Por Fábio de Oliveira Ribeiro
"Não consigo entender o farsesco golpe de estado encenado diariamente pela imprensa. O discurso empregado pelos golpistas é o mesmo de 1964, mas é completamente anacrônico. A URSS não existe mais, o comunismo deixou de ser um perigo real e quase todos os comunistas se tornaram escravos do Mercado e da corrupção que lhe é inerente. Alem disso, ao invés de criar uma nova Cuba, os governos petistas construíram um Brasil capitalista parecido com os EUA da década de 1950 em que predominaram o fortalecimento da classe média e a inclusão pelo consumo e pela educação, que conseguiu, inclusive, enriquecer os mais ricos.
As Forças Armadas foram revitalizadas, reequipadas e prestigiadas por Lula e Dilma Rousseff. Os militares da ativa não oferecem risco à preservação da normalidade democrática. Neste momento, o autoritarismo brota das ruas e é estimulado pela imprensa e por políticos que não aceitam o resultado das eleições. Curiosamente, muitos daqueles que querem rasgar a CF/88 fizeram carreira sob sua vigência (Eduardo Cunha, Aécio Neves etc…). E alguns, como FHC e José Serra, participaram da Assembléia Nacional Constituinte.
A suposta "ditadura do PT" não existe. Nem Lula nem Dilma Rousseff encheram presídios com seus desafetos. Os mandatos daqueles que desejam depor uma presidenta eleita pelo povo não foram suspensos ou cassados. E a verdade nua e crua é que apenas os petistas têm sido perseguidos pelo Judiciário, cujos membros seguem desfrutando privilégios Coloniais e Imperiais e tratando os corruptos tucanos a pão-de-ló.
Os fatos de 2015 diferem qualitativamente dos de 1889, 1930, 1937, 1964 e 1968. O golpe militar de 1889 foi dado por um militar monarquista e não contou com apoio popular. O de 1930 ocorreu para por fim a uma República instável porque beneficiava apenas as oligarquias regionais. Em 1937, ocorreu um golpe dentro do golpe que fortaleceu a ditadura comprometida com a industrialização e a urbanização do país e que gozava de apoio popular. O golpe de 1964, instigado pelos EUA e tramado por políticos ambiciosos que temiam o resultado da eleição presidencial de 1965, resultou na construção de uma tirania brutal que afastou do poder alguns de seus principais defensores. O golpe dentro do golpe, dado em 1968, reforçou a natureza militar da ditadura e, de certa maneira, construiu as condições necessárias para o isolamento e destruição do poder político dos quartéis.
Em 2015, temos uma presidenta eleita pelo povo, temporariamente impopular, odiada pela imprensa e que tem sido prestigiada pelas Forças Armadas. Dilma Rousseff é tão comprometida com a democracia que se recusa, de forma até irritante, a usar seu poder para amedrontar e reprimir os adversários da normalidade democrática. Quem são seus inimigos? Os tucanos derrotados que querem ganhar no grito o que não conseguem ganhar no voto. Os mais perigosos inimigos da democracia, contudo, pertencem ao partido do vice-presidente. São ex-aliados que se rebelaram, não por razões políticas, e sim porque querem garantir a própria impunidade em razão de estarem sendo perseguidos por crimes que cometeram para chegar ao poder e durante seu exercício. Vem daí a dificuldade que tenho para entender a situação.
Não estamos apenas diante de um golpe de estado. Estamos sendo mergulhados num delírio reforçado por uma imprensa ensandecida. Em razão disso, ao procurar uma imagem que corresponda ao que está ocorrendo, fui obrigado a descartar a racionalidade e os argumentos históricos. A única maneira de compreender uma realidade delirante é mergulhar na sua irracionalidade manifesta para fazer a crítica sistemática do delírio. Quando a histeria se transforma em regra, apenas os paradigmas histéricos são válidos. Por isso resolvi empregar o método paranóico-crítico(*) desenvolvido por Salvador Dali para “ver” o que realmente esta ocorrendo no Brasil.
A crise política atual é semelhante a uma invasão violenta da "Fundação Casa" (antiga FEBEM). Mas os lideres do movimento não querem libertar os outros internos. O que eles desejam é a garantia de que a instituição continue a funcionar como sempre funcionou: o viveiro de delinquentes deve continuar a produzir marginais. Para atingir seu objetivo, os invasores da "Fundação Casa" querem destituir sua nova diretora. Um experiente ex-interno comprometido com a “continuidade criminosa” deve ficar no lugar dela para re-imoralizar a instituição. Enquanto não conseguem o que desejam, os líderes da invasão transformaram em reféns do “poder marginal” os internos que se regeneraram e que teimam em modificar a natureza do regime de internação.
Do lado de fora das muralhas da Fundação Casa invadida, aqueles que fazem a segurança do Estado se recusam a adentrar ao recinto para garantir o poder da diretora. Eles temem uma cobertura negativa da imprensa? Torcem para que os internos se matem uns aos outros? Ou apenas acreditam que o que ocorre dentro da instituição é irrelevante?
O paradoxo criado pela invasão da Fundação Casa obrigou a imprensa a rever seu papel. Ao invés de denunciar a invasão, os jornalistas legitimam a mesma. Eles querem que a Fundação Casa volte a ser o que sempre foi, pois nesse caso a própria imprensa poderá voltar a fazer o que sempre fez: criticar a direção criminosa da instituição com a garantia de que ela continuará a produzir criminosos, notícias e lucros para os donos das empresas de comunicação.
Karl Marx disse que a história se repete como farsa. Neste momento, estamos diante da farsa repetida como um delírio histérico. Por isso, nenhuma ideologia é capaz de explicar o golpe de estado contra Dilma Rousseff. Brasília sempre funcionou como um viveiro de delinquentes e criou vontade própria: quer continuar a produzir marginais. Caso contrário, a capital e o país perderão sua identidade mais profunda com as raízes corrompidas da nação alimentadas por séculos pelo jornalismo malsão."
OBS: (*) Dalí describía el método paranoico-crítico como un «método espontáneo de conocimiento irracional basado en la objetividad crítica y sistemática de las asociaciones e interpretaciones de fenómenos delirantes». https://es.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_paranoico-cr%C3%ADtico
FONTE: escrito por Fábio de Oliveira Ribeiro e publicado no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/salvador-dali-e-o-golpe-histerico-contra-dilma-rousseff-por-fabio-de-oliveira-ribeiro).
"Não consigo entender o farsesco golpe de estado encenado diariamente pela imprensa. O discurso empregado pelos golpistas é o mesmo de 1964, mas é completamente anacrônico. A URSS não existe mais, o comunismo deixou de ser um perigo real e quase todos os comunistas se tornaram escravos do Mercado e da corrupção que lhe é inerente. Alem disso, ao invés de criar uma nova Cuba, os governos petistas construíram um Brasil capitalista parecido com os EUA da década de 1950 em que predominaram o fortalecimento da classe média e a inclusão pelo consumo e pela educação, que conseguiu, inclusive, enriquecer os mais ricos.
As Forças Armadas foram revitalizadas, reequipadas e prestigiadas por Lula e Dilma Rousseff. Os militares da ativa não oferecem risco à preservação da normalidade democrática. Neste momento, o autoritarismo brota das ruas e é estimulado pela imprensa e por políticos que não aceitam o resultado das eleições. Curiosamente, muitos daqueles que querem rasgar a CF/88 fizeram carreira sob sua vigência (Eduardo Cunha, Aécio Neves etc…). E alguns, como FHC e José Serra, participaram da Assembléia Nacional Constituinte.
A suposta "ditadura do PT" não existe. Nem Lula nem Dilma Rousseff encheram presídios com seus desafetos. Os mandatos daqueles que desejam depor uma presidenta eleita pelo povo não foram suspensos ou cassados. E a verdade nua e crua é que apenas os petistas têm sido perseguidos pelo Judiciário, cujos membros seguem desfrutando privilégios Coloniais e Imperiais e tratando os corruptos tucanos a pão-de-ló.
Os fatos de 2015 diferem qualitativamente dos de 1889, 1930, 1937, 1964 e 1968. O golpe militar de 1889 foi dado por um militar monarquista e não contou com apoio popular. O de 1930 ocorreu para por fim a uma República instável porque beneficiava apenas as oligarquias regionais. Em 1937, ocorreu um golpe dentro do golpe que fortaleceu a ditadura comprometida com a industrialização e a urbanização do país e que gozava de apoio popular. O golpe de 1964, instigado pelos EUA e tramado por políticos ambiciosos que temiam o resultado da eleição presidencial de 1965, resultou na construção de uma tirania brutal que afastou do poder alguns de seus principais defensores. O golpe dentro do golpe, dado em 1968, reforçou a natureza militar da ditadura e, de certa maneira, construiu as condições necessárias para o isolamento e destruição do poder político dos quartéis.
Em 2015, temos uma presidenta eleita pelo povo, temporariamente impopular, odiada pela imprensa e que tem sido prestigiada pelas Forças Armadas. Dilma Rousseff é tão comprometida com a democracia que se recusa, de forma até irritante, a usar seu poder para amedrontar e reprimir os adversários da normalidade democrática. Quem são seus inimigos? Os tucanos derrotados que querem ganhar no grito o que não conseguem ganhar no voto. Os mais perigosos inimigos da democracia, contudo, pertencem ao partido do vice-presidente. São ex-aliados que se rebelaram, não por razões políticas, e sim porque querem garantir a própria impunidade em razão de estarem sendo perseguidos por crimes que cometeram para chegar ao poder e durante seu exercício. Vem daí a dificuldade que tenho para entender a situação.
Não estamos apenas diante de um golpe de estado. Estamos sendo mergulhados num delírio reforçado por uma imprensa ensandecida. Em razão disso, ao procurar uma imagem que corresponda ao que está ocorrendo, fui obrigado a descartar a racionalidade e os argumentos históricos. A única maneira de compreender uma realidade delirante é mergulhar na sua irracionalidade manifesta para fazer a crítica sistemática do delírio. Quando a histeria se transforma em regra, apenas os paradigmas histéricos são válidos. Por isso resolvi empregar o método paranóico-crítico(*) desenvolvido por Salvador Dali para “ver” o que realmente esta ocorrendo no Brasil.
A crise política atual é semelhante a uma invasão violenta da "Fundação Casa" (antiga FEBEM). Mas os lideres do movimento não querem libertar os outros internos. O que eles desejam é a garantia de que a instituição continue a funcionar como sempre funcionou: o viveiro de delinquentes deve continuar a produzir marginais. Para atingir seu objetivo, os invasores da "Fundação Casa" querem destituir sua nova diretora. Um experiente ex-interno comprometido com a “continuidade criminosa” deve ficar no lugar dela para re-imoralizar a instituição. Enquanto não conseguem o que desejam, os líderes da invasão transformaram em reféns do “poder marginal” os internos que se regeneraram e que teimam em modificar a natureza do regime de internação.
Do lado de fora das muralhas da Fundação Casa invadida, aqueles que fazem a segurança do Estado se recusam a adentrar ao recinto para garantir o poder da diretora. Eles temem uma cobertura negativa da imprensa? Torcem para que os internos se matem uns aos outros? Ou apenas acreditam que o que ocorre dentro da instituição é irrelevante?
O paradoxo criado pela invasão da Fundação Casa obrigou a imprensa a rever seu papel. Ao invés de denunciar a invasão, os jornalistas legitimam a mesma. Eles querem que a Fundação Casa volte a ser o que sempre foi, pois nesse caso a própria imprensa poderá voltar a fazer o que sempre fez: criticar a direção criminosa da instituição com a garantia de que ela continuará a produzir criminosos, notícias e lucros para os donos das empresas de comunicação.
Karl Marx disse que a história se repete como farsa. Neste momento, estamos diante da farsa repetida como um delírio histérico. Por isso, nenhuma ideologia é capaz de explicar o golpe de estado contra Dilma Rousseff. Brasília sempre funcionou como um viveiro de delinquentes e criou vontade própria: quer continuar a produzir marginais. Caso contrário, a capital e o país perderão sua identidade mais profunda com as raízes corrompidas da nação alimentadas por séculos pelo jornalismo malsão."
OBS: (*) Dalí describía el método paranoico-crítico como un «método espontáneo de conocimiento irracional basado en la objetividad crítica y sistemática de las asociaciones e interpretaciones de fenómenos delirantes». https://es.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_paranoico-cr%C3%ADtico
FONTE: escrito por Fábio de Oliveira Ribeiro e publicado no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/salvador-dali-e-o-golpe-histerico-contra-dilma-rousseff-por-fabio-de-oliveira-ribeiro).
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