Cunha e Temer: o retrato do Brasil sem dignidade moral
Por FERNANDO BRITO
"Noticia-se que Eduardo Cunha, com o poder discricionário que lhe dá a condição de Presidente da Câmara, arquivou um novo pedido de abertura de impeachment contra o vice-presidente Michel Temer.
Não seria nada de mais, se o pedido não fosse pelos mesmos motivos que ele achou suficientes para aceitar quando se tratava de Dilma Roussef: a abertura, por decreto, de dotações orçamentárias sem o devido lastro no Tesouro Nacional.
O motivo é pífio, porque decretos assim têm mera natureza autorizativa e só se realizam com o empenhamento da despesa, que exige a reserva de recursos para realizá-las.
Mas, se é motivo para processar Dilma no Congresso por ter assinado decretos assim, porque não o seria quando quem assina é Temer?
Mais ainda, a serem corretos os números divulgados pelo "G1", Dilma estaria sendo processada por créditos de R$ 2,5 bilhões de créditos suplementares. Temer teria, segundo do site, assinado R$ 10,8 bilhões.
E por que ela é processada e ele não é? Ora, até o tapete da Câmara sabe a razão: é que a ela Cunha quer e a ele Cunha não quer, e pronto.
E não quer porque Temer tornou-se seu parceiro no golpe de Estado e sabe-se lá que paga espera ou tratou por essa “mão amiga”.
Não é possível que a elite pensante deste país, mesmo a conservadora, admita ouvir do vice-presidente que, sim, assinou, mas que a sua assinatura é mero protocolo, que “não entra no mérito das matérias objeto de decretos ou leis, cujas justificativas são feitas pelo Ministério da Fazenda e pela Casa Civil da Presidência, em consonância com as diretrizes definidas pela chefe de governo.”
Ora, para isso bastaria um carimbo, senhor vice-presidente, não alguém com responsabilidades públicas.
O seu argumento não precisa de mais do que uma gargalhada para ruir por terra.
Michel Temer, no exercício da Presidência tem o poder e o dever de pedir esclarecimentos sobre aquilo que porventura lhe pareça equivocado ou irregular. Tem todo o poder de chamar o Ministro da Fazenda e indagar sobre a cobertura orçamentária ou financeira daquelas despesas e, não havendo, não assiná-las ou, no mínimo, mandando-as dividir e assinar apenas o indispensável para aqueles dias de interinidade, até que a titular voltasse e, querendo, assumisse os atos.
Temer não defende a legalidade e a correção daquilo que assinou. Apenas se exime de responsabilidade, alegando que “não tem nada com isso”.
A ambição de poder levou Michel Temer, com toda a pompa de sua postura empertigada e pernóstica, para o monturo moral.
Vai fazer companhia a Eduardo Cunha, tão desmoralizado que até mesmo o PSDB quer usá-lo a uma distância conveniente para não aparecer.
A história e, antes dela, o povo, despreza os covardes e os ambiciosos, que se prestam a qualquer papel por seu desejo ilegítimo de poder.
Michel Temer, antes do que imagina, será desprezado por uma única razão: fez-se desprezível."
FONTE: escrito por FERNANDO BRITO em seu blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/blog/cunha-e-temer-o-retrato-do-brasil-sem-dignidade-moral/).
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