Na última terça-feira, 10 de junho, postamos sobre o assunto um muito bom artigo de Rui Falcão, entitulado “DE VOLTA, ENFIM, A POLÍTICA INDUSTRIAL”.
Hoje, li no portal “Terra Magazine” outro interessante texto de Antonio Corrêa de Lacerda, professor-doutor do departamento de economia da PUC-SP e autor, entre outros livros, de "Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil" (Ed. Saraiva). Foi presidente do Conselho Federal de Economia - Cofecon e da SOBEET – Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica.
Transcrevo, acrescentando pequenos adendos e subtítulos entre colchetes:
“AINDA SOBRE A POLÍTICA INDUSTRIAL”
“Foi interessante observar as críticas imediatas à iniciativa, que tiveram duas principais matizes:
[CRÍTICAS DOS “LIBERAIS” E DOS “GLOBALIZANTES”]
A primeira, dos liberais "à moda da casa", que sempre vêem defeitos em iniciativas do Estado, sejam elas quais forem. Esses são contra, por princípio, a toda política industrial, em nome do “laissez faire”.
A segunda classe de críticas vem dos que acham que, com a globalização, não faz mais sentido política industrial, que virou coisa do passado. Essa crítica então é reveladora do grau de desinformação que páira em alguns.
Como se os hoje países desenvolvidos não tivessem utilizado [de políticas industriais] para chegarem onde estão. Ou mesmo, a experiência dos países em desenvolvimento bem sucedidos que não sucumbiram ao "canto da sereia" do neoliberalismo e mantiveram a pro atividade do Estado em benefício do desenvolvimento. Quem tiver qualquer dúvida a esse respeito pode consultar o excelente "CHUTANDO A ESCADA: A ESTRATÉGIA DO DESENVOLVIMENTO EM PERSPECTIVA HISTÓRICA" (Editora UNESP, 2004), do sul-coreano professor de Cambridge Jo Haan Chang.
A globalização da economia criou um mito de que as políticas industriais se tornariam desnecessárias. A prática tem demonstrado que as políticas de competitividade se mostram imprescindíveis. O que mudou é que ficou mais complexo fazê-las. Mas, apesar de mais difícil, o pior dos mundos é não tê-las.
[A PDP - POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO]
Para o Brasil, é fundamental fortalecer e criar novas vantagens competitivas, e toda iniciativa a esse respeito deve ser apoiada. A PDP [Política de Desenvolvimento Produtivo] não é, como pode parecer a alguns, uma ajuda a setores da indústria. Quem ganha efetivamente é o país, na medida em que favorece o desenvolvimento.
Portanto, não faz sentido a crítica aos subsídios contidos na iniciativa, porque, na verdade, ao desonerar investimentos e a produção, na prática o governo só estará adiando uma receita tributária adicional, que virá via produção, consumo e impostos sobre a renda de salários e lucros.
Para isso, há alguns importantes desafios em pauta.
[DESAFIO 1: O CRESCIMENTO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL]
O primeiro, que veio junto com a globalização nas últimas duas décadas, foi o crescimento do comércio internacional, motivado pela redução das alíquotas de importação, os acordos regionais e bilaterais de comércio, a formação de blocos. A corrente de comércio mundial praticamente dobrou nos últimos dez anos, atingindo a fantástica cifra de US$ 26 trilhões ao ano.
[DESAFIO 2: A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS ECONOMIAS]
O segundo desafio é o da internacionalização das economias. A liquidez mundial e o crescimento do mercado de capitais propiciaram a viabilização das estratégias de expansão das empresas transnacionais. Via fusões e aquisições no exterior, ou novos projetos, essas empresas adquiriram um papel sem precedentes na economia mundial, respondendo por 40% da produção industrial, e mais de 60% das exportações.
[DESAFIO 3: O AVANÇO TECNOLÓGICO]
O terceiro desafio é decorrente da espetacular avanço tecnológico que encurtou a vida útil dos produtos e impulsionou as inovações. Estados nacionais e empresas perceberam a necessidade dos elevados investimentos em pesquisa e desenvolvimento para suportar a necessidade de crescentes inovações, que representam hoje o grande fator de competitividade. Há empresas inovadoras globais que chegam a investir até 10% do seu faturamento em novas pesquisas.
[A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA]
O Brasil se industrializou ao longo do século XX. Foi uma longa luta para vencer os desafios pós segunda revolução industrial e sair de uma atividade agrária para a indústria. O modelo de substituição de importações propiciou a formação de uma indústria diversificada. Nos anos 1990, a intensificação da abertura comercial da economia impôs um novo desafio. A partir da estabilização inflacionária, por outro lado, vulnerabilizou-se parte da cadeia produtiva, especialmente da indústria de transformação. A adesão unilateral a um liberalismo tardio nos fez perder a idéia de projeto nacional.
[REFLEXOS DA TAXA DE CÂMBIO COMO INSTRUMENTO DE ESTABILIZAÇÃO]
O uso da taxa de câmbio como instrumento de estabilização desarticulou a estrutura de preços relativos da economia e amplificou o problema da competitividade.
[A NECESSIDADE DE MODERNIZAÇÃO INDUSTRIAL]
Urge tomar medidas para ampliar os investimentos e modernizar o tecido industrial brasileiro. É preciso fortalecer os setores nos quais já possuimos vantagens competitivas e construir novas competências em outros setores. Há muito que se fazer para estimular a inovação e a modernização das empresas brasileiras.
Da mesma forma, é possível influenciar as estratégias das empresas transnacionais já em operação no Brasil para fortalecê-las na cadeia produtiva internacional.
Também, é importante estabelecer ações para atrair novos investimentos, especialmente em áreas nas quais temos evidentes debilidades, assim como privilegiar atividades que agreguem valor localmente e que possam promover saltos qualitativos em exportações nas áreas mais dinâmicas do comércio internacional.”
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