Por MAURO SANTAYANNA, jornalista, tendo ocupado cargos de destaque nos principais órgãos de imprensa brasileiros
"Ao meter-se desembaraçadamente na seara política, parte da burocracia nacional parece pretender estabelecer uma espécie de República invisível, paralela às instituições formais existentes, que tenta, na prática, tomar, de fato, as rédeas do Estado, pela pressão exercida - com o apoio inequívoco da parte mais conservadora, parcial e comprometida da mídia - sobre os poderes formais e os setores mais organizados da sociedade civil, quando – não nos esqueçamos – em uma República, o poder mais alto é o do Parlamento.
O pior é que esse crescente ativismo de certa parcela do Ministério Público não é mais do que a ponta do iceberg da atuação, também política, de segmentos mais conservadores de outras áreas do Estado, ligadas, principalmente, ao Judiciário e à segurança, cujo comportamento, no frigir dos ovos, tem sido igualmente deletério para a sociedade brasileira.
Nas investigações contra a corrupção em curso, começa-se atingindo "preventivamente", na base da pressão, a cúpula das grandes empresas.
Com isso, grupos empresariais – principalmente os nacionais – perdem bilhões, quando não dezenas de bilhões de reais em valor de um dia para o outro, derrubando o preço de suas ações e destruindo a riqueza e o patrimônio de milhares de acionistas que não têm nada a ver com isso.
Só o BTG, por exemplo, desvalorizou-se, logo após a prisão de André Esteves, em 10 bilhões de reais e, na Petrobras, sejamos francos, o prejuízo institucional das acusações que envolvem a empresa – "corroboradas" por "isentas" "consultorias" estrangeiras – será dezenas de vezes maior do que o dinheiro efetivamente, comprovadamente, desviado, ou eventualmente recuperado no futuro.
A segunda consequência da onda de punibilidade a qualquer preço, definida, muitas vezes, por funcionários que gozam de estabilidade, quando não de vitaliciedade no cargo, e de altos salários que os colocam a salvo dos problemas que costumam assolar os comuns mortais, é a deterioração imediata das condições de crédito dos grupos empresariais atingidos pelas investigações, com o súbito encarecimento de suas operações e do capital de giro, e a necessidade de demitir centenas, milhares de funcionários para cortar custos.
A terceira consequência é a entrega a preço vil de seus ativos, com a venda de operações e de parte de seus negócios, muitas vezes a estrangeiros, a preço de banana, com o aprofundamento da desnacionalização de parcela significativa da economia brasileira, e o repasse, principalmente na engenharia, de know-how tecnológico desenvolvido ao longo de décadas, ou a simples destruição - pelo desemprego - de mão de obra altamente qualificada, que deixa de trabalhar de repente e é obrigada a mudar de atividade, ou incentivada a se transferir para o exterior.
A quarta onda da destruição de riqueza provocada pela tomada de decisões que buscam punir imediatamente empresas e eventuais envolvidos, sem obedecer aos princípios de presunção de inocência e de ampla defesa, e sem medir, com um mínimo de bom senso, o alcance das consequências das decisões tomadas no âmbito do MP e do Judiciário é, finalmente, a paralisia, ou definitiva interrupção, de dezenas de projetos estratégicos em que a Nação já investiu centenas de vezes o que se investiga em corrupção, ou os valores efetivamente localizados até agora, projetos esses que, nas áreas de energia, infraestrutura e defesa, vão do submarino nuclear brasileiro ou de nossa base e estaleiro de submersíveis, ao domínio pelo país do ciclo do enriquecimento de urânio; passando pelo desenvolvimento conjunto com a Suécia de aviões de caça de última geração, que a Força Aérea Brasileira espera há décadas; para não falar em portos como de Açu; obras como a Transposição do São Francisco; refinarias como a Abreu e Lima; complexos petroquímicos como o Comperj, plataformas e sondas petrolíferas como as da Sete Brasil, numa fúria investigativa que lembra a sanha do Lobo contra o Cordeiro - embora nessa história não haja lobos nem cordeiros - se não foi o triplex, foi a consultoria, se não foi a consultoria, foi o sítio, se não foi o sítio, foi a medida provisória, se não foram os aviões Gripen, foi o BNDES, se não foi o BNDES, foi a Petrobras, se não foi a Petrobras, foram as reformas de Dona Marisa - que até mesmo os cegos veem que têm parcial e seletiva conotação, e dirigidas intenções e consequências, não apenas do ponto de vista econômico, mas, principalmente, no âmbito político, destruindo riqueza, conhecimento e valor, e desestabilizando a República, a Nação e a governabilidade.
Enquanto se investiga o "triplex" de 300.000, 350.000 reais [que acharam que poderia ser] do ex-presidente Lula, que, em última instância pode, desde que não infrinja a lei, fazer o que quiser depois que saiu, há mais de 5 anos, da Presidência da República - há coisas que seus inimigos podem considerar imorais mas que não são ilegais - deixa-se de investigar o "quadriblex" - os quatro bilhões de reais - em impostos que deixaram de entrar nos cofres públicos, porque foram "perdoados" pelos conselheiros do CARF, para o Santander - um banco várias vezes investigado em seu país por problemas e falcatruas e que passou a perna em milhares de aposentados do Banespa – no âmbito da mesma operação Zelotes.
Tenho o maior respeito pelo Ministério Público, onde conto com vários amigos.
Mas, proibidos de exercer atividades político-partidárias pela Constituição Federal, membros do MP não podem - aproveitando-se justamente dessa circunstância que serviria para mascarar suas intenções - seguir tomando atitudes decisivamente políticas, com profundas consequências para o país, a Nação e a população brasileira.
Desqualificando, premeditada e intencionalmente, nesse processo, a atividade política e a partidária e aqueles que foram eleitos pela população para exercê-las no âmbito do Legislativo e do Executivo da União, estados e municípios.
Até porque a decisão de criar o MP foi - não nos esqueçamos - uma decisão política.
E o Congresso tem poder para corrigir os eventuais excessos dessa instituição, ou até mesmo - em última instância - para extingui-la em uma eventual Assembleia Nacional Constituinte, substituindo-a por outro instrumento que funcione com maior entendimento e respeito às atribuições e prerrogativas dos diferentes elementos que compõem a estrutura do poder público em nossa sociedade.
Mais uma vez, nunca é demais lembrar, todo o poder emana do Povo e em seu nome deve ser exercido.
Mais equilíbrio e bom senso, caros senhores. Cada um em seu quadrado, ou o país vai para a cucuia, ou melhor dizendo, pras cucuias. Cada um no seu quadrado."
"Ao meter-se desembaraçadamente na seara política, parte da burocracia nacional parece pretender estabelecer uma espécie de República invisível, paralela às instituições formais existentes, que tenta, na prática, tomar, de fato, as rédeas do Estado, pela pressão exercida - com o apoio inequívoco da parte mais conservadora, parcial e comprometida da mídia - sobre os poderes formais e os setores mais organizados da sociedade civil, quando – não nos esqueçamos – em uma República, o poder mais alto é o do Parlamento.
O pior é que esse crescente ativismo de certa parcela do Ministério Público não é mais do que a ponta do iceberg da atuação, também política, de segmentos mais conservadores de outras áreas do Estado, ligadas, principalmente, ao Judiciário e à segurança, cujo comportamento, no frigir dos ovos, tem sido igualmente deletério para a sociedade brasileira.
Nas investigações contra a corrupção em curso, começa-se atingindo "preventivamente", na base da pressão, a cúpula das grandes empresas.
Com isso, grupos empresariais – principalmente os nacionais – perdem bilhões, quando não dezenas de bilhões de reais em valor de um dia para o outro, derrubando o preço de suas ações e destruindo a riqueza e o patrimônio de milhares de acionistas que não têm nada a ver com isso.
Só o BTG, por exemplo, desvalorizou-se, logo após a prisão de André Esteves, em 10 bilhões de reais e, na Petrobras, sejamos francos, o prejuízo institucional das acusações que envolvem a empresa – "corroboradas" por "isentas" "consultorias" estrangeiras – será dezenas de vezes maior do que o dinheiro efetivamente, comprovadamente, desviado, ou eventualmente recuperado no futuro.
A segunda consequência da onda de punibilidade a qualquer preço, definida, muitas vezes, por funcionários que gozam de estabilidade, quando não de vitaliciedade no cargo, e de altos salários que os colocam a salvo dos problemas que costumam assolar os comuns mortais, é a deterioração imediata das condições de crédito dos grupos empresariais atingidos pelas investigações, com o súbito encarecimento de suas operações e do capital de giro, e a necessidade de demitir centenas, milhares de funcionários para cortar custos.
A terceira consequência é a entrega a preço vil de seus ativos, com a venda de operações e de parte de seus negócios, muitas vezes a estrangeiros, a preço de banana, com o aprofundamento da desnacionalização de parcela significativa da economia brasileira, e o repasse, principalmente na engenharia, de know-how tecnológico desenvolvido ao longo de décadas, ou a simples destruição - pelo desemprego - de mão de obra altamente qualificada, que deixa de trabalhar de repente e é obrigada a mudar de atividade, ou incentivada a se transferir para o exterior.
A quarta onda da destruição de riqueza provocada pela tomada de decisões que buscam punir imediatamente empresas e eventuais envolvidos, sem obedecer aos princípios de presunção de inocência e de ampla defesa, e sem medir, com um mínimo de bom senso, o alcance das consequências das decisões tomadas no âmbito do MP e do Judiciário é, finalmente, a paralisia, ou definitiva interrupção, de dezenas de projetos estratégicos em que a Nação já investiu centenas de vezes o que se investiga em corrupção, ou os valores efetivamente localizados até agora, projetos esses que, nas áreas de energia, infraestrutura e defesa, vão do submarino nuclear brasileiro ou de nossa base e estaleiro de submersíveis, ao domínio pelo país do ciclo do enriquecimento de urânio; passando pelo desenvolvimento conjunto com a Suécia de aviões de caça de última geração, que a Força Aérea Brasileira espera há décadas; para não falar em portos como de Açu; obras como a Transposição do São Francisco; refinarias como a Abreu e Lima; complexos petroquímicos como o Comperj, plataformas e sondas petrolíferas como as da Sete Brasil, numa fúria investigativa que lembra a sanha do Lobo contra o Cordeiro - embora nessa história não haja lobos nem cordeiros - se não foi o triplex, foi a consultoria, se não foi a consultoria, foi o sítio, se não foi o sítio, foi a medida provisória, se não foram os aviões Gripen, foi o BNDES, se não foi o BNDES, foi a Petrobras, se não foi a Petrobras, foram as reformas de Dona Marisa - que até mesmo os cegos veem que têm parcial e seletiva conotação, e dirigidas intenções e consequências, não apenas do ponto de vista econômico, mas, principalmente, no âmbito político, destruindo riqueza, conhecimento e valor, e desestabilizando a República, a Nação e a governabilidade.
Enquanto se investiga o "triplex" de 300.000, 350.000 reais [que acharam que poderia ser] do ex-presidente Lula, que, em última instância pode, desde que não infrinja a lei, fazer o que quiser depois que saiu, há mais de 5 anos, da Presidência da República - há coisas que seus inimigos podem considerar imorais mas que não são ilegais - deixa-se de investigar o "quadriblex" - os quatro bilhões de reais - em impostos que deixaram de entrar nos cofres públicos, porque foram "perdoados" pelos conselheiros do CARF, para o Santander - um banco várias vezes investigado em seu país por problemas e falcatruas e que passou a perna em milhares de aposentados do Banespa – no âmbito da mesma operação Zelotes.
Tenho o maior respeito pelo Ministério Público, onde conto com vários amigos.
Mas, proibidos de exercer atividades político-partidárias pela Constituição Federal, membros do MP não podem - aproveitando-se justamente dessa circunstância que serviria para mascarar suas intenções - seguir tomando atitudes decisivamente políticas, com profundas consequências para o país, a Nação e a população brasileira.
Desqualificando, premeditada e intencionalmente, nesse processo, a atividade política e a partidária e aqueles que foram eleitos pela população para exercê-las no âmbito do Legislativo e do Executivo da União, estados e municípios.
Até porque a decisão de criar o MP foi - não nos esqueçamos - uma decisão política.
E o Congresso tem poder para corrigir os eventuais excessos dessa instituição, ou até mesmo - em última instância - para extingui-la em uma eventual Assembleia Nacional Constituinte, substituindo-a por outro instrumento que funcione com maior entendimento e respeito às atribuições e prerrogativas dos diferentes elementos que compõem a estrutura do poder público em nossa sociedade.
Mais uma vez, nunca é demais lembrar, todo o poder emana do Povo e em seu nome deve ser exercido.
Mais equilíbrio e bom senso, caros senhores. Cada um em seu quadrado, ou o país vai para a cucuia, ou melhor dizendo, pras cucuias. Cada um no seu quadrado."
[OBS deste blog 'democracia&política':
Ao finalizar a leitura do artigo acima, e depois de assistir nos últimos tempos o trágico efeito colateral destruidor do Brasil decorrente, dolosamente ou não, da "neojustiça" do Juiz Moro e dos integrantes da sua equipe, autodeclarados Aecistas, que recebem integral apoio do PSDB e da mídia, ambos historicamente antinacionais e entreguistas, me vieram à cabeça imagens e reflexões.
A Lava-Jato ja causou recessão na economia, perda de alguns pontos do PIB e e destruiu empresas e projetos estratégicos para o Brasil, tudo sob o estranho pretexto de punir uma dúzia de corruptos. Será que algo mais forte está causando isso?
Assim, me vieram à mente as imagens seguintes que havia visto no google]:
Ao finalizar a leitura do artigo acima, e depois de assistir nos últimos tempos o trágico efeito colateral destruidor do Brasil decorrente, dolosamente ou não, da "neojustiça" do Juiz Moro e dos integrantes da sua equipe, autodeclarados Aecistas, que recebem integral apoio do PSDB e da mídia, ambos historicamente antinacionais e entreguistas, me vieram à cabeça imagens e reflexões.
A Lava-Jato ja causou recessão na economia, perda de alguns pontos do PIB e e destruiu empresas e projetos estratégicos para o Brasil, tudo sob o estranho pretexto de punir uma dúzia de corruptos. Será que algo mais forte está causando isso?
Assim, me vieram à mente as imagens seguintes que havia visto no google]:
Moro e seus auxiliares aecistas já foram realçados como heróis guerreiros nos EUA, em capa de revista, como o são os soldados norte-americanos que morrem nas guerras por controle do negócio do petróleo mundo afora, sempre "em prol da democracia e dos direitos humanos".
Essa destruição do Brasil com a "Operação Lava-Jato" para prender uma dúzia de corruptos também me faz lembrar uma postagem deste blog, sobre outra operação, a "Justa Causa", executada pelos EUA em 1989 para prender meia dúzia de supostos narcotraficantes.
Os EUA atacaram o Panamá à noite, repentinamente, em 20 de dezembro de 1989, um mês após a queda do muro de Berlim e cinco dias antes do Natal.
O pretexto oficial norte-americano para aquela violação de todos os princípios de convivência entre as nações foi, surpreendente e simplesmente, "prender o Presidente Noriega", então por eles acusado de ser corrupto e de ter ligações com narcotraficantes (foi levado para os EUA e lá “julgado” e condenado a quarenta anos de prisão; para muitos, foi "queima de arquivo", pois Noriega fora estreito colaborador da CIA).
Para aquele fim, bastaria meia dúzia de agentes da CIA. Porém, numa noite de terror, os EUA empregaram de surpresa, sem declarar guerra, no bombardeio da capital panamenha enfeitada para o Natal, contra um país indefeso e praticamente sem Forças Armadas, 26.000 soldados superequipados e centenas de aviões de combate ultramodernos, inclusive os estreantes caríssimos F-117 “stealth” invisíveis aos radares (nem existiam radares antiaéreos no Panamá). Aquele ataque ao Panamá custou na época mais de um bilhão de dólares.
Morreram no ato de terror norte-americano, segundo a ONU, mais de quinhentos civis panamenhos (algumas fontes internacionais informaram 4.000, equivalente em mortos a mais de 30 vezes o ataque também de surpresa à casa de shows Bataclan, em Paris, em 13 de novembro último).
Um novo presidente panamenho, Guilhermo Endara (não se chamava Aécio Neves, nem Serra, nem Alckmin etc), foi logo posto no poder pelos EUA em solenidade dentro de uma barraca militar dos invasores, no dia seguinte à invasão. Desde então, lá impuseram "políticas neoliberais" de interesse dos EUA e, principalmente, de interesse dos que realmente mandam no mundo, uma dúzia de megabanqueiros e rentistas internacionais
Será que a "Lava-Jato" é uma evolução não-armada da Justa Causa"].
FONTE: escrito por MAURO SANTAYANNA, jornalista, tendo ocupado cargos de destaque nos principais órgãos de imprensa brasileiros. Artigo publicado no portal 'Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/colunistas/maurosantayanna/217048/A-Rep%C3%BAblica-dos-burocratas-e-o-poder-pol%C3%ADtico.htm).[Título, imagens e trechos em azul entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].
2 comentários:
De parabéns Mauro Santayanna e o Blog pelo sempre brilhantes e oportuníssimos artigos e comentários Os prejuízos causados ao Brasil por esta desvairada operação lava-jato são incalculáveis.Os propalados milhões recuperados não se compensam com os bilhões de prejuízos provocados.O MPF extrapola as suas funções, extravasa a sua competência circunscricional, comete abusos e ilegalidades e não respeita direitos legais e humanos, tudo com o beneplácito de um ministro da Justiça fraco e pusilânime; de um chefe da PGR igualmente fraco, de um CNJ omisso e inoperante; de um STJ e um STF, que a pretexto de só agirem mediante provocação (embora vários HCs. ja foram impetrados) não têm coragem de colocar Moro no seu devido lugar.
Os nosso poderes constituídos estão todos doentes e omissos. Nao estou defendendo corruptos e ladroes, mas o seu direito de serem julgados de acordo com as leis processuais vigentes.Estou defendendo o legitimo Estado de Direito.
À Patrícia,
Obrigada pelos parabéns,na parte que me toca (comentários e observações).
Concordo totalmente com a sua avaliação sobre a Lava-Jato, MPF, PGR, CNJ,STJ, STF MJ. Creio que a inação ou a parcialidade deles decorre em grande parte do terror de contrariarem a mídia do mercado e serem massacrados.
Maria Tereza
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