terça-feira, 17 de novembro de 2015

CONHEÇA O "ESTADO ISLÂMICO" (ISIS)





Estado Islâmico nasceu em 1999 e cresceu com guerras no Iraque e Síria

Por DIOGO BERCITO, em Madrid (no portal UOL)

"O pai do Estado Islâmico foi o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, um radical como diversos em sua geração, cuja formação se deu no Afeganistão durante o conflito com a antiga União Soviética [na época, os EUA também enviavam dinheiro, armas e munição, e propiciavam treinamento militar, para selecionados "bons rebeldes", para que combatessem a União Soviética].

Em 1999, Zarqawi fundou o "Al-Tawhid wa al-Jihad" ("Monoteísmo e Jihad", em árabe).

Em menos de duas décadas, a organização iria se tornar globalmente conhecida como "Estado Islâmico", com um histórico de crucificar crianças, escravizar mulheres e decapitar inocentes.

No período, estendeu seu território no oeste da Síria e no norte do Iraque para algo entre 90 mil km² (uma Jordânia) e 250 mil km² (Reino Unido), conforme a estimativa.

As ações terroristas de Zarqawi foram marcadas pela sua interpretação restrita do que é o islã. Ao contrário de outros líderes fundamentalistas, ele levou ao extremo a ideia de "takfir" – declarar um muçulmano apóstata e, assim, justificar sua morte.

O Iraque, após a invasão americana de 2003, era terreno fértil para a ideologia do "Al-Tawhid wa al-Jihad". Ali, a organização passou a se chamar "Al Qaeda no Iraque".

Zarqawi aproveitou-se das rivalidades locais para estimular a violência sectária entre sunitas e xiitas. No caos, pensava, triunfaria.

Organizações como a "Al Qaeda" insistiam em que a criação de um "Estado islâmico" era um objetivo futuro, quase idealizado. Zarqawi, por outro lado, acreditava que o poderia estabelecer a partir da desordem política.

Não à toa, a revista oficial do "Estado Islâmico" hoje cita Zarqawi em todas as suas edições, nas primeiras páginas: "A fagulha foi acendida aqui no Iraque e seu calor vai continuar a intensificar-se, se Deus assim permitir".

Zarqawi foi morto em 2006 por duas bombas lançadas por um avião americano, cada uma pesando 230 quilos. Sua liderança foi herdada por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Baghdadi, por sua vez mortos em 2010.

A organização terrorista passou a ser controlada por Abu Bakr al-Baghdadi, uma misteriosa figura com uma biografia ainda carcomida por lacunas. De formação religiosa e passagem pela prisão durante a presença americana, Baghdadi espalhou sua sombra pela região.

Mais uma vez, o caos. A guerra civil na Síria, respingada no vizinho Iraque, lançou a região em novos conflitos sectários a partir de 2011. [Novamente, os EUA enviam dinheiro, armas e munição, e propiciam treinamento militar, para selecionados "bons rebeldes", para que derrubem o Presidente Assad, e assim tenha término a autorização de a Rússia ter uma base naval no território sírio no Mar Mediterrâneo. A maior parte desses "bons rebeldes" fugiu com as armas recebidas e aderiu ao Estado Islâmico].

Dois anos depois, a organização terrorista trocaria seu nome para "Estado Islâmico no Iraque e no Levante".

SADDAM

Uma das figuras centrais nesse processo foi Haji Bakr. Antes membro da Inteligência de Saddam Hussein, Bakr estruturou as forças do "Estado Islâmico", incluindo ex-militares iraquianos entre os líderes. Ele morreu em janeiro de 2014, no norte da Síria.

Fortalecidos, militantes infiltraram-se em cidades sírias e iraquianas, aproveitaram-se das vistas grossas dos governos regionais e, em junho de 2014, moveram as peças no tabuleiro: conquistaram a cidade de Mossul, no Iraque.

Ali, em 29 de junho, Baghdadi declarou seu "califado".

A organização passou a ser chamada "Estado Islâmico", agora com pretensão global. Em vestes negras, Baghdadi discursou na Grande Mesquita de al-Nuri. Declarou-se "califa de todos os muçulmanos".

Ao dizer-se representante do islã e definir todos os outros governos regionais como apóstatas, o Estado Islâmico tornou-se inimigo de potências como a Arábia Saudita.

Apesar dos bombardeios constantes de forças ocidentais, a organização terrorista mantém o controle territorial.

Financiada por meios que incluem o tráfico de petróleo e a venda de reféns, o Estado Islâmico reúne uma multidão de militantes – cuja estimativa ainda varia enormemente.

Um relatório recente afirma que 30 mil milicianos estrangeiros viajaram à Síria e ao Iraque desde 2011. Alguns deles, descontentes com a exclusão social. Outros, seduzidos pela aventura. Muitos, como o belga Brian de Mulder, filho de uma brasileira, foram convencidos pelo projeto de califado baseado na religião.

Em cidades como Raqqa e Mossul, esses guerreiros vivem a partir de regras restritas que proíbem fumo, mistura entre os sexos e música.

Mas, apesar da ideia corrente de que o Estado Islâmico tenha devolvido a região à Idade Média, seu território é governado por um emaranhado de instituições públicas apropriadas por terroristas a partir das estruturas modernas que existiam ali.

Assim, numa imitação perversa, moedas foram cunhadas, passaportes foram impressos, multas de trânsito foram emitidas e currículos escolares foram modificados.

UTOPIA

O califado islâmico que esses militantes querem estabelecer no Oriente Médio é uma construção idealizada do modelo político surgido no século 7 no que é hoje a Arábia Saudita. O "califa", como explica o próprio termo em árabe, era o "sucessor" do profeta Maomé, que havia unificado a região em torno da religião islâmica.

Invasões e crises dinásticas levaram à constante reformulação de como se poderia administrar uma comunidade de muçulmanos. O califado do século 7 transformou-se, progressivamente, em uma utopia, o espelho de dias de esplendor e justiça.

Diversos pensadores voltaram a essa ideia durante a história. Mas, com o esfarelamento do Império Otomano, no início do século 20, o califado foi oficialmente abolido. E, apesar de Baghdadi, segue extinto para as principais lideranças islâmicas e quase totalidade dos muçulmanos.

Não, porém, para o Estado Islâmico – organização terrorista cujo obituário, diante dos fatos recentes, ainda não pode ser escrito.

FORÇAS ENVOLVIDAS

--EUA, Rússia e França têm realizado ataques aéreos em posições do Estado islâmico
--O Exército iraquiano disputa o domínio do país com o EI
--Peshmergas (forças curdas) defendem cidades curdas dos avanços do EI no Iraque
--Exército sírio envolvido na guerra civil tem no EI seu mais forte adversário

CRONOLOGIA 

1999

O jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, radical envolvido no conflito entre Afeganistão e URSS, funda o "Al-Tawhid wa al-Jihad" (Monoteísmo e Jihad, em árabe)


20.mar.2003

Coalizão liderada pelos EUA invade o Iraque "para impedir suposto programa nuclear do regime de Saddam Hussein" [desculpa fajuta]. Guerra durou até 2011, quando o [petróleo já estava sendo explorado por empresas norte-americanas e o] governo americano iniciou a retirada das tropa


2004

Zarqawi prega lealdade a Bin Laden e a organização passa a se chamar "Al Qaeda no Iraque" (AQI)


2006

Zarqawi é morto por ataques americanos e Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Baghdadi assumem a liderança do grupo, que passa a se chamar "Estado Islâmico no Iraque" (ISI)


2010

Com a morte dos dois líderes, a organização passa a ser conduzida por Abu Bakr al-Baghdadi, que havia sido mantido preso pelos EUA entre 2005 e 2009


Mar.2011

Começa a guerra civil na Síria, que opõe forças do ditador Bashar al-Assad, e grupos rebeldes, curdos e radicais islamitas [subvencionados, armados e treinados pelos EUA e aliados, inclusive ´França, Arábia Saudita, Qatar e Israel] 


Abr.2013

Baghdadi anuncia a fusão entre seus forças no Iraque e na Síria e a criação do "Estado Islâmico no Iraque e no Levante" (ISIS na sigla em inglês)


Jun.2014

Conquista a cidade de Mossul, no Iraque. No dia 29, Baghdadi declara a criação de seu califado. 


Estado Islâmico:


FONTE: escrito por DIOGO BERCITO, em Madrid. Publicado no portal UOL  (http://www.uol.com.br/). [Trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].

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