.3 – As políticas de renda em Lula

Duas são as políticas de renda que se destacam nos governos Lula: a da valorização do salário mínimo e a criação do Programa Bolsa Família. A política de valorização do salário mínimo, de iniciativa do governo federal, teve respaldo na ação conjunta das Centrais Sindicais que, em 2004, realizaram três marchas à Brasília com o intuito de pressionarem os poderes Executivo e Legislativo a apoiarem essa política. Como resultado, o salário mínimo aumentou, em termos reais, 54% entre dezembro de 2002 e dezembro de 2010. Segundo estimativa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos), essa política afetou positivamente 47 milhões de pessoas, entre trabalhadores e aposentados, pois o benefício mínimo pago pela Previdência Social brasileira está indexado ao salário mínimo. Seria preciso considerar, ainda, os salários próximos ao mínimo, que são por ele influenciados.

O Programa Bolsa Família, política de transferência de renda dirigida às famílias muito pobres e pobres, totalizou 12,8 milhões de famílias beneficiárias em dezembro de 2010, 19,6% do total das famílias brasileiras. Esse programa, fortemente concentrado na região Nordeste (53,9%), exige contrapartidas como frequência escolar e acompanhamentos específicos na área da saúde para as famílias com filhos de até 15 anos de idade. No caso de famílias muito pobres, sem filhos, não há condicionalidade. Esse programa, de grande impacto devido a seu efeito multiplicador de renda, envolvia (envolve) poucos recursos, menos de 0,5% do PIB. Em 2010, para o Brasil como um todo, a média de recursos transferidos foi de R$ 97,00. Na região Nordeste, essa média, foi de R$ 148,31, o equivalente a 29,01% do salário mínimo da época. Vale lembrar que essa política, bem como a de valorização do salário mínimo, será determinante na formação de uma nova base de apoio à Lula, diferente daquela relacionada aos movimentos sociais e sindicais (MARQUES et al, 2009).

2 – O primeiro governo Dilma

2.1 – A economia

A economia brasileira cresceu pouco durante o primeiro mandato de Dilma (média de 2,1% no período 2011 a 2014) sendo que, em 2014, ela ficou praticamente estagnada (0,1%). Dos setores de atividade, a indústria foi a que apresentou o pior desempenho, registrando queda nesse último ano de 1,2% (o setor de serviços aumentou somente 0,7% e a agropecuária 0,4%). O consumo das famílias se ampliou apenas 0,9% e o do governo 0,4%; a formação bruta do capital caiu 4,4% e a exportação reduziu-se em 1,1%. Na contramão desses resultados, a taxa de desemprego registrada em dezembro de 2014 foi de 4,3%, abaixo da ocorrida ao final do governo Lula (5,3%) e o rendimento médio real do ocupado registrou aumento de 2,7% em relação a 2013, acumulando um ganho de 33,1% em relação a 2003. Mas sua expansão começou a perder fôlego nos últimos anos do governo Dilma.

O resultado primário do setor público, depois de acusar aumento no primeiro ano (2,94% do PIB), foi progressivamente caindo, até registrar déficit de 0,59% em 2014. Já a taxa básica de juros (Selic) foi aumentada inicialmente nos primeiros meses de governo (chegou a 12,42%, em julho de 2011) e depois reduzida a 7,14% em outubro de 2012, permanecendo em torno disso até maio de 2013, quando voltou a subir. No final de seu primeiro mandato, estava em 11,65%. E o real frente ao dólar, apesar das várias intervenções do governo, acumulou uma desvalorização 60,88% durante o primeiro mandato de Dilma. Do lado da inflação, ela ficou sempre abaixo do teto da meta, mas muito próxima dela no último ano.

Do lado da entrada de capital, na forma de investimento direto estrangeiro, o primeiro ano do governo Dilma registrou aumento de 37,5% em relação ao ano anterior – que, considerando as informações desde 1995, acusava um recorde de entrada de capitais no país nessa modalidade. Nos anos seguintes, o volume de capitais irá cair, mas muito levemente, mantendo-se o Brasil como um dos países preferenciais de destino do investimento direto estrangeiro. Essa informação é relevante para se entender alguns posicionamentos em relação à crise política, o que é mais adiante explorado.

2.2 – O governo Dilma frente à crise mundial e seus avanços sobre o tripé macroeconômico.

Dilma inicia seu mandato expressando sua preocupação com as consequências negativas que o agravamento da economia mundial poderia ter para o Brasil: “Como outros países emergentes, o Brasil tem sido, até agora, menos afetado pela crise mundial. Mas sabemos que nossa capacidade de resistência não é ilimitada” (ROUSSEF, 2011). Talvez por isso suas ações, em termos de política econômica, divirjam da de Lula, implicando, de um lado, um afrouxamento com relação ao tripé concertado em 1998 com o FMI e, de outro, ampliando ao máximo as políticas de sustentação do consumo.

O primeiro aspecto digno de nota é sua política em relação aos juros. Além de promover uma redução substantiva na Selic, empreendeu esforços no sentido de que a taxa de juros praticada pelos bancos se reduzisse. Para isso, talvez com base na experiência de 2009, quando os bancos públicos aumentaram sua participação na carteira do sistema financeiro nacional, reduziu os juros do Banco do Brasil e da Caixa imediatamente após o anúncio da queda da Selic e, mediante uma presença agressiva na mídia, pressionou para que os bancos privados fizessem o mesmo. Esses acabaram por também reduzir os juros, mas não na mesma proporção. O resultado disso foi que, em julho de 2013, o segmento público era responsável por 30% do empréstimo para a pessoa física e 47,7% para a pessoa jurídica. No setor imobiliário, principalmente com a expansão do programa Minha Casa Minha Vida, houve forte expansão do crédito concedido pela Caixa Econômica Federal, mantendo-se constante a presença dos bancos privados no setor (PAIM, 2013). Contudo, como mencionado anteriormente, em maio de 2013, a taxa de juros novamente retomou sua trajetória ascendente. Para sua elevação contínua, foi fundamental a atuação da grande mídia, que falando em nome do capital financeiro [estrangeiro e nacional], a todo dia enfatizava que a meta da inflação estava sendo superada e que a causa disso era a demanda. Para quem acompanhou aqueles momentos, não há dúvida de que houve um claro embate entre o governo e o capital dito financeiro. Nesse embate, como visto, Dilma foi derrotada.

Em relação ao câmbio, Dilma promoveu uma depreciação substantiva do real: R$ 1,666 em dezembro de 2010 e R$ 2,659 em dezembro de 2014. Mesmo assim, segundo vários analistas, do qual destacamos Bresser Pereira, essa desvalorização foi insuficiente para conceder competitividade à indústria com vocação a exportar, que havia sofrido com o ciclo de valorização do real promovido durante o governo Lula.

Para fazer frente ao impacto que a desvalorização do real poderia ter sobre a inflação, Dilma manteve estrito controle sobre o preço da gasolina e dos serviços públicos, bem como reduziu os impostos de vários produtos, principalmente daqueles que compõem a Cesta Básica dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, para tornar os produtos brasileiros mais “competitivos”, dado o fim do ciclo de expansão das commodities e a dificuldade de colocação no mercado internacional dos demais produtos, promoveu uma desoneração fiscal sem paralelo, principalmente das contribuições que financiam parte importante das políticas sociais, o que, junto com outras medidas, teve graves consequências nas finanças públicas (MARQUES; MENDES, 2013). Num quadro de fraco crescimento econômico, o resultado primário do setor público, durante os três últimos anos do primeiro mandato de Dilma, apenas diminuiu, registrando déficit em 2014 de 0,59% do PIB.

Assim, do ponto de vista formal, Dilma em seu primeiro mandato ensaiou, muitas vezes de forma “criativa”, fazer frente aos elementos constitutivos do tripé: tentou reduzir os juros, controlou a inflação mediante administração de preços-chave e promoveu uma desvalorização do real. Mas como ela mesma reconheceu em seu discurso na ONU, a realidade da economia mundial havia mudado, pois a crise se mantinha e mesmo se aprofundava. Do lado interno, isso era agravado pelo desempenho negativo dos investimentos privados. E as políticas de sustentação e ampliação da demanda das famílias, que foram prioritárias em seu primeiro mandato e davam continuidade ao que tinha sido iniciado no governo Lula (valorização do salário mínimo, ampliação da cobertura do Programa Bolsa Família e renúncia fiscal sobre os produtos da Cesta Básica), mostravam, a cada ano, menor impacto.

2.3– As políticas de renda no governo Dilma

Dilma dá prosseguimento à política de valorização do salário mínimo em termos reais, mas essa perde impulso durante seu mandato (valorização de 18,74%). Considerando os dois mandatos de Lula e o primeiro de Dilma, o salário mínimo aumentou 72,75% acima da inflação. Com relação ao Programa Bolsa Família, houve ampliação da cobertura, com a incorporação de famílias pobres e muito pobres com adolescentes de 16 e 17 anos. No período, a índice de Gini das pessoas ocupadas, com 15 anos ou mais, continuou a cair, mas a taxas decrescentes.

2.4 – O segundo mandato de Dilma: quando os limites da política econômica são expostos

Passadas as eleições, antes mesmo de assumir seu segundo mandato, Dilma elevou a taxa Selic e anunciou a necessidade de realização de um ajuste nas contas públicas a fim de voltar a realizar superávits primários, em desacordo com seu discurso durante a campanha eleitoral. Em julho de 2015, a taxa de juros básica já estava em 14,15%, um aumento de 3,25 pontos percentuais desde a realização do segundo turno das eleições presidenciais.

O ajuste é finalmente anunciado em maio de 2015, com a realização de um contingenciamento de 2,04% do total dos gastos previstos no orçamento da União, visando superávit primário de 1,2% do PIB. Considerando os ministérios mais afetados, houve redução de recursos de 54% em Cidades, 24,8% na Defesa, 19,3% em Educação e 11,3% em Saúde. Dois meses depois, o governo anunciou novo ajuste (R$ 8,6 bilhões) e redução da estimativa do superávit primário para 0,15% do PIB. Nesse novo contingenciamento, R$ 4,46 bilhões são de investimentos que seriam realizados no interior do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), afetando vários ministérios, principalmente Cidades. Saúde e Educação sofreram novos cortes, mas ainda dispõem de um orçamento acima do exigido pela Constituição Federal. A revisão para baixo da estimativa do superávit fiscal deveu-se ao desempenho da arrecadação que, num cenário recessivo, registrou queda em relação a janeiro – julho do ano anterior (2,87%). E esse resultado foi obtido apesar dos aumentos de impostos realizados desde o início de 2015.

O quadro recessivo – o próprio governo anunciou, em julho, queda do PIB de 1,49% – se expressou na diminuição de todos os componentes da demanda agregada no primeiro trimestre do ano, com destaque para o consumo das famílias, que era a base preferencial do crescimento nos governos Lula e Dilma. Não há, no horizonte, perspectivas de reversão dessa situação, mesmo para o ano de 2016.

Dilma, ao contrário de Lula, não se beneficiou de um cenário internacional favorável. Para manter um crescimento da economia, ela procurou reduzir a taxa de juros (e nisso ela foi derrotada pelo “mercado”) e dar continuidade às políticas anticíclicas para estimular o consumo. Mas essas últimas foram perdendo força ao longo do tempo. Num quadro de retração do investimento e sem ter promovido (tal como Lula) reformas que alterassem as condições da oferta, o resultado de 2014 era anunciado, assim como o ajuste fiscal realizado em 2015.

O ajuste ocorreu em concomitância com uma política de elevação da taxa de juros, tendo como objetivo resgatar a confiança do mercado e voltar a realizar superávits primários. Isso, como sabido, eleva o total de juros a ser pago e, num quadro de recessão, aumentará significativamente a relação dívida/PIB e principalmente a proporção juros pagos e PIB. Por ironia, isso está sendo capitaneado por quem ousou tentar reduzir os juros no Brasil. Ocorre que sua tentativa foi feita de foram isolada, como mera política econômica, e não como um projeto abraçado pela maioria da população brasileira. Essa não foi chamada a apoiá-la. Dilma, assim, seguiu os passos de seu antecessor, que queria promover mudanças sem alterar os contratos, principalmente os contratos realizados com os representantes do capital financeiro. Dilma inicia seu segundo mandato, imersa em uma crise econômica e política.

2.5 – A crise política

2.5.1 – A herança política original de Dilma

Dilma Rousseff é reeleita, em 2014, com apenas 51,64% dos votos, quando em 2010 obteve 56,05%. Do anúncio de sua vitória até o momento em que se finaliza este artigo, a oposição derrotada não lhe deu trégua, instalando-se uma profunda crise política.

As condições políticas de sustentação do governo pós-vitória se mostraram sensivelmente distintas da do início do segundo governo Lula. Ainda que o “escândalo” do “Mensalão” e a abertura de uma crise política tenham ocorrido ao final da primeira gestão de Lula, os primeiros resultados significativos das políticas sociais e de renda lhe garantiram base maciça de apoio junto à população de mais baixa renda e uma recomposição das classes dominantes que o sustentavam. A expressão mais evidente dessa última, no plano político, foi a entrada explícita do PMDB para a base aliada, e economicamente, o desenvolvimento de políticas que favoreciam as atividades do grande capital monopolista no Brasil, principalmente via financiamento do BNDES e dos bancos públicos.

Já as condições para o segundo governo de Dilma Rousseff se apresentaram significativamente diferentes. Sua vitória registrou a menor diferença de votos de todo o período de governos do PT. E, dada a polarização político-eleitoral que se expressou durante a campanha do segundo turno, ela recebeu apoio de setores significativos da esquerda, que não lhe havia poupado de críticas contundentes durante todo seu primeiro mandato. Intencionalmente ou não, o apoio a Dilma passou a crescer quando ela começou a atacar o “rentismo” e o “grande capital bancário” em sua campanha eleitoral. Ainda durante a campanha, foram resgatadas as origens históricas do partido, sintetizadas nos lemas “Coração Valente” e “Muda Mais” – numa alusão direta à primeira eleição do PT. Apesar disso tudo, a fala da presidenta na noite da vitória foi direcionada não às “bases sociais populares”, que teriam garantido a vitória, mas a outra base, àquela da política-eleitoral capitaneada pelo PMDB.

As dificuldades que Dilma enfrentou nos meses seguintes a sua eleição, além da comezinha campanha da oposição, realizada pelo partido derrotado nas eleições para minar seu governo, se expressaram de diversas formas, com destaque para a não aceitação por parte expressiva das classes médias do resultado verificado nas urnas. As declarações tipicamente preconceituosas que “culpavam” a região Nordeste pela derrota nas urnas manifestavam as mudanças ideológicas ocorridas nas classes médias brasileiras nos últimos anos. Classes médias que haviam apoiado maciçamente Lula em sua primeira eleição.

Quando Lula dirigiu ações aos segmentos pobres e muito pobres da população (Bolsa Família), a base de apoio tradicional do Partido dos Trabalhadores começou a se alterar: além de setores médios urbanos, dos chamados intelectuais e dos trabalhadores organizados em sindicatos e movimentos sociais, somaram-se a eles os beneficiários dessas políticas. E, na medida em que essas foram ampliadas e outras foram implantadas (valorização do salário mínimo, por exemplo), a classe média, que antes lhe apoiava, dele começou a se afastar. Mesmo não sendo possível demonstrar que as políticas de Estado aplicadas nos governos do PT tenham prejudicado as classes médias, a melhora das condições de vida de contingentes populacionais expressivos e historicamente subalternos (tidos inclusive como “massa marginal”) - seja via programas de transferência de renda, seja via incorporação ao mercado de trabalho formal - produziu contornos ideológicos mais claros ao temor típico das classes médias – a proletarização, um temor ideológico produzido pela proximidade da ascensão do “outro”.

2.5.2 - As novidades “críticas” introduzidas pelos idos de junho

A polarização expressa nas eleições de 2014 e nos primeiros meses do segundo mandado de Dilma não é apenas um aspecto de um processo eleitoral acirrado, mas o resultado de algo que se tornou evidente nos reflexos e repercussões das manifestações urbanas de “Junho de 2013”. Essas manifestações, que no início foram puxadas e animadas por setores sociais identificados à esquerda, compostas prioritariamente por jovens secundaristas e universitários contra o aumento da tarifa do transporte público na cidade de São Paulo, apresentavam referências sociopolíticas diferentes daquelas que produziram o Partido dos Trabalhadores e não se ajustavam às coordenadas políticas partidárias do último período, quando PT e PSDB se enfrentaram, sendo o PT o partido do governo federal. Para essa juventude, o PT era o partido da situação.

No momento em que essas manifestações foram duramente reprimidas, em vários centros urbanos se somaram aos contingentes iniciais de jovens amplos setores da sociedade, indignados que estavam contra o nível de repressão policial ocorrido. A essa primeira reação, sucederam-se várias outras manifestações, já com objetivos e composições difusas. Em particular, chama atenção a presença marcante de setores médios contrários ao governo federal.

Nesse momento, aquilo que era considerado como “vandalismo” pelos grandes meios de comunicação, passou a ser tratado como uma "manifestação legítima contra, pasmem, a corrupção política", produzindo uma identificação fina entre políticas públicas e corrupção política. O rescaldo do “Mensalão”, com o julgamento televisionado diariamente da Ação Penal 470, seria novamente esquentado em meio a novas coordenadas dessemelhantes, mas agora “moralizadas”.

A expressão política mais imediata dos efeitos “moralizantes” será a composição dos congressistas eleitos para o parlamento brasileiro na mesma eleição que garantiu a vitória da presidenta Dilma Rousseff. Examinando as posições políticas expressas pelas bancadas eleitas (a mais famosa delas tida como bancada “BBB – Boi, Bala e Bíblia”), o resultado é que esse congresso possivelmente é o mais conservador desde a Ditadura Militar. Tem-se assim uma presidenta eleita com uma vitória apertada (com um apoio relevante inclusive de setores políticos de esquerda, críticos às políticas implantadas pelos governos do PT), que reconhece publicamente o apoio decisivo do PMDB, diante de um Congresso mais conservador do que aqueles presentes nos governos anteriores e, como visto, com problemas econômicos graves a resolver.

2.4.3 – Um cenário crescente de incertezas e instabilidade

No primeiro mês (01/02/2015) de atividade do “novo” Congresso, Dilma sofre sua primeira derrota política, com a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados de Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Isso não só porque o candidato indicado pela liderança do governo na Câmara foi derrotado, como porque Cunha não era (é) representativo de um PMDB aliado ao governo. Soma-se a essa derrota, em princípio interna à dinâmica de uma das casas legislativas, o avanço da chamada “Operação Lava-Jato”. Daí em diante, aquela dimensão de vinculação estreita da “corrupção” à “política”, presente nas últimas manifestações de 2013, se faz dominante no cenário brasileiro. Nas manifestações até meados de 2015, a oposição explícita ao governo vinculará corrupção aos governos dos trabalhadores e trabalhará no sentido de que essa é uma marca de toda esquerda.

No âmbito econômico, a Operação Lava-Jato envolve setores de atividade importantes, tendo 23 grandes empresas do setor energético e da construção civil, empregando quase 500 mil trabalhadores, se consideradas em conjunto com suas quase 50 mil empresas prestadoras de bens e serviços. Tais empresas correspondem a 13% do PIB brasileiro. O financiamento do BNDES a essas construtoras foi usado como justificativa para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Câmara, para investigar os empréstimos realizados pelo banco nos últimos anos. Também as empresas do setor energético são alvo de investigação dos parlamentares, mediante a instalação da CPI dos Fundos de Pensão (FP), dado que os grandes FP, tal como a Petros (dos funcionários da Petrobrás) e a Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), têm participação relevante no capital dessas empresas. Chama atenção o fato de as empresas objeto de investigação da Operação Lava-Jato, entre as quais se destaca a Petrobrás e as principais construtoras do país, serem de capital nacional ou estatal (mesmo que as ações da Petrobrás sejam negociadas na Bolsa de Nova York). Entre os 105 presos que esperam o fim das investigações e julgamento, encontram-se presidentes das principais empreiteiras do país e diversos diretores.

Soma-se ao impacto dessa Operação a atuação do presidente da Câmara, favorecendo a entrada na pauta de temas extremamente polêmicos, tais como a redução da maioridade penal e a terceirização das atividades fins das empresas, mas também a discussão e votação de medidas que oneram os gastos públicos, indo de encontro ao objetivo do governo de promover um ajuste fiscal expressivo, o que constitui mais um elemento desestabilizador do cenário político brasileiro.

A continuidade da crise política, expressa pelos embates entre o Executivo e o Legislativo, pela avassaladora campanha realizada pela grande mídia contra o governo e pelo apoio da classe média, bem como o agravamento da situação econômica (em parte aprofundada pela própria crise política), provocou o retorno da possibilidade da defesa explícita de impeachment de Dilma. A situação foi tal que, na primeira semana de agosto, o vice-presidente Michel Temer (PMDB- SP) foi a público falar sobre a necessidade de uma união nacional. A isso se seguiu o programa do PT em rádio e tevê, no mesmo sentido e, mais importante ainda, entrevistas de personalidades destacáveis no cenário econômico nacional (dos presidentes do Bradesco e do Itaú, principais bancos privados nacionais; de Armínio Fraga, economista tido como porta-voz do capital financeiro internacional), editoriais de grandes jornais, tais como O Globo e Folha de São Paulo e publicação de nota conjunta da federação da indústria de São Paulo e a do Rio de Janeiro, todos enfatizando a necessidade de salvaguardar o país. Vale lembrar que essas iniciativas foram precedidas pela redução da nota de grau de investimento do Brasil pela Standard & Poor's, que foi acompanhada pela alteração do viés de 41 empresas, industriais e bancárias. Neste caso, o recado foi claro: “o mau para o país, será bad for business”.

No início da semana seguinte, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB – AL) apresentou à presidenta um conjunto de sugestões para resolver a crise pela qual passa o Brasil. Chamada de Agenda Brasil, consiste de proposições que abrangem diferentes aspectos da vida econômica, social e política do país. Algumas delas, claramente, contestam o texto da atual Constituição, principalmente no campo dos direitos. Como resposta à situação política e a essa iniciativa, outros setores da sociedade, até então extremamente críticos, passaram a adotar uma postura mais cautelosa com vista a não intensificar a situação de crise.

Considerações finais

O que irá ocorrer nos próximos meses é impossível de prever, embora a possibilidade da continuação da sistemática oposição na Câmara de deputados ao executivo parece ter perdido força de apoio junto ao grande capital e de parte importante da mídia. Parece estar claro que não é de interesse do grande capital, internacional ou não, levar a uma situação de desestabilização que não tenha volta, dado que uma alternativa à Dilma não é vislumbrada sob nenhuma forma. O país, ao contrário do passado (1964), é bem mais complexo nas suas relações econômicas e sociais. Soma-se a isso a configuração do capitalismo contemporâneo, com um capital mundializado e financeirizado, no qual o Brasil está totalmente integrado. Um bom exemplo disso é o fato de se constituir destino preferencial dos investimentos estrangeiros diretos. Mas, além disso, conta também o peso do país no continente, num quadro de crise internacional difícil de ser superada. A preocupação manifestada pelas autoridades estadunidenses com relação ao Brasil, na última visita de Dilma aos Estados Unidos, mostra que elas não têm nenhum interesse na instabilidade econômica e política do país.

No campo estritamente econômico, ficou evidente que, sem enfrentar as grandes questões estruturais brasileiras, que inclusive perpetua sua inserção dependente no mercado mundial, e sem enfrentar os interesses do grande capital, nacional ou internacional, a margem de manobra para efetuar uma política autônoma, voltada para o mercado interno é muito reduzida. De um lado, o esforço em garantir a ampliação da demanda via políticas de renda, demonstrou ter um limite. De outro, a estratégia da parceria público–privado de certa forma também, posto que a capacidade de investimento do governo é reduzida (principalmente se considerarmos a punção que significa o pagamento da dívida) e que as parcerias ficam restritas a certos setores de atividade.

Na tentativa de manter certo nível de atividade, o governo Dilma aprofundou as políticas de renda e provocou a maior renúncia fiscal da “história desse país”; na tentativa de segurar a inflação, segurou a alta dos preços de vários produtos e serviços, entre outras iniciativas. Ao final de 2014, todo esse esforço mostrou-se vão: o investimento simplesmente não deu sinal de recuperação. E isso por vários motivos: desde a crise internacional, o fim do ciclo das commodities, a redução do ritmo da economia chinesa, até o fato de ser um ano de eleição, quando as decisões são suspensas, ficando à espera da definição do quadro institucional futuro. O investimento não se alterou e o resultado primário apresentou déficit, inviabilizando o que Lula havia prometido em seu discurso de posse do primeiro mandato: respeitar os contratos, no caso, do pagamento dos juros da dívida.

O que restou para Dilma fazer foi promover um ajuste fiscal substantivo, na tentativa de recompor as condições de realização de um superávit primário. Como visto anteriormente, mesmo esse está difícil de ser alcançado, dada a redução do nível de atividade e da arrecadação dos impostos. E o imbricamento entre a situação econômica e política aprofundou sobremaneira as condições de reprodução econômica no país.

No momento em que estamos finalizando este artigo, esta é a situação atual do país. Contudo, tendo em vista a rapidez com que os acontecimentos e movimentações políticas de todos os campos estão ocorrendo, não se descarta surpresas à frente. Na verdade, como dizia Camões, em Os Lusíadas, estamos passando “por mares nunca dantes navegados”. A dificuldade reside, no entanto, que não se vislumbra a possibilidade de “edificar Novo reino, que tanto sublimaram”.

Ao contrário, entre as diversas consequências do que se está vivenciando, é que a experiência de mais de 12 anos de governo PT, se mal resolvida, pode resultar na fragilização de todas as forças que se situam no campo da esquerda, para além do próprio PT. E essa fragilização, imposta não pela força e sim pela perda de sua identificação com “um mundo novo e melhor”, que foi substituída pelo desemprego e pela corrupção, levará anos para ser superada."

12 de agosto de 2015

Referências:

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FONTE: escrito por Rosa Maria Marques (1) e Patrick Rodrigues Andrade (2)
(1) Professora titular do Departamento de Economia e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política da PUCSP; líder do Grupo de Pesquisa Políticas para o Desenvolvimento Humano.
(2) Professor do Departamento de Economia da PUCSP.

Publicado no portal "Carta Maior" em seis páginas (ver links abaixo):
---http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Brasil-2003-2015-balanco-de-uma-experiencia-popular-/4/34342
---http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Brasil-2003-2015-balanco-de-uma-experiencia-popular-/4/34342&page=2
---http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Brasil-2003-2015-balanco-de-uma-experiencia-popular-/4/34342&page=3
---http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Brasil-2003-2015-balanco-de-uma-experiencia-popular-/4/34342&page=4
---http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Brasil-2003-2015-balanco-de-uma-experiencia-popular-/4/34342&page=5
---http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Brasil-2003-2015-balanco-de-uma-experiencia-popular-/4/34342&page=6.

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