quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

SALDO COMERCIAL É BOM "APESAR DO MUNDO", E NÃO CONTAM A VOCÊ




Saldo comercial é “apesar do mundo” e não contam a você

Por FERNANDO BRITO

"Os jornais terça-feira (05) dizem que é a crise brasileira a responsável pela formação de um sensacional saldo comercial de US$ 19,681 bilhões e usam como argumento o fato de terem caído os valores de exportações e das importações.

Verdade.

Meia verdade.

Primeiro, porque uma coisa é o comércio das mercadorias. Outra, bem diferente, é o valor dessas mercadorias.

Roger Amarante, no site Crítica da Economia, descreve cruamente o que está acontecendo: “O volume das mercadorias comercializadas no mundo não para de crescer. Os portos de todo o mundo estão congestionados. Mas o valor das mercadorias cai ininterruptamente. O volume sobe pelo elevador, o valor desce pela escada.

O FMI prevê uma redução em torno de 10% no valor do comércio mundial, comparável ao de 2009. As exportações dos EUA, por exemplo, em plena recuperação econômica, caíram 8% no acumulado no terceiro trimestre de 2015, frente a 2014.

Vejamos o que aconteceu com as principais mercadorias de exportação brasileiras, com os dados detalhados:

O volume das exportações mais importantes subiu na soja (20% a mais, frente a 2014), no minério de ferro (+ 8%). Mas seu preço, ao contrário, despencou: foi 50% menor no caso do ferro em quanto o valor médio da tonelada de soja caiu 24%.

Se considerarmos um intervalo um pouco maior, desde 2012, a soja vale um quarto do que valia e o ferro, um terço.

Se os preços desses produtos fossem os mesmo de 2014, teríamos um superávit de mais de 40 bilhões de dólares, um dos maiores da história.

A [tucana] "Folha", que se esmera em dizer o quanto deixamos de importar na manchete de economia, só na coluna de Mauro Zaffalon registra essa dramática perda de receitas do pais, assim mesmo em valor menor do que as estimativas de outros especialistas.

Isso, portanto, nada tem a ver com a crise na economia brasileira, mas sim com a recessão mundial. E, a menos que elevemos Michel Temer ou Aécio Neves ao nível de "líderes mundiais", não parece que possa ser resolvível pelo oportunismo político tupiniquim.

O segundo fator do resultado comercial brasileiro foi o realismo cambial, que o Banco Central teimou em não permitir que voltasse gradualmente.

Isso permitiu que a participação dos produtos manufaturados nas exportações, que vinha em declínio há muitos anos, voltasse a crescer, mesmo com uma redução no valor total – alinhada com a queda mundial – passando de 35% para 38% do total, na média anual, mas já passando de 40% nos meses finais do ano, quando já se havia consolidado o valor do câmbio, que se reflete mais lentamente nesse setor, que não tem um mercado spot como as commodities.

É claro que há efeitos da recessão aprofundada por Joaquim Levy nas contas externas do país, o mais negativo deles a queda na importação de maquinária industrial, que teve incrível tombo de 46% no ano. É um item na pauta de importações que responde diretamente à decisão de investir em aumento de produção industrial e, convenhamos, não era de se esperar que, com o ministro da Fazenda sinalizando todo tempo cortes e arrochos, não é esperável que se comprem máquinas para produzir mais.

É, afinal, o primeiro fator positivo depois de um longo ano de desastre após desastre e que, claro, a nossa imprensa precisa transformar também em desastre.

Aliás, quem via a cara de velório do William Waack segunda-feira falando da crise da bolsa chinesa ontem ficava com a impressão de que o mundo tinha acabado e, com ele, nós aqui. Até que chamou o correspondente e ele teve de ouvir que a situação, ao menos naquele momento, havia se estabilizado.

Há uma mudança em curso na economia mundial e as forças dominantes usam e usarão sua principal arma – o controle da formação de preços – para sufocar as forças emergentes. A história é um rio, dá voltas, anda mais rápido e turbulentamente, como segue por períodos calmos. Mas anda, inexoravelmente."

FONTE: escrito por FERNANDO BRITO em seu blog "Tijolaço"  (http://tijolaco.com.br/blog/saldo-comercial-e-apesar-do-mundo-e-nao-contam-a-voce/).

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