F. William Engdahl
"Gênios" e genocídio: Síria, Israel, Rússia e muito petróleo
"As apostas geopolíticas no Oriente Médio acabam de subir uma ordem de magnitude. Misture uma pouco a conhecida empresa de petróleo de Newark, no New Jersey, as disputadas colinas do Golan entre Síria e Israel, acrescente uma recém-descoberta grande reserva de petróleo bem ali, exatamente quando a campanha de bombardeio russo em território sírio entra em altíssima rotação, agite bem, e aí está um potencial detonador da 3ª Guerra Mundial.
Por F. William Engdahl, norte-americano, historiador, pesquisador econômico e jornalista
Inicialmente – se se volta mais de uma década, até quando os think-tanks conservadores em Washington e o governo Bush-Cheney estavam concebendo a sua agenda de 'mudança de regime' para o Oriente Médio Expandido – gasodutos para gás natural para concorrer com os países da região através da Síria até a Turquia, ou via Líbano até o Mediterrâneo tiveram papel coadjuvante na guerra de Washington contra Assad da Síria. Agora, petróleo, muito, muito petróleo entram em cena, e Israel anda dizendo que pertence ao "Estado judeu". O único problema é que não pertence.
O petróleo está nas colinas do Golan, que Israel tomou ilegalmente, em assalto, da Síria, na Guerra dos Seis Dias em 1967.
Gênio em garrafa putrefata
Por F. William Engdahl, norte-americano, historiador, pesquisador econômico e jornalista
Inicialmente – se se volta mais de uma década, até quando os think-tanks conservadores em Washington e o governo Bush-Cheney estavam concebendo a sua agenda de 'mudança de regime' para o Oriente Médio Expandido – gasodutos para gás natural para concorrer com os países da região através da Síria até a Turquia, ou via Líbano até o Mediterrâneo tiveram papel coadjuvante na guerra de Washington contra Assad da Síria. Agora, petróleo, muito, muito petróleo entram em cena, e Israel anda dizendo que pertence ao "Estado judeu". O único problema é que não pertence.
O petróleo está nas colinas do Golan, que Israel tomou ilegalmente, em assalto, da Síria, na Guerra dos Seis Dias em 1967.
Gênio em garrafa putrefata
O que têm em comum Dick Cheney, James Woolsey, Bill Richardson, Jacob Lord Rothschild, Rupert Murdoch, Larry Summers e Michael Steinhardt? Todos eles são membros do "Conselho de Aconselhamento Estratégico" de uma empresa de de gás e petróleo chamada "Genie Energy", com sede em Newark, New Jersey. Toda uma coleção de nomes.
Dick Cheney, antes de ser 'presidente-sombra' de George W. Bush em 2001, foi presidente executivo da maior empresa de serviços para campos de petróleo do mundo, a "Halliburton", ligada à CIA, pelo que se diz, e também conectada à gangue da família Bush.
James Woolsey, neoconservador e ex-diretor da CIA no governo de Bill Clinton, é hoje presidente da "Fundação para Defesa das Democracias" (Foundation for Defense of Democracies) think-tank neoconservador, e é membro do "Instituto Washington para a Política do Oriente Médio" (Institute for Near East Policy (WINEP)), que opera a favor do partido "Likud" de Israel. Foi membro do infame "Projeto para um Novo Século Americano" (Project for a New American Century (PNAC)), ao lado de Cheney, Don Rumsfeld e da escória dos neoconservadores que, adiante, constituíram o governo Bush-Cheney. Depois do 11/9/2001, Woolsey referia-se à "Guerra ao Terror" de Bush-Cheney como " IV Guerra Mundial " (a Guerra Fria seria a III GM).
Bill Richardson é ex-secretário de energia dos EUA.
Rupert Murdoch, proprietário de vasta rede de veículos de comunicação nos EUA e Reino Unido, dentre os quais o "Wall Street Journal", é o maior financiador do neoconservador "Weekly Standard" de Bill Kristol, que financiou o PNAC.
Larry Summers foi secretário do Tesouro dos EUA e inventor propositor das leis que desregularam os bancos nos EUA, tirando-os do alcance da Lei Glass-Steagall de 1933. De fato, com esse movimento, abriram-se completamente as comportas da inundação que ficou conhecida como crise financeira dos EUA de 2007-2015.
Michael Steinhardt, o especulador dos fundos hedge é filantropo amigo de Israel, de Marc Rich e membro também da "Fundação para a Defesa das Democracias" de Woolsey.
E Jacob Lord Rothschild é ex-parceiro comercial do oligarca (petróleo) russo Mikhail Khodorkovsky, já condenado. Antes de ser preso, Khodorkovsky transferiu secretamente suas ações na "Yukos Oil" para Rothschild. E Rothschild é dono de parte das ações da "Genie Energy" que, em 2013, recebeu direitos exclusivos para explorar o petróleo e o gás num raio de 153 milhas quadradas [quase 400 mil quilômetros quadrados] na parte sul das colinas do Golan, direitos que lhe foram outorgados pelo governo Netanyahu.
Para encurtar a conversa, a "Genie Energy" é empresa de deixar qualquer um embasbacado.
Colinas do Golan e lei internacional
O governo de Israel deu a concessão à "Genie", nas disputadas colinas do Golan em 2013, quando o processo liderado pelo EUA para desestabilizar o regime sírio do presidente Assad estava a pleno vapor. Convenientemente, no mesmo momento Israel também começou a construir fortificações que vedassem completamente o acesso da Síria às colinas do Golan ilegalmente invadidas e ocupadas, sabendo que pouco haveria que Assad ou a Síria pudessem fazer para impedir. Em 2013, com a "Genie Energy" já iniciando sua mudança para as colinas do Golan, engenheiros militares israelenses reforçaram a cerca de 45 milhas que acompanha a fronteira com a Síria, substituindo-a por uma barricada de aço que inclui arame farpado, sensores táteis, detectores de movimento, câmeras de infravermelho e radares no solo, construção que só se compara ao Muro que Israel construiu na Cisjordânia.
E agora, quando Damasco luta pela vida, parece que, de repente, a "Genie Energy" encontrou enorme campo de petróleo exatamente ali..
Mas a ocupação israelense nas colinas do Golan é absolutamente ilegal. Em 1981, Israel fez aprovar uma "Lei das Colinas do Golan", que impõe "leis, jurisdição e poder de governo" de Israel também nas colinas do Golan. Reação a essa violência, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução nº 242, que declara que Israel tem de retirar-se de todas as terras sírias ocupadas na guerra de 1967, inclusive das Colinas do Golan.
Novamente, em 2008, uma sessão da Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução nº 161-1, a favor de uma moção sobre as colinas do Golan que reafirmou a Resolução nº 497 do Conselho de Segurança, aprovada em 1981, depois de Israel ter feito o que se define por "anexação de facto"; a Resolução nº 161-1 declarou a Lei das Colinas do Golan "nula, vácua e sem efeito legal internacional"; e convocou Israel a desistir de "modificar o caráter físico, a composição demográfica, a estrutura institucional e o status legal do Golan sírio ocupado, e, especialmente, a desistir de estabelecer colônias (...) e de impor a cidadania israelense e documentos de identidade israelenses aos cidadãos sírios no Golan sírio ocupado, e a cancelar todas as medidas repressivas contra a população do Golan sírio ocupado."
Israel foi a única nação a votar contra a resolução.
Em junho de 2007, o primeiro-ministro de Israel Ehud Olmert enviou comunicado secreto ao presidente Bashar al-Assad, dizendo que Israel daria as colinas de Golan, em troca de um amplo acordo de paz e do rompimentos de quaisquer laços entre a Síria e o Irã, e entre a Síria e grupos militantes na região.
Genie 'comunica' grande descoberta
E agora, quando Damasco luta pela vida, parece que, de repente, a "Genie Energy" encontrou enorme campo de petróleo exatamente ali..
Mas a ocupação israelense nas colinas do Golan é absolutamente ilegal. Em 1981, Israel fez aprovar uma "Lei das Colinas do Golan", que impõe "leis, jurisdição e poder de governo" de Israel também nas colinas do Golan. Reação a essa violência, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução nº 242, que declara que Israel tem de retirar-se de todas as terras sírias ocupadas na guerra de 1967, inclusive das Colinas do Golan.
Novamente, em 2008, uma sessão da Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução nº 161-1, a favor de uma moção sobre as colinas do Golan que reafirmou a Resolução nº 497 do Conselho de Segurança, aprovada em 1981, depois de Israel ter feito o que se define por "anexação de facto"; a Resolução nº 161-1 declarou a Lei das Colinas do Golan "nula, vácua e sem efeito legal internacional"; e convocou Israel a desistir de "modificar o caráter físico, a composição demográfica, a estrutura institucional e o status legal do Golan sírio ocupado, e, especialmente, a desistir de estabelecer colônias (...) e de impor a cidadania israelense e documentos de identidade israelenses aos cidadãos sírios no Golan sírio ocupado, e a cancelar todas as medidas repressivas contra a população do Golan sírio ocupado."
Israel foi a única nação a votar contra a resolução.
Em junho de 2007, o primeiro-ministro de Israel Ehud Olmert enviou comunicado secreto ao presidente Bashar al-Assad, dizendo que Israel daria as colinas de Golan, em troca de um amplo acordo de paz e do rompimentos de quaisquer laços entre a Síria e o Irã, e entre a Síria e grupos militantes na região.
Genie 'comunica' grande descoberta
Dia 8 de outubro, na segunda semana dos ataques russos, a pedido do governo Assad, contra o ISIS e outros terroristas ditos "moderados", Yuval Bartov, geólogo chefe da subsidiária israelense da "Genie Energy, Afek Oil & Gas", disse à "Channel 2 TV" que sua empresa havia descoberto enorme reserva de petróleo nas colinas do Golan: “Encontramos estrato de 350 metros de altura no sul das colinas do Golan. A média mundial da altura dos estratos é de 20-30 metros; e essa é dez vezes maior; por isso estamos falando de quantidades significativas.”
Esse petróleo agora encontrado nas colinas do Golan é um "prêmio" estratégico que claramente está pondo o governo Netanyahu ainda mais determinado a semear o caos e a desordem em Damasco, e usá-los para criar uma ocupação israelense de fato irreversível do Golan e daquele petróleo todo. Um ministro do governo de coalizão de Netanyahu, Naftali Bennett, da Educação, ministro para as questões da diáspora, e líder do partido religioso de extrema direita "O Lar Judeu", propôs que Israel, em cinco anos, implante 100 mil colonos israelenses nas colinas do Golan. Diz que com a Síria "em desintegração" depois de anos de guerra civil, é difícil imaginar algum estado estável ao qual as colinas do Golan possam ser devolvidas. Como se não bastasse, cresce em Telavive o coro dos que querem que Netanyahu exija dos EUA que reconheçam a anexação do Golan, em 1981, por Israel, como “salvaguarda adequada com vistas à segurança israelense, depois de assinado o acordo nuclear com o Irã”.
Guerras de energia sempre foram componentes significativos da estratégia de EUA, Israel, Qatar, Turquia e, até recentemente, também da Arábia Saudita, contra o regime de Assad na Síria. Antes da recente descoberta de petróleo nas colinas do Golan, o foco contra Assad tinha a ver com grandes reservas de gás natural do Qatar e do Irã, como opostos e concorrentes do Golfo Persa, que incluem as maiores reservas de gás confirmadas, em todo o mundo, até hoje.
Em 2009, o governo do Qatar, hoje lar da "Fraternidade Muçulmana" e grande financiador do ISIS na Síria e Iraque, reuniu-se com Bashar al-Assad em Damasco.
O Qatar propôs a Bashar que a Síria assinasse acordo que permitisse a passagem por seu território de um gasoduto que sairia do enorme Campo Norte do Qatar, no Golfo Persa, adjacente à também enorme reserva Pars Sul, de gás iraniano. O gasoduto do Qatar passaria por Arábia Saudita, Jordânia, Síria até a Turquia, para abastecer mercados europeus. Mais crucialmente importante: deixava a Rússia de fora.
Matéria da "Agência France-Presse" noticiava que Assad só se interessara por "proteger os interesses de seu aliado russo, principal fornecedor de gás natural para a Europa”.
Em 2010, Assad integrou-se às conversações com Irã e Iraque, para construir gasoduto alternativa, de US$ 10 bilhões, que potencialmente permitiria ao Irã abastecer a Europa com o gás de seu campo Pars Sul nas águas iranianas do Golfo Persa. Os três países assinaram um Memorando de Entendimento em julho de 2012 – exatamente quando a guerra na Síria alastrava-se para Damasco e Aleppo.
Agora, uma aparente descoberta de grandes volumes de petróleo, por empresa de New Jersey de cujo board participam o arquiteto da guerra do Iraque, Dick Cheney; o neoconservador e ex-CIA James Woolsey e Jacob Lord Rothschild, parceiro de negócios de um dos mais furiosos críticos de Vladimir Putin, Mikhail Khodorkovsky, eleva muito as apostas em torno da intervenção russa a pedido da Síria de Assad, contra os terroristas do ISIS, Al-Qaeda e outros "terroristas moderados" apoiados pela CIA – e dá-lhes nova dimensão geopolítica.
O golpe dos EUA na Ucrânia em 2014, o treinamento e o financiamento para o ISIS e outras gangues de terroristas "moderados" na Síria, todos têm um alvo primário – a Rússia e sua rede de aliados, rede a qual, ironicamente, as políticas de Washington e Israel só fazem ajudar a expandir quase de hora em hora."
FONTE: escrito por Frederick William Engdahl, norte-americano, historiador, pesquisador econômico e jornalista 'freelance'. Autor de "Seeds of Destruction"; "Gods of Money: Wall Street and the Death of the American Century"; "A Century of War: Anglo-American Oil Politics e the New World Order" e "Full Spectrum Dominance: Totalitarian Democracy in the New World Order". Artigo traduzido por "Coletivo de tradutores Vila Vudu" e publicado no portal "Vermelho" (http://www.vermelho.org.br/noticia/272254-9). [Título acrescentado por este blog 'democracia&política'].
Esse petróleo agora encontrado nas colinas do Golan é um "prêmio" estratégico que claramente está pondo o governo Netanyahu ainda mais determinado a semear o caos e a desordem em Damasco, e usá-los para criar uma ocupação israelense de fato irreversível do Golan e daquele petróleo todo. Um ministro do governo de coalizão de Netanyahu, Naftali Bennett, da Educação, ministro para as questões da diáspora, e líder do partido religioso de extrema direita "O Lar Judeu", propôs que Israel, em cinco anos, implante 100 mil colonos israelenses nas colinas do Golan. Diz que com a Síria "em desintegração" depois de anos de guerra civil, é difícil imaginar algum estado estável ao qual as colinas do Golan possam ser devolvidas. Como se não bastasse, cresce em Telavive o coro dos que querem que Netanyahu exija dos EUA que reconheçam a anexação do Golan, em 1981, por Israel, como “salvaguarda adequada com vistas à segurança israelense, depois de assinado o acordo nuclear com o Irã”.
Guerras de energia sempre foram componentes significativos da estratégia de EUA, Israel, Qatar, Turquia e, até recentemente, também da Arábia Saudita, contra o regime de Assad na Síria. Antes da recente descoberta de petróleo nas colinas do Golan, o foco contra Assad tinha a ver com grandes reservas de gás natural do Qatar e do Irã, como opostos e concorrentes do Golfo Persa, que incluem as maiores reservas de gás confirmadas, em todo o mundo, até hoje.
Em 2009, o governo do Qatar, hoje lar da "Fraternidade Muçulmana" e grande financiador do ISIS na Síria e Iraque, reuniu-se com Bashar al-Assad em Damasco.
O Qatar propôs a Bashar que a Síria assinasse acordo que permitisse a passagem por seu território de um gasoduto que sairia do enorme Campo Norte do Qatar, no Golfo Persa, adjacente à também enorme reserva Pars Sul, de gás iraniano. O gasoduto do Qatar passaria por Arábia Saudita, Jordânia, Síria até a Turquia, para abastecer mercados europeus. Mais crucialmente importante: deixava a Rússia de fora.
Matéria da "Agência France-Presse" noticiava que Assad só se interessara por "proteger os interesses de seu aliado russo, principal fornecedor de gás natural para a Europa”.
Em 2010, Assad integrou-se às conversações com Irã e Iraque, para construir gasoduto alternativa, de US$ 10 bilhões, que potencialmente permitiria ao Irã abastecer a Europa com o gás de seu campo Pars Sul nas águas iranianas do Golfo Persa. Os três países assinaram um Memorando de Entendimento em julho de 2012 – exatamente quando a guerra na Síria alastrava-se para Damasco e Aleppo.
Agora, uma aparente descoberta de grandes volumes de petróleo, por empresa de New Jersey de cujo board participam o arquiteto da guerra do Iraque, Dick Cheney; o neoconservador e ex-CIA James Woolsey e Jacob Lord Rothschild, parceiro de negócios de um dos mais furiosos críticos de Vladimir Putin, Mikhail Khodorkovsky, eleva muito as apostas em torno da intervenção russa a pedido da Síria de Assad, contra os terroristas do ISIS, Al-Qaeda e outros "terroristas moderados" apoiados pela CIA – e dá-lhes nova dimensão geopolítica.
O golpe dos EUA na Ucrânia em 2014, o treinamento e o financiamento para o ISIS e outras gangues de terroristas "moderados" na Síria, todos têm um alvo primário – a Rússia e sua rede de aliados, rede a qual, ironicamente, as políticas de Washington e Israel só fazem ajudar a expandir quase de hora em hora."
FONTE: escrito por Frederick William Engdahl, norte-americano, historiador, pesquisador econômico e jornalista 'freelance'. Autor de "Seeds of Destruction"; "Gods of Money: Wall Street and the Death of the American Century"; "A Century of War: Anglo-American Oil Politics e the New World Order" e "Full Spectrum Dominance: Totalitarian Democracy in the New World Order". Artigo traduzido por "Coletivo de tradutores Vila Vudu" e publicado no portal "Vermelho" (http://www.vermelho.org.br/noticia/272254-9). [Título acrescentado por este blog 'democracia&política'].
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