sexta-feira, 4 de setembro de 2015

QUEM ERAM OS "IDIOTAS" E O "CAFETÃO"? Paulo Henrique Amorim revela




Paulo Henrique Amorim revela quem eram os “idiotas” e o “cafetão” das suas anotações de repórter 

FHC entregou a Petrobras antes de sair candidato, relembra

PIG, ou Partido da Imprensa Golpista, foi uma expressão criada pelo deputado Fernando Ferro (PT-PE) que Paulo Henrique popularizou

Por Luiz Carlos Azenha

"Fomos correspondentes ao mesmo tempo, em Nova York. Ele, na 'Globo'; eu, na 'TV Manchete'. Na rede norte-americana 'CNN', ele me sucedeu como colaborador do programa 'World Report', que reproduzia reportagens de jornalistas estrangeiros baseados nos Estados Unidos. Temos o mesmo hábito: fazer anotações em blocos de notas sobre as conversas com entrevistados.

Pois Paulo Henrique Amorim, aos 50 anos de carreira, decidiu contar, a partir de suas anotações, os bastidores das coberturas jornalísticas que viveu.

Fez isso no livro "O Quarto Poder — Uma Outra História", lançado na noite de quinta-feira na "Livraria Saraiva" do Shopping Higienópolis.

Poucos leitores, ouvintes e telespectadores se dão conta de que, na carreira de um repórter, mais da metade do que ele vê, ouve ou apura nunca é publicado, seja por falta de confirmação imediata, ou por desagradar editores ou patrões. Detalhes saborosos — às vezes essenciais — da notícia acabam morrendo ali, no bloco de anotações.

Tenho um exemplo pessoal: quando Bonn ainda era capital e a Alemanha Ocidental existia, fui até lá entrevistar o então embaixador dos Estados Unidos, Vernon Walters. Na Segunda Guerra Mundial, ele foi o oficial de ligação entre o Exército dos Estados Unidos — Walters era coronel — e os soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB), despachados para lutar na Itália sob comando norte-americano.

Na entrevista, Walters foi só elogios à bravura e à capacidade dos soldados brasileiros. Desligada a câmera, passou a contar o “outro lado”: sem uniformes adequados para o inverno europeu e despreocupados com a guerra, os brasileiros acendiam fogueiras durante a noite para enfrentar o frio e ele tinha de despachar subordinados para explicar aos brasileiros aliados que, com o fogo, se tornavam alvo fácil para a artilharia inimiga.

Em "O Quarto Poder", Paulo Henrique narra episódios politicamente relevantes desse “outro lado”. Por exemplo, sobre seu vizinho de bairro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Como se sabe, FHC fez mudanças importantes na Constituição durante seus dois mandatos.

Relembrando…

AS CINCO MUDANÇAS CONSTITUCIONAIS PROMOVIDAS POR FHC/PSDB:

1) Mudou o conceito de empresa nacional.  A Constituição de 1988 havia estabelecido uma distinção entre empresa brasileira de capital nacional e empresa brasileira de capital estrangeiro. As empresas de capital estrangeiro só poderiam explorar o subsolo brasileiro (minérios) com até 49% das ações das companhias mineradoras. A mudança enquadrou todas as empresas como "brasileiras". A partir dessa mudança, as estrangeiras passaram a poder possuir 100% das ações. Ou seja, foi escancarado o subsolo brasileiro para as multinacionais, muito mais poderosas financeiramente do que as empresas nacionais. A "Companhia Brasileira de Recursos Minerais" havia estimado o patrimônio de minérios estratégicos brasileiros em US$ 13 trilhões. Apenas a companhia "Vale do Rio Doce" detinha direitos minerários de US$ 3 trilhões. FHC vendeu essa companhia por um valor inferior a que um milésimo do valor real estimado.

2) Quebrou o monopólio da navegação de cabotagem, permitindo que navios estrangeiros navegassem pelos rios brasileiros, transportando os minérios sem qualquer controle;

3) Quebrou o monopólio das telecomunicações, para privatizar a Telebrás por um preço abaixo da metade do que havia gastado na sua melhoria nos últimos 3 anos, ao prepará-la para ser desnacionalizada. Recebeu pagamento em títulos podres e privatizou um sistema estratégico de transmissão de informações. Desmontou o Centro de Pesquisas da empresa e abortou vários projetos estratégicos em andamento como capacitor ótico, fibra ótica e TV digital;

4) Quebrou o monopólio do gás canalizado e entregou a distribuição a empresas estrangeiras. Um exemplo é a estratégica "Companhia de Gás de São Paulo", a COMGÁS, que foi vendida a preço vil para a "British Gas" e para a "Shell". Não deixou a Petrobrás participar do leilão através da sua empresa distribuidora. Mais tarde, abriu parte do gasoduto Bolívia-Brasil [construído pela Petrobras] para essa empresa e para a "Enron", com ambas pagando menos da metade da tarifa paga pela Petrobrás, uma tarifa baseada na construção do Gasoduto, enquanto que as outras pagam uma tarifa baseada na taxa de ampliação;

5) Quebrou o Monopólio Estatal do Petróleo, através de uma emenda à Constituição de 1988, retirando o parágrafo primeiro, elaborado pelo diretor da AEPET, Guaracy Correa Porto, que estudava Direito e contou com a ajuda de seus professores na elaboração. O parágrafo extinto era um salvaguarda que impedia que o governo cedesse o petróleo como garantia da dívida externa do Brasil. PSDB/FHC substituiu esse parágrafo por outro, permitindo que as atividades de exploração, produção, transporte, refino e importação fossem feitas por empresas estatais ou privadas. Ou seja, o monopólio poderia ser executado por várias empresas, mormente pelo cartel internacional.

Como registrado em "O Quarto Poder", Paulo Henrique Amorim estava lá quando isso aconteceu.

Ele testemunhou a promessa de FHC, ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, de “entregar” a Petrobras ao Fundo Monetário Internacional como garantia da dívida brasileira.

Paulo Henrique registrou as palavras elogiosas de Michel Camdessus, o francês que era diretor-gerente do FMI, ao Príncipe da Sociologia — e da Privataria.

Segundo o repórter, foi isso o que pavimentou o caminho de FHC/PSDB rumo ao Planalto.

Outras anotações iluminam aquele momento em que as câmeras estão desligadas.

Uma delas traz a palavra “idiotas” para descrever herdeiros de um império ameaçado de morrer.

Noutra, “cafetão” é dito pelo cacique baiano Antonio Carlos Magalhães para descrever um ex-ministro que supostamente fazia o papel de arranjar namoradas para o chefe.

No vídeo acima, Paulo Henrique explica quem é quem nas anotações. E conta os bastidores de seu embate com o banqueiro Daniel Dantas, acusado pelo jornalista de mandar espioná-lo e à sua família."

FONTE: escrito pelo jornalista Luiz Carlos Azenha em seu blog "Viomundo"  (http://www.viomundo.com.br/entrevistas/paulo-henrique-amorim-revela-quem-eram-os-idiotas-e-o-cafetao-das-suas-anotacoes-de-reporter-fhc-entregou-a-petrobras-antes-de-sair-candidato-acusa.html).

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