A vergonhosa perseguição a Lula
Por RIBAMAR FONSECA, jornalista e escritor
"As paixões políticas, agravadas pela intolerância e o ódio gerados por políticos irresponsáveis e estimulados pela mídia partidária, ultrapassou as fronteiras do Congresso Nacional e contaminou diversos segmentos da sociedade, incluindo setores da estrutura de poder, como a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça. Felizmente, são minoria os que agem, nesses setores, movidos por sentimentos políticos, mas os prejuízos que causam à confiança antes neles depositada são incalculáveis. Desde o julgamento do chamado "mensalão", que o Judiciário, por exemplo, passou a ser olhado com alguma desconfiança, pois ficou evidente a influência da mídia em decisões, visivelmente políticas, do Supremo Tribunal Federal.
O ministro Joaquim Barbosa, na época transformado em celebridade por fazer o jogo dos adversários do petismo, chegou a ser várias vezes capa da "Veja" e até cogitado como candidato à Presidência da República. Após aposentado do Supremo, porém, foi esquecido, afastado da frente dos holofotes, porque fora da Corte deixou de servir aos interesses políticos da mídia, o que acabou com o seu sonho presidencial. O ministro Gilmar Mendes, então, escandalosamente tucano, passou a ocupar o seu lugar no coração midiático, já que, por sua coloração partidária, todos parecem saber antecipadamente as suas decisões em julgamentos que envolvam questões políticas. E com isso contribui para os danos na confiança no Judiciário.
É claro que a esmagadora maioria dos membros da mais alta Corte de Justiça do país se revela isenta, como ficou evidente no julgamento que proibiu doações das empresas para campanhas eleitorais, mas o Supremo só começou mesmo a reconquistar a confiança da sociedade, abalada com o desfecho do "mensalão", após a posse do ministro Ricardo Lewandowski na sua presidência, onde restaurou a austeridade do poder, ignorando as pressões externas para a tomada de decisões. Talvez por isso, por não se deixar mais intimidar pela mídia que durante algum tempo praticamente ditava a pauta dos julgamentos, é que o Supremo hoje perdeu espaço no noticiário onde, durante a gestão do ministro Barbosa, tinha cadeira cativa.
Mas enquanto o STF se recupera, procurando efetivamente distribuir Justiça retomando o seu papel de guardião da Constituição, alguns magistrados e membros do Ministério Público deixam escapar as suas paixões políticas, dando a sua contribuição na caçada a Lula, o principal alvo das operações em andamento. Depois do fracasso do esforço para encontrar alguma coisa que o incriminasse nas investigações da Lava-Jato, os seus caçadores voltaram-se agora para a Operação Zelotes, onde se empenham em envolver os seus filhos com ações policiais que parecem mais armadas para o noticiário, já que, na verdade, não existe nada concreto que possa incriminar o filho do ex-presidente. Constata-se que os inimigos dele no serviço público, até então camuflados, começaram a por as garras de fora, dando a sua colaboração no processo de perseguição.
Na verdade, deflagrada para investigar grandes sonegadores de impostos, a Operação Zelotes acabou mudando o foco justamente para atingir Lula, através dos seus filhos, uma atitude escandalosamente direcionada que preserva os verdadeiros acusados de sonegação. Fica evidente que o objetivo da Zelotes não é pegar os sonegadores, cujos prejuízos causados aos cofres públicos ultrapassam os R$ 20 bilhões, mas o ex-presidente, de modo a afastá-lo para bem longe do Palácio do Planalto. E nessa perseguição desenfreada, que inclui criminosas capas da revista "Veja", envolvem muita gente ligada a ele, inclusive o ex-ministro Gilberto Carvalho. Parece que descobriram que o melhor caminho para atingir o alvo é primeiro mirar nos filhos e amigos. É óbvio que não estão interessados em sanear o país – prova disso não é apenas a mudança do foco da Zelotes como, também, o total esquecimento do escândalo do cartel de trens de São Paulo, o chamado "trensalão" – mas em tirar Lula da sucessão presidencial.
Além da "Veja", que na capa deste fim de semana apresenta Lula vestido de presidiário – um insulto aos brasileiros sérios – a revista "Época", dos irmãos Marinho, integrante do mesmo esquema de perseguição ao ex-presidente, também o ataca, levantando suspeitas sobre suas movimentações financeiras. Como sempre, o senador Aécio Neves, o mesmo que fica em silêncio diante das denúncias comprovadas dos milhões de reais do deputado Eduardo Cunha na Suíça, apressou-se em distribuir nota dizendo que "o PSDB vê com extrema preocupação os dados revelados pela revista Época", acrescentando que "as suspeitas reveladas pelo Coaf exigem uma ampla e profunda investigação", o que, aliás, não foi feito no caso do aeroporto de Cláudio e de Furnas. Difícil levar a sério suas declarações porque ele não tem as mesmas preocupações quando as denúncias apontam para seus aliados. É um cinismo gritante.
O ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, também ganhou capa da "IstoÉ" no final de semana para responder as críticas do PT por não ter controle sobre a Policia Federal, que realizou operações contra o filho de Lula, esquecendo os sonegadores. "A lei é para todos", ele disse, frase destacada na capa da publicação. A lei, na verdade, deveria ser para todos, mas estranhamente não alcança os que se opõem a Dilma e ao ex-presidente, entre eles o próprio Aécio Neves. O Supremo, por exemplo, no chamado "mensalão petista", julgou muita gente que não tinha direito a foro privilegiado, enquanto os que tinham esse direito no chamado "mensalão tucano", como o ex-governador Azeredo da Silveira, foram entregues à justiça comum e seus crimes estão prescrevendo. A lei realmente é para todos, mas o sujeito que ameaçou publicamente de morte a Presidenta não está na cadeia.
O fato é que se as ações não fossem movidas por paixões políticas, todas as denúncias – e não apenas contra os petistas – deveriam ser apuradas com rigor e isenção, punindo-se todos, independente de cor partidária, comprovadamente corruptos. Infelizmente, porém, ninguém mais tem dúvidas de que todo esse circo foi montado para impedir Lula de voltar à Presidência da República. O impeachment de Dilma é apenas parte do processo, porque o alvo mesmo é o torneiro mecânico que um dia ousou ser Presidente da República e governar para o povo pobre, reduzindo as desigualdades sociais, pagando os empréstimos do FMI feitos no governo PSDB/FHC, colocando o Brasil entre as grandes potências mundiais e o tornando credor dos Estados Unidos. As elites, até então beneficiadas pelos governos anteriores, não admitem sequer a possibilidade de passarem mais quatro ou oito anos em jejum. E estão fazendo o diabo para exorcizar o fantasma de Lula."
FONTE: escrito por RIBAMAR FONSECA, jornalista e escritor. Publicado no portal "Brasil 247" (https://www.brasil247.com/pt/colunistas/ribamarfonseca/203394/A-vergonhosa-persegui%C3%A7%C3%A3o-a-Lula.htm).
"As paixões políticas, agravadas pela intolerância e o ódio gerados por políticos irresponsáveis e estimulados pela mídia partidária, ultrapassou as fronteiras do Congresso Nacional e contaminou diversos segmentos da sociedade, incluindo setores da estrutura de poder, como a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça. Felizmente, são minoria os que agem, nesses setores, movidos por sentimentos políticos, mas os prejuízos que causam à confiança antes neles depositada são incalculáveis. Desde o julgamento do chamado "mensalão", que o Judiciário, por exemplo, passou a ser olhado com alguma desconfiança, pois ficou evidente a influência da mídia em decisões, visivelmente políticas, do Supremo Tribunal Federal.
O ministro Joaquim Barbosa, na época transformado em celebridade por fazer o jogo dos adversários do petismo, chegou a ser várias vezes capa da "Veja" e até cogitado como candidato à Presidência da República. Após aposentado do Supremo, porém, foi esquecido, afastado da frente dos holofotes, porque fora da Corte deixou de servir aos interesses políticos da mídia, o que acabou com o seu sonho presidencial. O ministro Gilmar Mendes, então, escandalosamente tucano, passou a ocupar o seu lugar no coração midiático, já que, por sua coloração partidária, todos parecem saber antecipadamente as suas decisões em julgamentos que envolvam questões políticas. E com isso contribui para os danos na confiança no Judiciário.
É claro que a esmagadora maioria dos membros da mais alta Corte de Justiça do país se revela isenta, como ficou evidente no julgamento que proibiu doações das empresas para campanhas eleitorais, mas o Supremo só começou mesmo a reconquistar a confiança da sociedade, abalada com o desfecho do "mensalão", após a posse do ministro Ricardo Lewandowski na sua presidência, onde restaurou a austeridade do poder, ignorando as pressões externas para a tomada de decisões. Talvez por isso, por não se deixar mais intimidar pela mídia que durante algum tempo praticamente ditava a pauta dos julgamentos, é que o Supremo hoje perdeu espaço no noticiário onde, durante a gestão do ministro Barbosa, tinha cadeira cativa.
Mas enquanto o STF se recupera, procurando efetivamente distribuir Justiça retomando o seu papel de guardião da Constituição, alguns magistrados e membros do Ministério Público deixam escapar as suas paixões políticas, dando a sua contribuição na caçada a Lula, o principal alvo das operações em andamento. Depois do fracasso do esforço para encontrar alguma coisa que o incriminasse nas investigações da Lava-Jato, os seus caçadores voltaram-se agora para a Operação Zelotes, onde se empenham em envolver os seus filhos com ações policiais que parecem mais armadas para o noticiário, já que, na verdade, não existe nada concreto que possa incriminar o filho do ex-presidente. Constata-se que os inimigos dele no serviço público, até então camuflados, começaram a por as garras de fora, dando a sua colaboração no processo de perseguição.
Na verdade, deflagrada para investigar grandes sonegadores de impostos, a Operação Zelotes acabou mudando o foco justamente para atingir Lula, através dos seus filhos, uma atitude escandalosamente direcionada que preserva os verdadeiros acusados de sonegação. Fica evidente que o objetivo da Zelotes não é pegar os sonegadores, cujos prejuízos causados aos cofres públicos ultrapassam os R$ 20 bilhões, mas o ex-presidente, de modo a afastá-lo para bem longe do Palácio do Planalto. E nessa perseguição desenfreada, que inclui criminosas capas da revista "Veja", envolvem muita gente ligada a ele, inclusive o ex-ministro Gilberto Carvalho. Parece que descobriram que o melhor caminho para atingir o alvo é primeiro mirar nos filhos e amigos. É óbvio que não estão interessados em sanear o país – prova disso não é apenas a mudança do foco da Zelotes como, também, o total esquecimento do escândalo do cartel de trens de São Paulo, o chamado "trensalão" – mas em tirar Lula da sucessão presidencial.
Além da "Veja", que na capa deste fim de semana apresenta Lula vestido de presidiário – um insulto aos brasileiros sérios – a revista "Época", dos irmãos Marinho, integrante do mesmo esquema de perseguição ao ex-presidente, também o ataca, levantando suspeitas sobre suas movimentações financeiras. Como sempre, o senador Aécio Neves, o mesmo que fica em silêncio diante das denúncias comprovadas dos milhões de reais do deputado Eduardo Cunha na Suíça, apressou-se em distribuir nota dizendo que "o PSDB vê com extrema preocupação os dados revelados pela revista Época", acrescentando que "as suspeitas reveladas pelo Coaf exigem uma ampla e profunda investigação", o que, aliás, não foi feito no caso do aeroporto de Cláudio e de Furnas. Difícil levar a sério suas declarações porque ele não tem as mesmas preocupações quando as denúncias apontam para seus aliados. É um cinismo gritante.
O ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, também ganhou capa da "IstoÉ" no final de semana para responder as críticas do PT por não ter controle sobre a Policia Federal, que realizou operações contra o filho de Lula, esquecendo os sonegadores. "A lei é para todos", ele disse, frase destacada na capa da publicação. A lei, na verdade, deveria ser para todos, mas estranhamente não alcança os que se opõem a Dilma e ao ex-presidente, entre eles o próprio Aécio Neves. O Supremo, por exemplo, no chamado "mensalão petista", julgou muita gente que não tinha direito a foro privilegiado, enquanto os que tinham esse direito no chamado "mensalão tucano", como o ex-governador Azeredo da Silveira, foram entregues à justiça comum e seus crimes estão prescrevendo. A lei realmente é para todos, mas o sujeito que ameaçou publicamente de morte a Presidenta não está na cadeia.
O fato é que se as ações não fossem movidas por paixões políticas, todas as denúncias – e não apenas contra os petistas – deveriam ser apuradas com rigor e isenção, punindo-se todos, independente de cor partidária, comprovadamente corruptos. Infelizmente, porém, ninguém mais tem dúvidas de que todo esse circo foi montado para impedir Lula de voltar à Presidência da República. O impeachment de Dilma é apenas parte do processo, porque o alvo mesmo é o torneiro mecânico que um dia ousou ser Presidente da República e governar para o povo pobre, reduzindo as desigualdades sociais, pagando os empréstimos do FMI feitos no governo PSDB/FHC, colocando o Brasil entre as grandes potências mundiais e o tornando credor dos Estados Unidos. As elites, até então beneficiadas pelos governos anteriores, não admitem sequer a possibilidade de passarem mais quatro ou oito anos em jejum. E estão fazendo o diabo para exorcizar o fantasma de Lula."
FONTE: escrito por RIBAMAR FONSECA, jornalista e escritor. Publicado no portal "Brasil 247" (https://www.brasil247.com/pt/colunistas/ribamarfonseca/203394/A-vergonhosa-persegui%C3%A7%C3%A3o-a-Lula.htm).
5 comentários:
So discordo de que as elites tenham estado em jejum estes últimos 13 anos.Apesar da grande inclusão social dos governos Lula e Dilma, as elites não deixaram de se locupletar. Os empresários,a mídia, a aristocracia rural da pecuária e do agronegócio, os bancos e financeiras, os rentistas investidores,as empreiteiras e os capitalistas especuladores ganharam rios de dinheiro nos governos Lula e Dilma, tanto quanto ganhavam nos governos anteriores e sempre. Rios de dinheiro continuaram a jorrar para o exterior com remessas de lucros das multinacionais.Estranho que estes capitalistas tenham, agora, se voltado contra os governos do PT e contra o próprio PT, pois, a rigor, tudo continuou como dantes no quartel de Abrantes.A unica coisa diferente que aconteceu foi o governo ter transferido um pouco de renda para os miseráveis, via programas sociais.O PT simplesmente substituiu a social-democracia do PSDB,que agora virou partido da direita reacionaria e entreguista.
Ao Jonas Carvalho,
Você tem razão. A classe dominante não deixou de se locupletar, e cada vez mais, nos últimos 13 anos. Apesar disso, ela ficou incomodada porque os miseráveis e pobres pela primeira vez melhoraram um pouco, entrando na frente dos que se julgam "elite" nos check-in dos aeroportos, filas de restaurantes, de cinemas, ocupando vagas nos estacionamentos, enfim, perturbando o conforto dos ricos.
Mas isso não explica tudo. Tentei mostrar a grande razão de, apesar de os ricos terem ganhado com os governos PT, quererem derrubar Dilma e destruir Lula. Sugiro a leitura da minha postagem de 01/ Nov "O porquê do esperto Plano Temer/PMDB" (http://democraciapolitica.blogspot.com.br/2015/11/o-porque-do-esperto-plano-temerpmdb.html). São interesses dos poderosos que governam o mundo que estão interferindo no Brasil e causando a atual grave crise.
Maria Tereza
Tereza, eu li "O porque do esperto plano Temer/PMDB" quando você o postou.Eu leio todos os artigos postados em "Democracia&Politica" desde 2014 e sempre estou indicando este blog para amigos e conhecidos. Parabéns pelos seus artigos, seus comentários muito oportunos.Com seu blog você presta um relevante e inestimável serviço ao Brasil na conscientização de todos os brasileiros.Longa vida para "Democracia&Politica".
Ao Jonas Carvalho,
Muito obrigada!
Também não mereço tanto. Mas é sempre bom um elogio para incentivar nosso esforço de fazer o melhor possível e com coerência com nossa compreensão dos fatos e com nossos princípios.
Maria Tereza
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